domingo, 21 de abril de 2019

FALECEU MONKEY PUNCH, CRIADOR DA SÉRIE “LUPIN III”


                O mundo dos quadrinhos japoneses perdeu no último dia 11 o autor de uma de suas mais clássicas séries, tanto de quadrinhos como de animação. Kazuhito Kato, mais conhecido no meio artístico profissional nipônico pela alcunha de “Monkey Punch”, faleceu aos 81 anos, vítima de uma pneumonia. Natural da cidade de Hamanaka, na ilha de Hokkaido, a mais setentrional das grandes ilhas que formam o arquipélago japonês, Kato nasceu em 26 de maio de 1937, filho de um pescador. Apesar de começar a desenhar muito cedo, ele só começou a seguir a sua vocação artística bem mais tarde, após se mudar para Tóquio, onde foi cursar eletrônica numa escola técnica, após se formar no ensino médio.
                Em 1965, ele fez sua estréia como desenhista de quadrinhos profissional, com uma série chamada Playboy Nyuumo que era publicada na revista Manga Story da editora Futabasha, adotando de início o nome artístico de Eiji Gamuta, após utilizar o próprio nome, mas escrito de forma diferente. Por orientação de seu editor, ele acabou mudando sua alcunha para “Monkey Punch”, e foi com este nome que ele se tornaria famoso, ao criar a série Lupin III, para a revista Weekly Manga Action, tendo estreado em 10 de agosto de 1967. A série fez grande sucesso, e Kato nunca mais teria um trabalho de tanta relevância, apesar de ter feito outras séries de quadrinhos ao longo dos anos. Mas foi mesmo com Lupin III que ele ficaria marcado para toda a vida.
                A série conta as aventuras de Lupin III, neto do famoso “ladrão de casaca” Arséne Lupin, personagem da literatura francesa criado por Maurice Le Blanc na primeira década do século XX. Mantendo a “tradição da família”, Arséne Lupin III viaja o mundo inteiro, roubando tesouros, jóias, e o que lhe aprouver, sendo considerado o maior ladrão do mundo. Ao seu lado, está seu grande parceiro de roubos e aventuras, Daisuke Jigen, um exímio atirador. Completam o time as figuras de Goemon Ishikawa XIII, um mestre espadachim que consegue cortar quase tudo com sua técnica de espada samurai; e Fujiko Mine, uma audaciosa ladra que tem seus próprios interesses e objetivos, sendo por vezes aliada, ou adversária de Lupin em suas aventuras. E atrás de todo este pessoal está o determinado inspetor Kouichi Zenigata, da Interpol, que jurou prender Lupin por seus crimes. Mesclando aventura, drama, suspense, e muito humor, a série não demorou a cativar os leitores japoneses, que passaram a acompanhar com grande afinco os planos de Lupin para roubar seus alvos, e ainda ter de escapar das encrencas advindas destes planos, como ladrões concorrentes, pessoas corruptas, etc, e ainda precisar evitar ser capturado pelo incansável Zenigata, em sua eterna perseguição ao maior ladrão do planeta, que ele prometeu prender nem que fosse a última coisa que fizesse na vida.
                O sucesso do mangá motivou a adaptação da série em animação, pela primeira vez em 1971. Composta de 23 episódios, não fez um sucesso estrondoso, mas o nome de Lupin ganharia uma segunda série de mangá ainda na segunda metade dos anos 1970, e a continuação das aventuras acabou proporcionando também a produção de uma segunda série em animação, que fez o nome do astuto ladrão decolar de vez na cultura pop japonesa. A segunda série de animação rendeu 155 episódios, e as aventuras por vezes audaciosas, e por outras vezes tresloucadas, de Lupin e sua turma também ganharam os cinemas japoneses, ajudando o personagem a ganhar cada vez mais fama e sucesso.
                Lupin ganharia novos longas animados, tanto para cinema como para TV e o mercado de vídeo japonês ao longo dos anos, com novas séries de mangás sendo lançadas também, apesar de Monkey Punch já não se ocupar dos argumentos e roteiros dos quadrinhos. Lupin acabaria por se tornar um clássico da indústria de entretenimento japonesa, tornando-se um sucesso atemporal, ao lado de outras séries que se tornariam icônicas na Terra do Sol Nascente, como Golgo 13, Doraemon, entre outras, ganhando novas produções de tempos em tempos, sendo a mais recente uma nova série de TV produzida no ano passado. O personagem também ganhou até dois especiais onde encontra Conan Edogawa, personagem central de outra série que já se tornou também clássica no Japão, Detective Conan, reafirmando a fama do ousado ladrão.
                No Brasil, a primeira série de anime de Lupin III acabou sendo exibida no extinto canal pago Locomotion. E alguns dos longa-metragens animados do personagem chegaram a ser lançados no mercado de vídeo nacional, com destaque para aquele que é considerado o melhor de toda a série, O Castelo de Cagliostro, dirigido por ninguém menos que Hayao Miyazaki, que anos depois fundaria o renomado e famoso Estúdio Ghibli, que tantas obras-primas da animação nipônica proporcionou. As séries animadas de TV posteriores do personagem continuam inéditas até hoje por aqui, bem como todas as séries de ,mangás produzidas por Monkey Punch. Dos outros trabalhos de Monkey Punch, apenas um outro acabou chegando ao Brasil, e assim mesmo, apenas em versão animada: Cinderella Boy, que ganhou uma produção de 13 episódios que foi exibida no canal pago Cartoon Network na década passada, com o título de “Efeito Cinderela”. A história mostra as aventuras de uma dupla de detetives que, após sofrerem um acidente, tem seus corpos misteriosamente mesclados por um cientista, fazendo com que cada um deles troque de lugar com o outro a cada 24 horas.
                Kato sempre esteve atento à evolução proporcionada pelos avanços tecnológicos, e desde tempos remotos adotou o uso de computador em seus trabalhos profissionais. O artista foi um dos fundadores e presidentes da Digital Manga Association, entidade que defende o uso das tecnologias digitais na concepção e desenvolvimento de séries. Ao longo de sua carreira, Kato foi premiado com vários prêmios, entre eles o AMD Lifetime Achievement Award, e o Tokyo Anime Award Lifetime Achievement Award. Na década passada, estudou animação digital em Tóquio, a fim de melhorar seus conhecimentos no setor.
                Apesar da idade, Monkey Punch mantinha-se ativo, participando dos mais recentes projetos animados envolvendo Lupin III, além de outros trabalhos menos famosos aos olhos do grande público. Lupin III, sua maior obra, provavelmente continuará ganhando novas aventuras no futuro, dada a fama do personagem, e sua importância no mercado de cultura pop japonês, a exemplo de algumas outras obras que seguiram em frente após a morte de seus criadores. Kazuhito Kato pode ter descansado, mas sua maior criação continuará rodando o mundo, afanando seus maiores tesouros com a audácia, determinação e astúcia que o tornaram famoso ao longo das décadas passadas desde sua primeira aventura. Vida longa a Lupin III. E descanse com a sensação do dever cumprido, Monkey Punch!

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