Os fãs do mais famoso agente
secreto da ficção, James Bond, estão de luto. Faleceu no último dia 23, aos 89
anos de idade, o ator Roger Moore, um dos mais lembrados intérpretes do
personagem na franquia de filmes para o cinema, iniciada em 1962. Moore
encontrava-se naSuíça, país onde morava já há algum tempo. O ator enfrentava um
câncer há pouco tempo, descoberto há quatro anos, e a notícia da morte foi
divulgada por seus filhos. O funeral do ator, restrito aos familiares, foi
realizado em Mônaco.
Nascido em 1927, em Londres, filho
de uum policial e de uma dona de casa, Roger George Moore desde cedo
demonstrava preferência em seguir uma carreira artística. Após servir na
Segunda Guerra Mundial, no início dos anos1950 ele mudou-se para os Estados
Unidos, onde começaria a aparecer em pequenos papéis, até assinar contrato com
a MGM,e poder demonstrar todo o seu grande talento nas telonas. Mas os filmes
estrelados pelo ator não chegaram a fazer sucesso, o que o levou a mudar de
estúdio, indo para a Warner Brothers. Em 1958, Moore estrelaria sua primeira
série de TV, Ivanhoé, fazendo o papel-título. A produçao rendeu 39 episódios,
sendo encerrada no ano seguinte. Ainda em 1959, ele estrelaria o seriado “The
Alaskans”, com 37 episódios produzidos até 1960. Os dois anos seguintes seriam
de participações na série de faroeste Maverick, interpretando um primo do
personagem principal, Brett Maverick, vivido por James Garner.
A fama viria mesmo em 1962,
quando estrelou a série “O Santo”. Vivendo o personagem Simon Templar, um
ladrão conhecido como “O Santo”, vivendo aventuras ao estilo de Robin Hood,
roubando de outros ladrões ou pessoas corruptas. O seriado durou 6 temporadas,
com um total de 118 episódios, encerrado em 1969. Por essa altura, Sean
Connery, o primeiro intérprete do agente 007, já havia decidido abandonar o
papel do agente secreto com licença para matar, sendo substituído entao pelo
ator George Lazenby, em 1969, no filme 007 A Serviço de Sua Majestade. Apesar
da história do filme, considerada uma das melhores da franquia até hoje,
Lazenby não conseguiu emplacar no papel de James Bond, e os produtores tiveram
que recorrer mais uma vez a Connery, que topou fazer mais um filme, 007 – Os
Diamantes São Eternos, em 1971.
Na
época, Roger Moore já havia criado grande fama pelo seu papel em “O Santo”, e
seu nome já era cogitado para viver 007 no cinema. Mas o ator só aceitaria o
trabalho no final de 1972, depois de contracenar, junto com Tony Curtis, a
única temporada da série “The Persuaders!”, onde interpretava um ricaço que,
junto com outro homem muito rico,interpretado por Curtis, resolviam casos como
detetives ocasionais. Liberado de seu contrato, Moore enfim entrou como substituto
de Sean Connery na cinessérie de 007, com a missão de substituir à altura seu
antecessor. E ele conseguiu, à sua maneira, claro. Se o James Bond de Connery
era viril, elegante e sério, o 007 de Roger Moore também era elegante, mantinha
uma boa dose de fleuma britânica, mas também tinha um ar irônico, e porque não,
até bem-humorado, traços que trouxe de sua interpretação de Simon Templar em “O
Santo”. Além disso, Moore ainda aumentou o charme sedutor do herói, que
conseguia levar pra cama a mulherada presente nos filmes, fossem aliadas, ou
até mesmo inimigas. Seja como for, os fãs aceitaram, e Moore se tornaria o ator
que mais tempo viveu o principal agente do serviço secreto britânico até hoje,
estrelando nada menos do que 7 filmes no período de 12 anos, começando por Com
007 Viva e Deixe Morrer (1973), 007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro
(1974), 007 - O Espião Que Me Amava (1977), 007 Contra o Foguete da Morte
(1979), 007 - Somente para Seus Olhos (1981), 007 contra Octopussy (1983), e
finalizando com 007 - Na Mira dos Assassinos (1985). Então com 58 anos, Moore
já era considerado velho demais para o papel, que foi passado para o ator
Thimoty Dalton nos filmes seguintes.
Com filmes com qualidade
variável em suas histórias, o humor do personagem vivido por Moore também
variava, com algumas situações até razoáveis, chegando até algumas serem
completamente nonsenses, próximas de uma comédia. Os produtores perceberam que
estavam dando uma direçâo equivocada à franquia, e por isso, voltaram a dar um
tom um pouco mais sério às situações vividas pelo herói nos dois últimos
filmes. Mas, virtudes e defeitos à parte, Moore ainda tem em seu currículo como
intérprete do agente 007 o fato de ter tido e enfrentado o mais memorável e
carismático adversário do personagem até hoje em toda a franquia, o vilão
Dentes de Aço (Jaws, no original, e “Queixada”, numa das dublagens feitas nos
filmes), interpretado por Richard Kiel, com seus 2,18 m de altura (o que já
assustava qualquer um), que até chegava em silêncio e poderia sair mudo, mas
deixava o agente secreto cheio de hematomas e contusões, para não falar dos
amassados em seu terno impecável e deixando o agente despenteado. O vilão
trocou sopapos diretos com Bond em dois filmes, 007 – O Espião que me Amava, e
007 Contra o Foguete da Morte, que tem também como destaque ter tido parte de
sua trama se passando no Brasil, com o espião britânico tendo de se virar numa
luta em pleno bondinho do Pão de Açúcar contra seu agigantado adversário, que
como de costume, conseguia sair inteiro das brigas, mesmo que despencando dos
céus. E entre altos e baixos, Moore é considerado até hoje o segundo melhor
intérprete de 007, ficando atrás, obviamente, de Sean Connery. O ator chegou a
escrever três livros onde expõe sua experiência em viver James Bond, afirmando
que teve instruções importantes de Connery de como viver o agente secreto.
Moore, aliás, chegou atéa fazer piada com sua participação na série 007 quando
participou da comédia Cannonball Run (Um Rali Muito Louco, no Brasil), em 1981,
onde interpretava um dos participantes da corrida que pensava que era o próprio
Roger Moore, no melhor estilo James Bond, cheio de tiradas e referências aos
clichês dos filmes do agente secreto, como seus carros cheios de truques
(inclusive dirigindo um Aston Martin), a sedução das mulheres, etc.
Após o fim de sua participação
como James Bond, Moore só voltaria a participar de filmes e TV nos anos 1990.
Ao mesmo tempo, começou a dedicar-se a causas humanitárias, e lutando pelos
direitos de crianças e adolescentes, tornando-se embaixador do Unicef. Este
trabalho, motivado pela pobreza extrema que presenciou durante as filmagens de
seu penúltimo filme como Bond, o levou a se empenhar em diversas mundo afora,
tendo visitado inúmeros países, entre eles o Brasil, onde trocou idéias com o
comediante Renato Aragão, o Didi, de Os Trapalhões, ocasião em que também
nomeou o brasileiro Embaixador do Fundo das Nações Unidas para as crianças no
Brasil. Por todo o trabalho desenvolvido nesta área, Moore recebeu da rainha
Elizabeth II o título de Cavaleiro do Império Britânico. O ator sempre se disse
contrário às armas e à violência, mas nunca se preocupou em ter sua imagem
vinculada à de 007, um agente com permissão para matar no cumprimento do dever,
como indicava o duplo zero em seu codinome. Perguntado sobre quem melhor
interpretou 007 no cinema até hoje, Moore manifestou sua preferência por Daniel
Craig, o último ator a personificar Bond, pelo tom mais adulto que os filmes
passaram a ter.
Roger Moore teve quatro
casamentos, e três filhos com Luisa Mattioli, sua terceira esposa, com quem se
casou em 1969, vindo a se divorciar em 1993. Desde 2002, o ator era casado com
Kristina Tholstrup, sua atual mulher. Moore foi lembrado por todos os demais
atores que passaram pelo papel, que prestaram seus respeitos ao colega
falecido. Moore se vai, mas sua imagem de James Bond continuará firme na
memória de seus fãs por todo o mundo por muito, muito tempo. “O nome é Bond...
James Bond!”
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