domingo, 10 de fevereiro de 2019

JBC ENFIM LANÇA “A ROSA DE VERSALHES”


                A Editora JBC começa o ano de 2019 trazendo uma das mais clássicas e famosas obras dos quadrinhos japoneses: A ROSA DE VERSALHES! A obra máxima da mangaká Ryoko Ikeda finalmente chegará aos fãs e leitores neste mês de fevereiro, com o lançamento de suas primeiras edições. E, para festa dos fãs, virão logo de uma vez os dois primeiros volumes da série, que terá um total de 5 volumes na versão nacional, de modo que a espera para os fãs será mais do que compensada.
                Não que a espera dos fãs tenha sido tão grande assim, se comparada a outra obra icônica trazida pela editora, Akira, que levou praticamente dois anos entre o anúncio e o primeiro volume ser lançado, e olhe que a obra ainda não terminou de ser publicada, devido ao complicado sistema de aprovação da mesma entre a editora japonesa e o autor da obra, Katsuhiro Otomo. Rosa de Versalhes foi anunciada em março do ano passado, de modo que ao completar um ano do anúncio, os fãs já terão em mãos os dois primeiros volumes. Uma espera razoável, mas muito compensadora.
                Primeiro, porque a JBC conseguiu trazer uma série muito famosa, mesmo que antiga, uma vez que títulos de maior idade de existência tem se tornado bem raros no mercado, que tem focado em séries mais atuais. E Rosa de Versalhes é uma excelente obra, que prestes a completar em breve 50 anos de existência, continua muito famosa e atrativa, comprovando que boas histórias jamais envelhecem.
                Criada por Ryoko Ikeda, a série foi publicada inicialmente entre 1972 e 1973 no Japão, pela editora Shueisha, na antologia Margaret, totalizando 10 volumes encadernados, com o nome de Berusaiyu no Bara. A história se passa na França, no século XVIII, antes dos tempos turbulentos da Revolução Francesa. A história mistura personagens históricos com os criados por Ikeda, para conceber a saga de Oscar François de Jarjayes, que se torna comandante da Guarda Real do Palácio de Versalhes. Oscar é filha de François Augustin Regnier de Jarjayes (que existiu de verdade), general das forças militares francesas que, decepcionado por não ter conseguido prover um filho homem (já tinha tido 5 filhas), resolve criar sua caçula como se fosse um homem, dando-lhe inclusive um nome masculino, Oscar, com o objetivo de que ela mantenha a tradição militar da família.
                Assim, Oscar, desde a mais tenra idade, passa a receber uma educação masculina, inclusive sendo instruída nas artes militares e desenvolvendo habilidades de combate, como a esgrima. Aos 14 anos de idade, ela decide aceitar o destino imposto por seu pai, e parte para Versalhes, para dar início à sua carreira militar, acompanhada de André Grandier, neto de sua babá, e seu serviçal, começando a servir à nobreza francesa. Com a chegada de Maria Antonieta à corte de Versalhes, fruto de um casamento arranjado entre a França e a Áustria, Oscar logo é designada para proteger a futura rainha da França, e a partir dali, Oscar vai tomando contato com o ambiente da nobreza francesa em suas melhores e piores qualidades, como conspirações, traições, indiferença, triângulos amorosos, etc. Ao mesmo tempo, ela passa a ter contato também com as difíceis condições de vida da população, em contraste à imensa opulência dos palácios, onde seus ocupantes cada vez mais pensam e defendem apenas seus interesses, ignorando os sofrimentos do povo.
                Oscar também vive em dilema consigo mesma. É uma mulher, mas tem de agir como um homem, pois assim tem acesso e condições de agir que nunca teria como mulher. Mas, ao mesmo tempo, não renega sua verdadeira natureza feminina, usando-a quando necessário, o que não a impede de acabar sendo alvo de muitas paixões por parte de outras mulheres, nem de se apaixonar por outros homens. Oscar se revela uma personagem forte e complexa, que de início não parecia tão cativante ou poderosa, mas que cresceu conforme a hitória fluía e se desenvolvia, cativando cada vez mais os leitores japoneses, em uma época onde as mulheres raramente tinham tal destaque na sociedade nipônica. A idéia original de Ikeda era fazer uma versão biográfica em mangá de Maria Antonieta, com Oscar sendo uma personagem de apoio. Contudo, Oscar foi se tornando cada vez mais a estrela da história, pela aceitação do público à personagem, o que tranquilizou seus editores, que não gostavam da idéia da série centrar-se na futura rainha da França. Ao mesmo tempo, por ser uma personagem fictícia, Oscar oferecia maiores liberdades criativas do que Maria Antonieta, cujo fim, por se tratar de uma figura histórica, já tinha seu destino final conhecido desde o início. Assim, Ikeda pode trabalhar com maior criatividade no desenvolvimento da história com seus personagens, enquanto a França vivenciava os acontecimentos que iriam desencadear a Revolução Francesa, com a história da série ocorrendo à sombra destes fatos históricos.
                O sucesso rendeu uma versão em anime de Rosa de Versalhes, produzida pela Tokyo Movie Shinsha, que foi exibida pela Nippon Television Network de outubro de 1979 a setembro de 1980. Houve também um especial de TV, e um longa-metragem animado para cinema, que nada mais é do que um resumo da série de TV. Mas, antes mesmo desta animação ser produzida, Oscar já havia ganhado um filme protagonizado por atores, produzido em 1978/1979 pela Toho e pela Kitty Films na própria França, país retratado na história, com a atriz Catriona MacColl no papel de Oscar François de Jarjayes, e Barry Stokes como seu serviçal André Grandier. Apesar de ambientado com fidelidade ao mangá, o filme não fez sucesso, enquanto a série animada acabou sendo exportada para vários países, em especial França e Itália, assim como o mangá, fazendo grande sucesso em vários lugares. Oscar ganhou inúmeras referências nas mais variadas obras e séries da cultura pop/nerd nipônicas e de outros países, e o famoso Teatro de Takarazuka no Japão produz até hoje adaptações e apresentações baseadas nos personagens da série.
                A série de anime de Rosa de Versalhes foi lançada oficialmente no Brasil na primeira metade dos anos 1990, sob o título “Lady Oscar”, mas apenas em VHS, pela distribuidora Europa Filmes, que lançou aqui os primeiros episódios da produção animada, que ficou incompleta, e nunca foi exibida na TV. A distribuidora lançou também o longa animado em VHS, onde pelo menos se podia ver o destino dos personagens. Até hoje esta série não voltou a ter cogitado o seu lançamento ou exibição por aqui, podendo ser encontrada apenas com legendas eem português via fansubbers.
                Com o advento da publicação das séries de mangá setornando um hit comercial no mercado editorial nacional a partir dos ano 2000, muitos que tiveram chance de ver o quadrinhos da série ou a animação, mesmo que no idioma nipônico, passaram a nutrir esperanças de ver a série ser publicada por aqui, já que, mesmo com o boom da animação japonesa promovido nas TVs nacionais a partir de 1994 pela série “Cavaleiros do Zodíaco”, “Lady Oscar” nunca entrou na lista de séries adquiridas para exibição aqui, mesmo com os lançamentos dos episódios no mercado de vídeo, onde infelizmente não provocaram nenhuma atração incomum, ao contrário das séries de tokusatsu lançadas alguns anos antes que viraram febre no mercado de VHS, levando-as a serem exibida nas emissoras de TV da época.

               Infelizmente, o tempo foi passando, passando, e cada vez mais, as editoras que dominavam o mercado de séries de mangás em nosso país iam concentrando cada vez mais seus lançamentos em obras recentes, com raras exceções. Dificuldades para lançar mesmo séries famosas já conhecidas pelo público amante de animação japonesa continuavam a ser um entrave considerável. E então ainda vimos nossa economia entrar em crise, o que só complicava ainda mais a situação, pois a lógica apontava ainda mais para o lançamento de séries mais viáveis economicamente, para garantir o sucesso da empreitada. Mas apesar dos empecilhos, alguns títulos mais “antigos” nunca saíram do radar, e a JBC, que já havia conseguido superar inúmeros percalços para lançar Akira, eis que surpreendeu a todos ao anunciar que a obra máxima de Ryoko Ikeda finalmente chegaria ao Brasil. Enfim, os fãs tiveram motivos para comemorar. Muitos até esperavam que a editora conseguisse trazer Rosa de Versalhes a tempo de lançar na CCXP 2018, como conseguira fazer com Akira, mas não foi possível. Um dos motivos foi que a produção dos volumes, apesar de mais simples, burocraticamente falando, do que a obra de Katsuhiro Otomo, por outro lado, deu maior trabalho em virtude da confecção do projeto gráfico da edição brasileira ser totalmente nacional, uma vez que os japoneses não mandaram nenhum material personalizado para esse fim.
                Mas nem por isso o leitor poderá reclamar. A edição nacional de A Rosa de Versalhes erá publicada no mesmo formato diferenciado com o qual a editora lançou Akira, e o relançamento de Battle Angel Alita. Os 10 volumes iniciais foram transformados em 5 volumes, no formato 13,2 cm por 20,0 cm, com o miolo em papel luxcream, o mesmo usado em Akira. O volume 1, que equivale às edições 1 e 2 originais, terá nada meno dos que 408 páginas. Já o volume 2, com o conteúdo das edições 3 e 4 do mangá, terá 376 páginas. Os dois volumes, que já podem ser adquiridos em pré-venda, estão sendo vendidos pelo preço de R$ 43,90. Pode parecer salgado, mas é preciso lembrar que cada edição equivale a dois volumes originais japoneses, cujo preço de edições similares no mercado editorial nacional chega próximo de R$ 20,00, para não mencionar que o acabamento é superior ao de uma edição “convencional” do mesmo formato, de forma que o preço cobrado é bem justo pela qualidade gráfica e apresentação da série.
                Enquanto os fãs e leitores nacionais aguardam para poderem enfim conferir o mangá original da série concebida por Ryoko Ikeda, no Japão houve até uma nova publicação, intitulada Berusaiyu no Bara Gaiden, uma coletânea de contos da série, nos anos 1970 e 1980. Mais recentemente, Ikeda produziu Eikou no Napoleon – Eroica, uma continuação da série original, com aparição de alguns dos personagens remanescentes. Esta série ainda está em produção, e por enquanto, não há planos da JBC de publicá-la por aqui. Mas, quem sabe no futuro, dependendo do sucesso que o lançamento de Rosa de Versalhes possa obter? Que os leitores e fãs brasileiros possam apreciar esta clássica obra dos quadrinhos japoneses, e que a JBC possa continuar surpreendendo, e trazendo mais séries famosas antigas dos mangás.

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