Robotech, uma das mais famosas
sagas de ficção científica em animação, está de volta aos quadrinhos nos
Estados Unidos. A saga da Robotechnologia acaba de ganhar uma nova série mensal
pela Titan Comics, divisão de quadrinhos da editora britânica Titan Books, que
assumiu os direitos de publicação de quadrinhos da série pertencente à Harmony
Gold. A série terá roteiros de Brian Wood, com arte de Marco Turini, com
diversas opções de capas em cada edição. Asérie terá periodicidade mensal, ao
preço de US$ 3,99, e a primeira edição já chegou às comic shops dos Estados
Unidos no início deste mês de agosto.
Robotech foi uma das
séries que iniciou o boom de produções japonesas nos Estados Unidos na década
de 1980, ao lado de Patrulha Estelar. Mas, se a saga do Encouraçado Espacial
Yamato chegou à terra do Tio Sam sofrendo apenas alguns cortes e adaptações
(principalmente nos nomes dos personagens e na nave da história, que de Yamato
passou a se chamar Argo), a situação foi bem mais complicada em relação a
Robotech. Os planos da Harmony Gold eram de exibir somente a série Macross,
produção do estúdio Tatsunoko de 1982. Até aí, a principal mudança seria no
nome do anime, para Robotech, devido ao fato de os brinquedos da série já serem
comercializados nos EUA com o nome de Robotech Defenders. Mas para ser exibida
no esquema de emissoras regionais, que poderia abranger mais o país, a série
não atendia aos requisitos de ter um número de episódios compatível, o que
obrigou a empresa a fazer a união da série Macross com outras duas produções
animadas da Tatsunoko que possuíam um visual parecido nos equipamentos
utilizados pelos personagens. Carl Macek, da Harmony Gold, usou Macross como
base, e reescreveu as histórias das séries Southern Cross e Mospeada,
transformando Robotech em uma história composta de três fases, cada uma delas
correspondendo a cada um destes animes, o que possibilitou então a exibição nas
TVs estadunidenses.
Apesar dessa junção forçada, a
história até mantinha certa coerência e unidade, e fez um grande sucesso em
meados dos anos 1980, inclusive motivando a Harmony Gold a criar uma
continuação, chamada Robotech II: Os Sentinelas, que traria maior coesão à toda
a história. Mas o projeto acabou não se concretizando, e a saga de Robotech em
animação pararia por ali, com exceção de dois longa-metragens animados lançados
posteriormente. Contudo, a série ganhou vida nova com diversas novelizações e
séries de quadrinhos publicadas por diversas editoras estadunidenses, fazendo
Robotech ganhar vida própria e diferenciada de suas séries originais
componentes, tornando-se uma saga de ficção científica com brilho e
complexidade ímpar, apesar dos detratores que criticam o modo como ela foi criada.
Ainda na segunda metade dos anos
1980, e indo até quase o final dos anos 1990, a saga de Robotech, em especial a
série Os Sentinelas, ganhou as comic shops dos Estados Unidos através das
editoras Comico, Eternity Comics, Academy Comics, e Antartic Press, ajudando a
dar não apenas sequência, mas complementando as diversas pontas soltas deixadas
na animação original, decorrentes do fato de serem compostas de séries
diferentes. Na primeira metade dos anos 2000, a Wildstorm produziu uma nova
leva de títulos que foram muito bem recebidos pelos fãs, trazendo aventuras que
se passavam nos diversos momentos da série, com destaque para os eventos que
conduziam ao novo longa Shadow Chronicles, em produção, que encerrava a saga
dos Sentinelas, e iniciava uma nova, que teria na nova produção animada o seu
pontapé inicial.
Infelizmente, o projeto Shadow
Chronicles acabou por ficar restrito somente ao longa animado, lançado no
mercado de vídeo. Os fãs, que tanto esperavam pela continuação da saga, ficaram
a ver navios, esperando que a história fosse retomada. Mais recentemente, em
2013, a Dynamite Entertainment trouxe Robotech de volta aos quadrinhos, mas
participando de um inédito e interessante cross-over com outra série de origem
nipônica que passou por processo de montagem semelhante a Robotech, Voltron
(esta formada pela junção das séries Golion e Dairugger, que também foram
unidas como se fossem uma coisa só, mas por motivos diferentes daqueles que
forçaram a junção de Macross, Southern Cross e Mospeada em Robotech), mas ficou
apenas nisso.
E,
no ano passado, a Titan Books anunciou que estava adquirindo a licença para
produzir uma nova série de quadrinhos de Robotech, o que encheu os fãs de
esperança de possivelmente ver uma continuação das histórias produzidas até
então pelas editoras anteriores, além do desenvolvimento de projetos que a
Harmony Gold tentava lançar, como o projeto Academy. Mas a editora resolveu
que, para início de suas publicações, seria feito uma reinterpretação da série
original, então, a edição número 1 leva os leitores aos acontecimentos vistos
no primeiro episódio da série animada, passados na Ilha Macross, no Pacífico
Sul, palco da aterrissagem de uma gigantesca nave alienígena cujos segredos
foram esmiuçados e desvendados pelos governos da Terra, criando a fantástica
tecnologia Robotech, ou Robotechnologia. Mas não se trata apenas de quadrinizar
os acontecimos vistos na animação. O roteirista Brian Wood faz questão de
afirmar que a nova série é uma visão moderna da história clássica, com
elementos novos em determinados setores da história. Como exemplo, o encontro
de Rick Hunter e seu irmão mais velho, Roy Fokker, na Ilha Macross, não ocorre
de forma tão amigável e fraternal como vista originalmente no anime. Rick, na
verdade, chega até a ser preso por ordem de Roy, que não está feliz em ver seu
irmão de criação aparecer ali justamente naquele momento dos acontecimentos. E
com algumas mudanças nestes pontos-chave, a série deverá ir desenhando o
panorama da saga, já conhecida por muitos fãs, e tentar ao mesmo tempo ganhar
uma nova legião de leitores, alegando que não faria sentido simplesmente
recontar a história que todos já sabem.
Pelo sim, pelo não, se houve
algo que deixou muita gente incomodada foi a arte de Marco Turini, que desagradou
a muitos fãs da série, embora tenha agradado a alguns. Embora se possa
reconhecer todos os personagens, ao tentar desenhá-los no estilo dos comics
ocidentais, Turini não parece ter sido muito bem-sucedido: vários personagens,
em especial as garotas da série, ficaram com um visual horroroso. E não é pelo
fato de desenhar com estilo ocidental personagens criados originalmente em um
anime, cujo estilo de arte costuma ser bem próprio e particular. Quem lembra
das séries de quadrinhos lançadas pela Wildstorm na década passada sente um
impacto tremendo ao ver como o estilo adotado pelo desenhista parece
completamente inadequado para se ilustrar a série, apesar de alguns bons lances
de caracterização. Espera-se que Turini evolua no desenho da saga, se quiser
que a série conquiste de fato os fãs, pois até o presente momento, pela reação
de vários deles, não tiveram uma sensação agradável ao folhear esta primeira
edição, que até contou com uma belíssima arte de capa enfocando Lynn Minmay,
que muitos esperavam ser o estilo de arte do interior da edição, o que não
corresponde à realidade. Nem mesmo a arte aplicada às paisagens escapa,
parecendo ter sido feita de modo rústico e grosseiro.
Sendo a primeira edição da
série, o que os velhos fãs esperam é que a arte fique mais adequada, com Turini
ficando mais à vontade, e evoluindo e aperfeiçoando o traço empregado para
ilustrar as histórias, já que ainda não dá para falar muito a respeito do
roteiro deste primeiro número, que se não destoa do que já foi visto na
animação, até que merece uma chance de ver como o roteirista poderá agregar
fatos à história, de modo a somar, e não subtrair. Disso poderá depender o
sucesso ou o fracasso desta nova empreitada de Robotech nas mãos da Titan
Comics. Os fãs esperam que isso se acerte, do contrário, as perspectivas de
continuidade das aventuras da saga da Robotechnologia continuarão a não durar
muito, repetindo o ocorrido em suas últimas empreitadas nos quadrinhos. E olhem
que, visualmente falando, a nova série da Titan já começa perdendo feio para as
edições produzidas pela Wildstorm...
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