sábado, 13 de maio de 2017

JBC TRAZ AKIRA DE VOLTA AO BRASIL, ENFIM



                Ser fã no Brasil por vezes requer imensas doses de paciência, por vezes nem sempre recompensada, do modo como certas coisas acontecem em nosso país. Mas, em outros momentos, a boa vontade em aguardar traz sua recompensa, e uma grande espera está para terminar. Uma das séries de mangás mais famosas de todos os tempos está para retornar ao mercado editorial nacional, após praticamente 20 anos de sua última aparição por estes lados. Trata-se de AKIRA, a obra do consagrado Katsuhiro Otomo, que abriu as portas em diversos países para os quadrinhos e a animação japonesa, quando do lançamento do longa animado baseado em sua obra, produzido em 1988.
                Foram mais de dois anos de longas e intensas negociações entre a editora japonesa Kodansha, a JBC Editora, e o autor do mangá. Em dezembro, durante a CCXP, Cassius Medauar, editor da JBC, explicou em palestra aos fãs presentes no estande da editora no evento as peripécias em que estavam as negociações para conseguir lançar a obra novamente no Brasil, que envolvia complicadas exigências por parte dos japoneses, que deveriam ser atendidas à risca para que Akira fosse publicado em nosso país. Não foi o primeiro caso: na mesma ocasião, a JBC estava enfim lançando outro mangá consagrado que também havia passado pelas mesmas complicações e dificuldades de aprovação por parte dos japoneses: Ghost in the Shell. Quando tudo parecia enfim bem encaminhado, eis que os japoneses fizeram mais algumas exigências, obrigando a editora nacional a alterar novamente o cronograma. A promessa era de conseguir lançar Akira ainda no primeiro semestre deste ano, e a promessa foi cumprida, apesar de todas as dificuldades enfrentadas. E os fãs poderão, enfim, ter a obra em suas mãos.
                O primeiro volume será lançado agora em junho, com distribuição direta para livrarias e comic shops, não sendo vendido em bancas, a exemplo de algumas outras obras já lançadas pela JBC, como Blame e Ghost in the Shell. A obra será composta de 6 volumes, sendo que a primeira edição terá 362 páginas, sendo 8 delas coloridas, no formato 17,8 cm x 25,6 cm. Com direito a papel Lux Cream, e sobrecapa. E, a exemplo de Ghost in the Shell, parte da sobrecapa serão mantidas como no original, neste caso, as orelhas da sobrecapa. O preço é de R$ 69,90, e já se encontra disponível em pré-venda em várias lojas virtuais e no próprio site da editora, no endereço http://mangasjbc.com.br/pre-venda-de-akira/. Quem comprar no site da editora na pré-venda terá direito a 10% de desconto no valor do primeiro volume, bem como frete grátis, e brindes especiais na forma de um cartão postal e um marcador de página.
                Por enquanto, só esta primeira edição está com sua data de lançamento garantida pela editora. Os demais volumes já estão sendo produzidos, mas a exemplo dos procedimentos de aprovação exigidos por parte dos japoneses para o primeiro volume, todos eles também precisarão passar pelo crivo dos orientais para que a JBC possa finalmente lançar o restante do mangá no Brasil. Portanto, as datas de lançamento das demais edições ainda estão sem confirmação, podendo tanto sair ainda este ano, ou somente em 2018. De garantia mesmo, só o fato de que a JBC irá lançar a obra na íntegra, mas os fãs terão de ter um pouco mais de paciência, além da já demonstrada até aqui. Com relação ao formato adotado, bem como ao preço praticado, Cassius Medauar justificou ter sido o necessário para atender aos padrões de publicação impostos pelos japoneses, que foram muito zelosos em diversos detalhes, e que sem o cumprimento de todas estas exigências, não haveria como ser liberada a publicação em nosso país. Mais uma vez, ele repetiu as explicações dadas pelas exigências de qualidade impostas pelos japoneses em Ghost in the Shell, para justificar o preço cobrado. Um ponto que ele tocou foi o fato de o formato imposto pelos japoneses para as edições nacionais de Akira não encontrarem paralelo nos formatos de impressão utilizados normalmente pelas gráficas nacionais, o que exige uma formatação de impressão toda particular na hora de confeccionar a edição, que por ser exatamente não convencional para as empresas nacionais, só ajuda a encarecer o custo de produção. E ele foi taxativo ao afirmar que, sem o cumprimento destas exigências por parte da JBC, nada poderia ser feito para que Akira voltasse a ser lançado oficialmente no Brasil. Os japoneses simplesmente não deram outras opções a serem avaliadas.
                Esta será a primeira vez que Akira será publicado no formato original japonês. O mangá já foi lançado no Brasil, na década de 1990, devido ao sucesso do longa-metragem animado, que também foi exibido em nossos cinemas, além de ter ganho lançamento no mercado de vídeo nacional. A Editora Globo, responsável por trazer a série de Katsuhiro Otomo na época, trouxe a versão ocidental, produzida pela Marvel Comics nos Estados Unidos a partir de 1988, com uma colorização espetacular sobre a arte original em preto-e-branco, mas com dois problemas: as páginas foram redimensionadas para o formato americano usado tradicionalmente nos gibis estadunidenses, além do sistema de leitura ocidental, que exigiu que as páginas tivessem que ser invertidas, uma vez que o sistema de leitura japonês é diferente. A versão da Marvel saiu pelo selo Epic Comics, destinado a quadrinhos autorais, e isso teve alguns empecilhos na sua publicação integral, tanto nos Estados Unidos quanto por aqui.
                Katsuhiro Otomo, envolvido com a produção do longa animado de sua obra, uma vez que exigiu manter o controle criativo do filme, suspendeu momentaneamente a produção do mangá, retomando-o algum tempo depois. Mas, durante esse tempo, a publicação americana alcançou o ponto onde Otomo havia parado a história, não tendo outra alternativa senão pausar a publicação. Por esse mesmo motivo, a Editora Globo ficou sem conseguir publicar a obra por completo na época, lançando 33 edições durante os anos de 1990 a 1993. Quando Otomo enfim terminou o mangá em definitivo, concluindo a história, a Marvel retornou a publicação nos mesmos moldes anteriores, revivendo somente para isso seu então finado selo Epic Comics, finalizando a série em 1995. E a Editora Globo pôde, enfim, também completar a série por aqui, lançando as 5 edições finais na segunda metade dos anos 1990, entre 1997 e 1998, permitindo aos fãs nacionais acompanharem o restante da história protagonizada por Kaneda e seu amigo Tetsuo, na trama envolvendo pessoas com poderes sobrenaturais, com destaque para o misterioso Akira, na cidade de Neo-Tóquio em um futuro próximo, além das demais questões político-sociais envolvidas.
                No Japão, Akira começou a ser publicado em 1982, na revista Weekly Young Magazine, da editora Kodansha, sendo concluído apenas em 1990, após a pausa feita por Katsuhiro Otomo de quando foi feita a produção do longa-metragem animado pela Tokyo Movie Shinsha, lançado nos cinemas em 1988, alcançando sucesso mundial em todos os países onde foi exibido, inclusive no Brasil. Como costuma ocorrer nas obras de sucesso publicadas nas revistas de linha, Akira foi compilado em volumes, totalizando 6. Esta versão original da obra foi lançada nos Estados Unidos pela Dark Horse Comics entre os anos de 2000 e 2002, após os direitos da Marvel sobre a série terem expirado.
                O longa-metragem animado ganhou relançamento no mercado de vídeo nacional pela Focus Filmes, que disponibilizou o filme em DVD, e posteriormente em blu-ray. E agora, com o relançamento do mangá, no formato original japonês, os fãs desta obra, bem como dos quadrinhos nipônicos, só tem a comemorar. E com toda a razão! A JBC merece os parabéns pelo esforço feito em trazer novamente esta obra ímpar dos quadrinhos japoneses de volta ao nosso país, e esperemos que consiga disponibilizar todos os demais volumes o mais breve possível.

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