A Editora Abril continua
caprichando em suas edições especiais dedicadas aos quadrinhos Disney, e neste
fim de junho, está lançando mais uma, dedicada especialmente ao Tio Patinhas,
personagem que está completando nada menos do que 70 anos de sua primeira
aparição. TIO PATINHAS – 70 ANOS, é uma edição no formato 16,1 x 23,7 cm, com
lombada quadrada, capa dura, e miolo em papel couché, com cerca de 400 páginas,
que está chegando às bancas e livrarias, pelo preço de R$ 69,90, e traz uma
seleção de histórias escolhidas a dedo em ordem cronológica, mostrando as mais
variadas aventuras do pato mais rico do mundo e de Patópolis.
São nada menos do que 25
histórias, concebidas pelos mais variados artistas e desenhistas, entre os
quais Tony Strobl, Daan Jippes, Giogio Cavazzano, Carlo Panaro, Marco Rota,
Lars Jensen, Romano Scarpa, além dos brasileiros Ivan Saidenberg, Irineu Soares
Rodrigues, entre muitos outros. E, claro, não poderiam faltar Carl Barks, o
criador do Tio Patinhas, e seu mais reconhecido “sucessor”, Keno Don Rosa. Uma
seleção de aventuras feita por Paulo Maffia, editor dos quadrinhos Disney na
Abril, e por Edenilson Rodrigues e Rivaldo Ribeiro, do site Planeta Gibi (www.planetagibi.com.br), pra fã nenhum
do quaquilionário pato botar defeito.
A edição ainda é recheada de
diversos textos informativos sobre o Tio Patinhas, explicando a origem do
personagem, as inspirações para a sua criação, como sua personalidade evoluiu,
o sucesso editorial que se tornou ao longo dos anos, entre muitas outros
detalhes e curiosidades. Um prato cheio para qualquer amante dos quadrinhos,
dissecando a trajetória deste personagem ao longo das últimas sete décadas.
Entre as histórias que compõem
esta edição especial não poderia faltar “Natal nas Montanhas”, publicada
originalmente em dezembro de 1947, e que é considerada oficialmente a estréia
do personagem. Entre as demais aventuras, temos “Em Busca do Ouro”, considerada
por muitos a melhor história Disney já produzida nas HQs, e “Uma Pedra no
Caminho”, que serve de sequência aos eventos daquela história. Outras histórias
mostram a estréia de Brigite, “namorada” que pretende levar Patinhas para o
altar, uma aventura da série Ducktales, outra com o pessoal na redação da “A
Patada”, com sobras para o antológico Pena Kid, e pelo menos duas histórias
completamente inéditas, para deleite dos fãs e leitores brasileiros.
Estreando
na história “Natal nas Montanhas”, publicada na edição Nº 178 da revista Four
Color Comics, da Dell Comics, em dezembro de 1947, o personagem, criado por
Carl Barks tendo como inspiração básica o personagem Ebenezer Scrooge da
história “Um Conto de Natal”, do escritor Charls Dickens (tanto que seu nome
original em inglês é Scrooge McDuck), era para ter uma aparição única nos
quadrinhos. Tanto que o tio Patinhas da primeira história possui até um visual
diferente do que seria visto depois, e era tremendamente mal-humorado, ranzinza,
e avarento, tal qual o personagem ganacioso de Dickens, inclusive detestando a
comemoração do Natal, a ponto de aprontar uma com Donald e seus sobrinhos,
apenas para se divertir e espantar o tédio que o assolava em sua rica mansão.
Deveria ser assim, mas Carl Barks viu que o personagem podia ser aproveitado em
outras histórias, e logo, cerca de seis meses depois, surgia “O Segredo do
Castelo”, onde o Tio Patinhas já era mostrado muito mais cordial e sem se
mostrar tão avarento e ganancioso, vivendo uma aventura empolgante e até
arrepiante ao lado de Donald e seus sobrinhos, sendo considerada até hoje uma
das histórias mais clássicas do personagem.
Para os leitores brasileiros,
esta aventura foi também a estréia do Tio Patinhas nas publicações Disney nacionais,
já que a história foi publicada logo na primeira edição da revista “O Pato
Donald”, ainda que em parte, em 1950, o primeiro título Disney, e a primeira
revista publicada pela então recém-fundada Editora Abril. A história seria
concluída na edição 3 da revista, terminando, por assim dizer, de apresentar ao
público leitor nacional aquele que viria a ser o pato mais rico do mundo. Carl
Barks já dava um grande passo nesta aventura ao definir o personagem, contando
parte de suas origens na Escócia, bem como de sua família, durante a busca de
um tesouro escondido por um de seus antepassados no castelo ancestral do clã. O
visual do personagem também já era diferente, mais próximo do que conhecemos
hoje. Curiosamente, em sua primeira aventura em nosso país, o nome completo do
personagem foi apresentado como Patinhas McAnjo. Só mais tarde a adaptação do
nome seria mudada para Patinhas McPatinhas (embora a adaptação e tradução mais
correta, para alguns, seria Patinhas McPato).
Como Carl Barks previra, sua criação
mostrou ser mesmo uma mão na roda para estrelar outras aventuras, a ponto de
ele ganhar suas próprias histórias, tornando-se o personagem principal, e não
um coadjuvante. E o sucesso do Tio Patinhas nunca mais parou de crescer,
surpreendendo até mesmo seu criador, que a princípio não achava que ele tivesse
potencial para tanto. No Brasil, o sucesso se repetiu, e em 1963, a Abril
lançaria o Almanaque Tio Patinhas, que se tornaria também um sucesso no rol de
publicações de quadrinhos Disney da editora, sendo publicado até hoje, agora
apenas com o título “Tio Patinhas”, encontrando-se já neste mês de junho de
2017 na sua 625ª edição.
Ao longo destes 70
anos, as histórias do Tio Patinhas já foram desenvolvidas sob as mais variáveis
matizes, com o pato mostrando suas complexas facetas, sendo ora ganancioso (e
até um pouco vilão nas tramas), avarento ao extremo, simpático, ranzinza,
aventureiro, empreendedor, um pato de família, etc. De longe, as grandes
aventuras pelo mundo inteiro são as mais lembradas, mas mesmo em Patópolis, o
quaquilionário, já elevado à categoria de pato mais rico do mundo, não tem um
minuto de sossego. Quando não está enxotando picaretas que querem dinheiro
emprestado, ele precisa defender sua imensa caixa-forte, onde guarda seu rico dinheirinho,
das investidas incasáveis dos Irmãos Metralhas, os mais notórios bandidos da
cidade, que decidiram fazer de seu objetivo de vida assaltar o velho muquirana...
Afinal, por que se contentarem em roubar galinhas, joalherias, bancos, ou
lojas, quando uma montanha de três acres cúbicos de dinheiro está à vista? Para
azar deles, o Tio Patinhas defende suas posses com mais vigor e determinação do
que eles imaginavam, e seu bacamarte está sempre à mão para mandar uma carga
dolorosa de sal grosso nos bandidos, nunca estando desabastecido de munição. E
como desgraça pouca é bobagem, o pato muquirana ainda precisa proteger-se dos
ataques da bruxa Maga Patalógica, que deseja roubar sua moedinha Nº 1, e usá-la
para fazer um amuleto que a tornará a mais rica e poderosa feiticeira do mundo.
E para isso, ele precisa estar sempre atento às tramóias da bruxa, sozinho, ou
na companhia de Donald e seus sobrinhos. E, quando não são os Metralhas ou a
Maga, são as disputas do mundo dos negócios, especialmente com seus arquirrivais
Pão-Duro McMônei, ou John Pacatôncio, que não desistem de sobrepujar o melho
pato no mundo econômico, e tirar dele o título de pato mais rico do mundo. Mas,
como o Tio Patinhas sempre diz, ele ficou rico sendo mais esperto que os
espertos, e mais durão do que os durões, e está sempre pronto para sobrepujar
as armadilhas arrumadas por seus adversários, sejam elas quais forem, e sair-se
vitorioso no final. Afora isso, Patinhas está sempre ocupado com outros
afazeres, sendo visitando a Vovó Donalda em seu tranquilo sítio, metendo bronca
no Gastão por ele não trabalhar, confiando sempre em sua sorte absurda,
conduzindo o jornal “A Patada”, entre outras peripécias. A lista é imensa. Haja
fôlego para dar conta de tudo. E haja disposição dos leitores para conseguir
acompanhar tantas histórias e aventuras com o mesmo vigor que o personagem
demonstra, mesmo após 70 anos de sua primeira aparição numa história em
quadrinhos.
Apesar do sucesso, nos
desenhos animados, Patinhas só foi ter mesmo o devido destaque com o lançamento
da série Ducktales, em 1987, sendo praticamente a estrela da série,
protagonizando diversas aventuras inspiradas diretamente nas aventuras
clássicas criadas por Carl Barks. Sua primeira aparição em animação foi na
abertura do Clube do Mickey, mais foi só uma mera aparição na abertura. Em
1967, ele estrelou “A História do Dinheiro”, sendo apenas uma produção em meio
a tantas outras da Dsiney. Nos anos 1980, entretanto, sua sorte começava a
mudar: ele participou da animação “A Canção de Natal do Mickey”, interpretando
o personagem no qual foi inspirado, Ebenezer Scrooge, na adaptação do conto
escrito por Charles Dickens. E, pouco antes de Ducktales estrear na TV
americana, Tio Patinhas também participaria de uma animação do Pateta, intitulada
“Louco por Futebol”, onde também veríamos pela primeira vez os Irmãos
Metralhas, seus mais fidagais inimigos, em um desenho animado.
O personagem ganharia ainda a
maior de todas as histórias já desenvolvidas nosso quadrinhos da Disney, na
década de 1990, pelas mãos de Keno Don Rosa, o mais famoso desenhista das
aventuras da Família Pato depois de Carl Barks. Entre 1992 e 1994, ele produziu
para a editora européia Egmont, que publicava HQs Disney no Velho Continente, a
história completa do Tio Patinhas, em 12 capítulos, mostrando desde a sua
infância, até logo após os eventos passados na primeira aparição do personagem,
em 1947. Extremamente rica e detalhada, a “Saga do Tio Patinhas” ganhou o
prêmio Eisner, o oscar os quadrinhos, em 1995, como melhor história seriada.
Don Rosa ainda deixaria a obra mais completa ao produzir, entre 1996 e 2006,
capítulos “extras” da história, revelando novos acontecimentos na vida do pato
escocês que deixou sua terra muito cedo na vida para tentar a sorte mundo
afora, até se tornar o pato mais rico do mundo. Esta história já foi publicada
pela Editora Abril algumas vezes, sendo que da última vez, em 2015, a fez numa
belíssima edição de luxo, com capa dura, e quase 400 páginas, o que demonstra a
popularidade da história, e principalmente de seu protagonista, que novamente
volta a ganhar uma edição tão bela quanto aquela, comemorando seus 70 anos de
incríveis histórias, das simples comédias de hábitos do dia-a-dia, às mais
tresloucadas, imponentes e épicas aventuras pelo mundo afora, seja procurando
tesouros, mistérios, realizando disputas financeiras com seus rivais, duelando
com seus inimigos, etc. E, acima de tudo, divertindo todos os seus leitores.
Uma edição certamente imperdível
para os fãs do pato quaquilionário, e um investimento dos mais compensadores
para qualquer fã de quadrinhos. Mais uma excelente jogada da Editora Abril, que
vem caprichando como nunca no lançamento destas edições especiais.
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