domingo, 16 de julho de 2017

ANTIGOS FILMES DA MARVEL GANHAM VERSÃO EM DVD



                Os filmes de super-heróis viraram hit na indústria cinematográfica nos últimos 15 anos, e hoje, não há temporada onde algum título, ou vários deles, não estejam no cronograma de lançamentos, sendo impacientemente aguardados pelos fãs, com grandes ou poucas expectativas, dependendo do personagem que será adaptado, e das informações da história que será apresentada. Com faturamentos milionários, e até bilionários em alguns títulos, os fãs destes personagens vivem o paraíso e o inferno com tantos lançamentos. Todos adoram quando os heróis são adaptados com fidelidade, ou no mínimo, respeitam a sua essência, e mesmo com algumas mudanças, apresentam uma boa história. Por outro lado, quando a coisa não é bem feita, há o desapontamento, e até a frustração, quando a produção esperada ou não respeita a história do personagem, ou derrapa feio na construção da aventura que ele deveria viver.
                Mas, filmes de super-heróis são mais antigos do que muitos da atual geração de fãs imagina. Desde os seriados veiculados nos cinemas, nos idos da década de 1930, até os dias atuais, muitos heróis de quadrinhos já ganharam as telas de tempos em tempos, com resultados variados. Estes filmes não eram produzidos no ritmo que se vê atualmente, até porque, então, este tipo de produção não era considerado capaz de produzir sucessos de bilheteria, o que não quer dizer que alguns produtores e estúdios não tentassem a sorte, assim mesmo. E agora, duas destas produção antigas estão ganhando nova chance de serem revistas no mercado de vídeo nacional, através da distribuidora Vinyx Multimidia, que está lançando os filmes do Justiceiro e do Capitão América, heróis da Marvel Comics.
                O JUSTICEIRO foi produzido em 1989, pela New World Pictures, com direção de Mark Goldblatt e produção de Robert Mark Kamen. No papel-título, interpretando Frank Castle, estava o ator Dolph Lundgren, que havia feito o papel de Drago, o adversário rival de Rocky Balboa no filme Rocky IV. Na época, a fama do justiceiro andava em alta na Marvel, com o anti-herói que executava impiedosamente seus inimigos ganhando cada vez mais aventuras, e mais de um título regular sendo publicado pela Marvel Comics. Na caracterização, até que Lundgren caía bem como o personagem. Mas a história do filme não era nem um pouco cativante, resumindo-se a uma luta contra mafiosos que querem tomar o submundo de Nova Iorque, com confrontos com a Yakuza, e com Castle tendo de se aliar a seu ex-parceiro de polícia, o tenente Jake Berkowitz (interpretado por Louis Gossett, Jr.), para resolver a parada, antes que a guerra de facções crie um banho de sangue na metrópole.
                Com um orçamento de cerca de US$ 9 milhões, e rodado em Sidney, o filme recebeu muitas críticas dos fãs. Em nenhum momento o Justiceiro chegava a usar o seu uniforme com a caveira, apesar de ter sido creditado a ele a execução de pelo menos 125 bandidos na história, e sua motivação e a razão de ter se tornado um matador de criminosos, em uma guerra de um homem só contra os bandidos, devido à sua família ter sido executada por criminosos, foi muito pouco e mal explorada na história. Não ajudou muito a interpretação de Dolph, que foi considerada insossa e chata. Nem as sequências de luta ou os tiroteios dos confrontos escapavam das críticas. De se elogiar o fato de Lundgren ter realizado por si mesmo todas as sequências de ação do filme, dispensando o uso de dublês.
                Já CAPITÃO AMÉRICA foi produzido em 1990, por uma junção das companhias 21st Century Film Corporation, Jadran Film, Marvel Enterprises, e Paramount Pictures. A direção foi de Albert Pyun, com produção de Joseph Calamari, Menahem Golan, Tom Karnowski, e Stan Lee. Com orçamento de US$ 10 milhões, o filme foi rodado nos Estados Unidos e na Iugoslávia, com Matt Sallinger interpretando o Capitão América e sua identidade civil, Steve Rogers. Apesar dos esforços de Sallinger em tentar convencer como o herói da Segunda Guerra Mundial, tal como no filme do Justiceiro, o roteiro e os recursos técnicos mal utilizados e com efeitos especiais muito aquém do necessário, mostraram que não seria dessa vez que o Capitão teria o tratamento que merecia numa produção de cinema. Muitas mudanças foram feitas na história, começando pela origem do Caveira Vermelha, que neste filme, nem alemão era, sendo um jovem italiano que acaba sendo forçado a participar de um experimento destinado a criar o nazista supremo, com o qual as forças do Eixo derrotariam os Aliados no conflito global. Mas a criadora do processo, ainda experimental, foge para os Estados Unidos, onde oferece seus serviços ao governo americano, que com sua fórmula cria o Capitão América, sua arma contra a tirania, e contra o perverso Caveira, que apesar do processo incompleto deixado pela cientista, foi criado pelos nazistas assim mesmo.
                Num festival de atropelos, o Capitão recém-criado já é enviado contra o Caveira Vermelha, sendo derrotado, e por um acidente do destino, ao evitar que Washington fosse bombardeada pelos alemães, acaba indo parar no meio do círculo ártico, ficando congelado até os dias atuais, quando acaba encontrado e revivido, e precisa deter novamente o Caveira, agora na identidade de um mafioso que pretende derrubar e conquistar o governo dos EUA, sequestrando seu presidente. Esta produção, que teve um desenvolvimento bem tumultuado nos anos anteriores à sua realização, em virtude de direitos autoriais e problemas de direção entre as companhias de filmagem envolvidas, também levou diversas críticas dos fãs e especialistas.
                Por mais que ambos os filmes não despertem a comoção da grande maioria dos fãs, foram as primeiras grandes produções de cinema a retratarem o Justiceiro e o Capitão América. No Brasil, o filme do Justiceiro acabou sendo lançado nos cinemas, e posteriormente no mercado de vídeo, em VHS. Já o filme do Capitão seguiu direto para o mercado de vídeo, nem tendo sido lançado nos cinemas. E agora os fãs nacionais terão a chance (ou o desprazer) de rever estes dois filmes em DVD, através da Vinyx Multimidia, que ao menos está trazendo ambos em uma apresentação muito bem feita. Ambos os filmes, apresentados como edição de luxo limitada, vêm com luvas de qualidade excelente, com artes diferente da que ilustram os estojos plásticos. Ambos os filmes, que estão sendo oferecidos pelo preço de R$ 29,90, trazem opção de áudio em inglês, português e espanhol, com direito a legendas nestes últimos dois idiomas. De extras, trazem os trailers de cinema e galeria de fotos, sendo que o filme do Capitão traz até alguns cards de brinde. O filme do Justiceiro já se encontra à venda em algumas livrarias e lojas on-line, como a Saraiva, e a Livraria Cultura, enquanto o filme do Capitão deverá serdisponibilizado para venda neste mês de julho.
                Mesmo que os filmes não sejam grande coisa, o lançamento deles por parte desta distribuidora é louvável, por oferecer estas produções no mercado de vídeo nacional com um tratamento mais decente do que muitas outras distribuidoras tem feito em relação a alguns filmes do gênero, que bons ou ruins, merecem ter a chance de serem lançados e devidamente avaliados e aproveitados pelo público. Tanto este filme do Justiceiro quanto o do Capitão América nunca haviam sido lançados em mídia digital no Brasil, ficando restritos aos lançamentos em VHS em suas respectivas épocas. Que a empreitada da Vinyx seja bem-sucedida, e possam trazer muitos outros lançamentos interessantes na área para o público consumidor.


quinta-feira, 29 de junho de 2017

MYTHOS REPUBLICA A ORIGEM DE ZAGOR EM EDIÇÃO ESPECIAL



                Os fãs de quadrinhos da Bonelli Comics tem uma boa notícia da Mythos Editora para o mês de julho: Zagor, o herói conhecido como “Espírito da Machadinha”, ganhará uma nova série pela editora, e a edição de estréia traz nada menos do que a origem do personagem, numa excelente oportunidade para quem ainda não conhece o herói de conhecer sua história e motivação para enfrentar os maus sujeitos na época onde vive. ZAGOR – VOLUME 01, será lançada no formato 13,5 x 17,6 cm, com 160 páginas, pelo preço de R$ 29,90. E o melhor de tudo, com a história completamente em cores. Esta aventura foi lançada nas edições 55 e 56 do título original italiano. Os roteiros são de Guido Nolitta, Moreno Burattini e Maurizio Colombo, com a arte de Gallieno Ferri, que também assina o desenho da capa desta edição especial.
                Em um dia monótono marcado pela chuva, Chico resolve arrumar a cabana que divide com seu amigo Zagor. Quando o simpático barrigudo encontra um quadro que imagina ter seu amigo retratado, lembranças brotam na mente de Zagor, trazendo tristes memórias de sua vida. Após a insistência de Chico em saber mais sobre seu amigo, que confessa que o homem no quadro que se parece com ele era seu pai, junto de sua mãe, Zagor conta a Chico a triste história de seu passado, desde quando ele era menino, e se chamava Patrick Wilding, e morava com o pai, Michael Wilding, e a mãe, Betty, numa cabana às margens do rio Clear Water. Apesar das dificuldades do lugar, eles viviam felizes, como qualquer família, quando, num dia terrível, os Wilding foram atacados e mortos pelos índios abenakis, liderados por um homem branco, Salomon Kinsky. Escapando com vida do massacre após ter sido jogado pelo próprio pai no rio, o jovem acaba salvo por um andarilho que vivia nas florestas. Jurando vingança, o futuro Rei de Darwood não conseguia aplacar a sua sede de vingança. Passando a viver com Fitz, seu novo amigo, Patrick adquiriu muitos conhecimentos, inclusive aprendendo a usar habilmente uma machadinha, tanto para atacar quanto para se defender. Aprendendo a viver em meio à natureza, e viajando para muitos lugares, ele nunca esqueceu a promessa de que fez de vingança contra aquele que matou seus pais, até que, um dia, ele finalmente encontra pistas desta pessoa, e parte para o acerto de contas. Mas, quando viu-se finalmente frente a frente com Kinsky, esse encontro mudaria para sempre a sua vida, mas não da maneira como ele imaginava.
Descobrindo fatos que ignorava, o rapaz levara adiante uma vingança que o levou a cometer um massacre tão terrível quanto o que vitimou seus pais. Decidido a se redimir do ato, ele passa a defender todos aqueles que encontra pela frente, caso estejam sendo injustamente atacados, levando justiça às áreas selvagens por onde perambula. Ao encontrar-se com uma família de artistas, estes o ajudam a criar uma identidade para que seus adversários temam enfrentá-lo. Aprendendo novas habilidades e obtendo novos conhecimentos, ele adota o nome Za-Gor-Te-Nay, que no dialeto dos índios algonquinos, significa “Espírito da Machadinha”, em referência à arma que aprendeu a manejar com extrema destreza com seu falecido amigo Fitz. Aparecendo em meio a uma reunião do conselho de várias tribos indígenas, trajando uma roupa que passa a ser sua marca pessoal, Zagor estabelece sua posição como defensor da justiça perante índios e brancos, e que defenderá aqueles que forem vítimas da injustiça, seja praticada pelos homens brancos, ou pelos índios. Passando a viver na floresta de Darkwood, onde ergue sua cabana, ele se torna o protetor do local e das regiões em volta, passando a enfrentar os mais variados perigos da época, chegando até a enfrentar algumas ameaças quase sobrenaturais. Não por acaso, devido às suas vestes, Zagor pode ser considerada uma série que mescla elementos de faroeste com o gênero dos super-heróis.
A exemplo de outros defensores das selvas, como o Fantasma, Zagor não possui superpoderes, mas é extremamente hábil em lutar, e maneja sua machadinha como ninguém. E, no melhor estilo do Espírito-Que-Anda, procura impor sua aura como enviado dos deuses indígenas para que o desejo de paz seja exercido entre todos. Isso já é o bastante para que muitos desordeiros tremam ao ouvir seu nome, considerando-o um enviado de Manitu, divindidade indígena. Mas, claro, sempre existem aqueles que precisam ser convencidos pelos punhos do herói a desistirem de seus feitos ruins. A seu lado, está Chico, um amigo barrigudo, e sempre atrapalhado, que serve de alívio cômico em diversos momentos, mas que é um amigo leal e que está sempre com Zagor em suas aventuras.
O personagem foi criado pelo próprio Sergio Bonelli em 1961, sob o pseudônimo de Guido Nolita, passando a estrelar uma série mensal que se mantém até hoje na Itália. No Brasil, Zagor estrearia somente em 1978, publicado inicialmente pela Vecchi, que já editava por aqui o maior sucesso editorial da Bonelli Comics, a série de faroeste Tex, que tal como no seu país de origem, tornara-se carro-chefe dos títulos da Bonelli em nosso país. Em 1983, após 55 edições, o título foi cancelado pela falência da Vecchi, para retornar somente em 1985, agora pela RGE, que já havia assumido a publicação de Tex. As aventuras de Zagor permaneceram na editora, agora chamada Globo, até 1988, quando o título foi descontinuado, após 38 números. No ano seguinte, Zagor passou a ser publicado pela Editora Record, que lançaria 64 edições regulares, além de vários especiais, até 1996, quando o protetor de Darkwood ficou novamente sem ser publicado. Em 1999, a Mythos Editora, que havia assumido a publicação da série Tex, assumiu também a série de Zagor, que permanece na ativa até hoje, com mais de 170 edições regulares, com várias edições especiais, além da série Zagor Extra, com mais de 120 edições lançadas.
                A história que a Mythos está trazendo nesta edição de estréia já foi publicada duas vezes em nosso país. A primeira vez foi na edição de estréia da publicação pela Vecchi. A segunda vez ocorreu em 1989, quando a Editora Record seguiu o exemplo da Vecchi, e republicou a origem do herói na sua primeira edição pela editora. As duas publicações, contudo, foram feitas com o miolo da publicação em preto-e-branco, padrão das revistas Bonelli até hoje em nosso país, mesmo na Mythos, à exceção das edições especiais que são lançadas. E, justamente por nunca ter republicado esta história, que a Mythos a está lançando agora no início da nova coleção de Zagor, pela primeira vez completamente colorida no Brasil, que poderá ser apreciada não apenas pelos leitores mais antigos do herói, como pela atual geração de fãs de quadrinhos, que nunca souberam como se deu início a saga aventureira de Zagor, cujas aventuras seguem ininterruptas até hoje na Itália, e que continue assim em nosso país, pela Mythos, que faz deste um excelente lançamento, em comemoração a seus 20 anos de existência. Vida longa a Zagor, com direito a seu grito de guerra: "AAHHYAAKK!"!

TIO PATINHAS GANHA EDIÇÃO ESPECIAL DE 70 ANOS



                A Editora Abril continua caprichando em suas edições especiais dedicadas aos quadrinhos Disney, e neste fim de junho, está lançando mais uma, dedicada especialmente ao Tio Patinhas, personagem que está completando nada menos do que 70 anos de sua primeira aparição. TIO PATINHAS – 70 ANOS, é uma edição no formato 16,1 x 23,7 cm, com lombada quadrada, capa dura, e miolo em papel couché, com cerca de 400 páginas, que está chegando às bancas e livrarias, pelo preço de R$ 69,90, e traz uma seleção de histórias escolhidas a dedo em ordem cronológica, mostrando as mais variadas aventuras do pato mais rico do mundo e de Patópolis.
                São nada menos do que 25 histórias, concebidas pelos mais variados artistas e desenhistas, entre os quais Tony Strobl, Daan Jippes, Giogio Cavazzano, Carlo Panaro, Marco Rota, Lars Jensen, Romano Scarpa, além dos brasileiros Ivan Saidenberg, Irineu Soares Rodrigues, entre muitos outros. E, claro, não poderiam faltar Carl Barks, o criador do Tio Patinhas, e seu mais reconhecido “sucessor”, Keno Don Rosa. Uma seleção de aventuras feita por Paulo Maffia, editor dos quadrinhos Disney na Abril, e por Edenilson Rodrigues e Rivaldo Ribeiro, do site Planeta Gibi (www.planetagibi.com.br), pra fã nenhum do quaquilionário pato botar defeito.
                A edição ainda é recheada de diversos textos informativos sobre o Tio Patinhas, explicando a origem do personagem, as inspirações para a sua criação, como sua personalidade evoluiu, o sucesso editorial que se tornou ao longo dos anos, entre muitas outros detalhes e curiosidades. Um prato cheio para qualquer amante dos quadrinhos, dissecando a trajetória deste personagem ao longo das últimas sete décadas.
                Entre as histórias que compõem esta edição especial não poderia faltar “Natal nas Montanhas”, publicada originalmente em dezembro de 1947, e que é considerada oficialmente a estréia do personagem. Entre as demais aventuras, temos “Em Busca do Ouro”, considerada por muitos a melhor história Disney já produzida nas HQs, e “Uma Pedra no Caminho”, que serve de sequência aos eventos daquela história. Outras histórias mostram a estréia de Brigite, “namorada” que pretende levar Patinhas para o altar, uma aventura da série Ducktales, outra com o pessoal na redação da “A Patada”, com sobras para o antológico Pena Kid, e pelo menos duas histórias completamente inéditas, para deleite dos fãs e leitores brasileiros.
                Estreando na história “Natal nas Montanhas”, publicada na edição Nº 178 da revista Four Color Comics, da Dell Comics, em dezembro de 1947, o personagem, criado por Carl Barks tendo como inspiração básica o personagem Ebenezer Scrooge da história “Um Conto de Natal”, do escritor Charls Dickens (tanto que seu nome original em inglês é Scrooge McDuck), era para ter uma aparição única nos quadrinhos. Tanto que o tio Patinhas da primeira história possui até um visual diferente do que seria visto depois, e era tremendamente mal-humorado, ranzinza, e avarento, tal qual o personagem ganacioso de Dickens, inclusive detestando a comemoração do Natal, a ponto de aprontar uma com Donald e seus sobrinhos, apenas para se divertir e espantar o tédio que o assolava em sua rica mansão. Deveria ser assim, mas Carl Barks viu que o personagem podia ser aproveitado em outras histórias, e logo, cerca de seis meses depois, surgia “O Segredo do Castelo”, onde o Tio Patinhas já era mostrado muito mais cordial e sem se mostrar tão avarento e ganancioso, vivendo uma aventura empolgante e até arrepiante ao lado de Donald e seus sobrinhos, sendo considerada até hoje uma das histórias mais clássicas do personagem.
                Para os leitores brasileiros, esta aventura foi também a estréia do Tio Patinhas nas publicações Disney nacionais, já que a história foi publicada logo na primeira edição da revista “O Pato Donald”, ainda que em parte, em 1950, o primeiro título Disney, e a primeira revista publicada pela então recém-fundada Editora Abril. A história seria concluída na edição 3 da revista, terminando, por assim dizer, de apresentar ao público leitor nacional aquele que viria a ser o pato mais rico do mundo. Carl Barks já dava um grande passo nesta aventura ao definir o personagem, contando parte de suas origens na Escócia, bem como de sua família, durante a busca de um tesouro escondido por um de seus antepassados no castelo ancestral do clã. O visual do personagem também já era diferente, mais próximo do que conhecemos hoje. Curiosamente, em sua primeira aventura em nosso país, o nome completo do personagem foi apresentado como Patinhas McAnjo. Só mais tarde a adaptação do nome seria mudada para Patinhas McPatinhas (embora a adaptação e tradução mais correta, para alguns, seria Patinhas McPato).
                Como Carl Barks previra, sua criação mostrou ser mesmo uma mão na roda para estrelar outras aventuras, a ponto de ele ganhar suas próprias histórias, tornando-se o personagem principal, e não um coadjuvante. E o sucesso do Tio Patinhas nunca mais parou de crescer, surpreendendo até mesmo seu criador, que a princípio não achava que ele tivesse potencial para tanto. No Brasil, o sucesso se repetiu, e em 1963, a Abril lançaria o Almanaque Tio Patinhas, que se tornaria também um sucesso no rol de publicações de quadrinhos Disney da editora, sendo publicado até hoje, agora apenas com o título “Tio Patinhas”, encontrando-se já neste mês de junho de 2017 na sua 625ª edição.
                Ao longo destes 70 anos, as histórias do Tio Patinhas já foram desenvolvidas sob as mais variáveis matizes, com o pato mostrando suas complexas facetas, sendo ora ganancioso (e até um pouco vilão nas tramas), avarento ao extremo, simpático, ranzinza, aventureiro, empreendedor, um pato de família, etc. De longe, as grandes aventuras pelo mundo inteiro são as mais lembradas, mas mesmo em Patópolis, o quaquilionário, já elevado à categoria de pato mais rico do mundo, não tem um minuto de sossego. Quando não está enxotando picaretas que querem dinheiro emprestado, ele precisa defender sua imensa caixa-forte, onde guarda seu rico dinheirinho, das investidas incasáveis dos Irmãos Metralhas, os mais notórios bandidos da cidade, que decidiram fazer de seu objetivo de vida assaltar o velho muquirana... Afinal, por que se contentarem em roubar galinhas, joalherias, bancos, ou lojas, quando uma montanha de três acres cúbicos de dinheiro está à vista? Para azar deles, o Tio Patinhas defende suas posses com mais vigor e determinação do que eles imaginavam, e seu bacamarte está sempre à mão para mandar uma carga dolorosa de sal grosso nos bandidos, nunca estando desabastecido de munição. E como desgraça pouca é bobagem, o pato muquirana ainda precisa proteger-se dos ataques da bruxa Maga Patalógica, que deseja roubar sua moedinha Nº 1, e usá-la para fazer um amuleto que a tornará a mais rica e poderosa feiticeira do mundo. E para isso, ele precisa estar sempre atento às tramóias da bruxa, sozinho, ou na companhia de Donald e seus sobrinhos. E, quando não são os Metralhas ou a Maga, são as disputas do mundo dos negócios, especialmente com seus arquirrivais Pão-Duro McMônei, ou John Pacatôncio, que não desistem de sobrepujar o melho pato no mundo econômico, e tirar dele o título de pato mais rico do mundo. Mas, como o Tio Patinhas sempre diz, ele ficou rico sendo mais esperto que os espertos, e mais durão do que os durões, e está sempre pronto para sobrepujar as armadilhas arrumadas por seus adversários, sejam elas quais forem, e sair-se vitorioso no final. Afora isso, Patinhas está sempre ocupado com outros afazeres, sendo visitando a Vovó Donalda em seu tranquilo sítio, metendo bronca no Gastão por ele não trabalhar, confiando sempre em sua sorte absurda, conduzindo o jornal “A Patada”, entre outras peripécias. A lista é imensa. Haja fôlego para dar conta de tudo. E haja disposição dos leitores para conseguir acompanhar tantas histórias e aventuras com o mesmo vigor que o personagem demonstra, mesmo após 70 anos de sua primeira aparição numa história em quadrinhos.
                Apesar do sucesso, nos desenhos animados, Patinhas só foi ter mesmo o devido destaque com o lançamento da série Ducktales, em 1987, sendo praticamente a estrela da série, protagonizando diversas aventuras inspiradas diretamente nas aventuras clássicas criadas por Carl Barks. Sua primeira aparição em animação foi na abertura do Clube do Mickey, mais foi só uma mera aparição na abertura. Em 1967, ele estrelou “A História do Dinheiro”, sendo apenas uma produção em meio a tantas outras da Dsiney. Nos anos 1980, entretanto, sua sorte começava a mudar: ele participou da animação “A Canção de Natal do Mickey”, interpretando o personagem no qual foi inspirado, Ebenezer Scrooge, na adaptação do conto escrito por Charles Dickens. E, pouco antes de Ducktales estrear na TV americana, Tio Patinhas também participaria de uma animação do Pateta, intitulada “Louco por Futebol”, onde também veríamos pela primeira vez os Irmãos Metralhas, seus mais fidagais inimigos, em um desenho animado.
                O personagem ganharia ainda a maior de todas as histórias já desenvolvidas nosso quadrinhos da Disney, na década de 1990, pelas mãos de Keno Don Rosa, o mais famoso desenhista das aventuras da Família Pato depois de Carl Barks. Entre 1992 e 1994, ele produziu para a editora européia Egmont, que publicava HQs Disney no Velho Continente, a história completa do Tio Patinhas, em 12 capítulos, mostrando desde a sua infância, até logo após os eventos passados na primeira aparição do personagem, em 1947. Extremamente rica e detalhada, a “Saga do Tio Patinhas” ganhou o prêmio Eisner, o oscar os quadrinhos, em 1995, como melhor história seriada. Don Rosa ainda deixaria a obra mais completa ao produzir, entre 1996 e 2006, capítulos “extras” da história, revelando novos acontecimentos na vida do pato escocês que deixou sua terra muito cedo na vida para tentar a sorte mundo afora, até se tornar o pato mais rico do mundo. Esta história já foi publicada pela Editora Abril algumas vezes, sendo que da última vez, em 2015, a fez numa belíssima edição de luxo, com capa dura, e quase 400 páginas, o que demonstra a popularidade da história, e principalmente de seu protagonista, que novamente volta a ganhar uma edição tão bela quanto aquela, comemorando seus 70 anos de incríveis histórias, das simples comédias de hábitos do dia-a-dia, às mais tresloucadas, imponentes e épicas aventuras pelo mundo afora, seja procurando tesouros, mistérios, realizando disputas financeiras com seus rivais, duelando com seus inimigos, etc. E, acima de tudo, divertindo todos os seus leitores.
                Uma edição certamente imperdível para os fãs do pato quaquilionário, e um investimento dos mais compensadores para qualquer fã de quadrinhos. Mais uma excelente jogada da Editora Abril, que vem caprichando como nunca no lançamento destas edições especiais.