domingo, 25 de fevereiro de 2018

COLEÇÃO DE CONAN PELA SALVAT CHEGA EM MARÇO



                Os fãs do guerreiro bárbaro cimeriano mais famoso de todos os tempos podem comemorar. Está chegando o momento do lançamento oficial da mais nova coleção da Editora Salvat, que será dedicada a Conan, o Bárbaro! A ESPADA SELVAGEM DE CONAN – A COLEÇÃO chega às bancas da primeira fase de distribuição da publicação neste mês de março, e terá publicação quinzenal, a exemplo das demais coleções de graphic novels da Marvel Comics lançada pela editora. O formato da coleção, entretanto, é ligeiramente diferente, nas dimensões 21 x 27,5 cm, o chamado formato “magazine”, com direito a capa dura em todas as edições, e papel off-set de excelente gramatura no miolo, trazendo as histórias da melhor fase do guerreiro cimeriano, lançadas principalmente pela Marvel Comics nos anos 1970, 1980 e 1990.
                As histórias serão lançadas não apenas neste formato original, magazine, mas também como foram publicadas pela primeira vez, com a arte em preto e branco. A primeira edição terá preço promocional de R$ 9,90, e a segunda edição, R$ 29,90. A partir do terceiro número, o preço ficará em R$ 44,90, por tempo indeterminado. No segundo semestre do ano passado, a editora lançou a fase de testes da coleção, procedimento padrão para avaliação da viabilidade danova publicação, com os 4 primeiros números. E, em dezembro de 2017, durante a Comic Com Experience, a Salvat já anunciou que a coleção seria lançada oficialmente no mês de março, oferecendo na ocasião a possibilidade de se fazer a assinatura de toda a coleção com um desconto promocional vigente entre os dias 6 e 20 de dezembro daquele mês, de 10% para a coleção completa e mais 5% de desconto exclusivo para quem fizesse a compra durante os quatro dias da convenção, realizada em São Paulo, capital. Atualmente, a editora oferece apenas a assinatura “padrão” de dois em dois volumes, pelo preço de R$ 89,80 ao mês, e os dois números do primeiro mês de publicação pelo preço de R$ 34,80.
                A mais famosa fase de Conan começou a ser publicada pela Marvel Comics em 1974, quando lançou a revista Savage Sword Of Conan, nome no qual esta nova coleção será lançada. Conan já vinha sendo publicado há algum tempo na casa das idéias, que havia obtido a licença para produzir histórias em quadrinhos do personagem criado pelo escritor Robert E. Howard. A nova revista, devido ao seu formato “magazine”, diferente das demais edições de quadrinhos lançados pela Marvel, lhe permitia escapar da vigilância do autoritário “Comic’s Code”, e com isso, os autores podiam ter muito mais liberdade para trabalhar nas aventuras do guerreiro bárbaro, que vivia em uma era onde a justiça costumava ser tão brutal quanto as perversidades cometidas, fugindo do lugar-comum dos quadrinhos de heróis lançados pelas editoras, que costumavam ser ”certinhos”. Contando inicialmente com os talentos de gente tarimbada como Roy Thomas e Barry Windsor-Smith, entre outros nomes que fizeram fama escrevendo aventuras do guerreiro bárbaro, o novo título de Conan tornou-se um sucesso estrondoso de vendas, sendo publicado ininterruptamente por mais de 20 anos, desde agosto de 1974, data de lançamento oficial do primeiro número, até julho de 1995, quando o título foi encerrado com 235 edições publicadas.
                No Brasil, Conan chegou a ganhar seu primeiro título-solo pela Minami & Cunha Editora, em 1972, passando depois por uma edição não-oficial lançada pela Graúna Editora, e em 1976, ganharia revista mensal pela Bloch Editora, na época a principal editora da Marvel no Brasil. O personagem passaria a ser lançado pela Editora Abril nos anos 1980, que em 1984, dez anos depois do lançamento do principal título de aventuras do cimeriano nos EUA, lançaria a versão nacional, com o título “A Espada Selvagem de Conan”, no mesmo tamanho e formato da edição norte-americana. Como não poderia deixar de ser, o excelente material cativou os leitores de quadrinhos, sendo que a revista teve, em seus momentos áureos, vendas superiores a 200 mil exemplares por edição. A revista só deixaria de ser publicada aqui em 2001, com um total de 205 números lançados. O sucesso era tanto, que a Abril lançou até uma reedição das primeiras edições, entre 1990 e 1994, totalizando 54 números.
                Com a Marvel deixando de publicar histórias do personagem, Conan acabou indo para a Dark Horse Comics, que passou a produzir novas histórias do personagem, o que acontece até os dias atuais. Aqui no Brasil, a Abril encerrou seus títulos com Conan, que passou a ser publicado pela Mythos Editora, até que esta também encerrou a publicação regular do herói, que ficou restrito ao lançamento de alguns álbuns especiais estrelados com o material mais recente da Dark Horse. Mas o auge da fama de Conan foi no seu período de publicação pela Marvel, que aliás, retomou os direitos de quadrinhos sobre o guerreiro cimeriano, e voltará a produzir novos quadrinhos de Conan a partir de 2019. E, para os fãs, antigos e novos, nada como poder ver e/ou rever as grandes aventuras que já foram produzidas nos bons tempos, uma vez que este material teve suas últimas publicações em nosso país já há muito tempo atrás, e várias aventuras sequer foram republicadas, o que torna esta nova coleção que a Salvat está lançando imperdível para muitos, não apenas oferecendo aos fãs edições com acabamento gráfico muito mais elaborado, como servindo de excelente chamativo para convidar muitos leitores da atual geração de quadrinhos que nunca viram as aventuras de Conan, embora tenham ouvido falar do personagem. E tem muita coisa interessante para ser vista. O único ponto decepcionante na coleção é com relação à imagem que será formada pela junção das lombadas das edições, que quando postas lado a lado, formarão apenas a imagem com o logo da série em maior destaque, junto a duas pequenas artes nas extremidades, e não formando uma única e grande arte, o que muitos consideram uma furada no planejamento gráfico da coleção, haja visto que nas outras coleções que vem sendo lançadas pela Salvat, as lombadas compõem uma magnífica arte dos personagens envolvidos, o que não é o caso desta coleção de Conan. Infelizmente, neste ponto, a Salvat apenas está mantendo a estética gráfica da coleção lançada na Europa, que traz este mesmo tipo de arte composta pelas lombadas. Em compensação, cada volume traz vários textos explicativos sobre a história, equipe criativa, além de galeria das capas originais de publicação, situando os leitores a respeito das aventuras trazidas no volume, como já acontece nas demais coleções publicadas pela Salvat.
                A primeira edição da coleção traz nada menos do que as histórias lançadas na revista Savage Tales, da Curtis Comics, um selo da Marvel, nas edições 1 a 5, em 1971, além de uma pequena história lançada na segunda edição de Savage Sword of Conan, em 1974. As histórias são “A filha do gigante de gelo”, “A cidadela dos condenados” (partes 1, 2 e 3), “A noite do Deus Negro”, “O habitante das trevas”, e “O segredo do rio da morte”, contando com roteiros de Roy Thomas, e a arte de Barry Windsor-Smith, Neal Adams, e Jim Starlin. Um excelente ponto de partida para introduzir os leitores novatos no mundo da espada e magia de Conan. A coleção terá ao todo 75 edições, com duração pelos próximos 3 anos, um tempo considerável para os fãs de quadrinhos, amantes ou não de Conan, aproveitarem para se fartar com as aventuras do personagem, que merecia há muito uma coleção só dele, dada a importância e a fama que o herói teve nos velhos tempos, quando teve até dois filmes estrelados por ninguém menos do que Arnold Schwarzenegger no papel do bárbaro da Ciméria. Mais recentemente, Conan ganhou um novo filme,estrelado por Jason Momoa, mas sem fazer o mesmo sucesso. E, em breve, ele terá uma nova série de TV, a ser produzida pela Amazon. Nos anos 1990, ele já havia ganhado também uma produção paraTV, com 22 episódios.
                Isso apenas comprova que Conan continua vivo e forte entre os fãs, e portanto, a escolha da Salvat para sua nova coleção é mais do que óbvia. Que ela possa ser apreciada por muitos leitores. E que se preparem para aguentar também o impacto nos seus bolsos, pois é a coleção mais cara da editora até agora, por edição. Mas que vale muito a pena. E não ousem duvidar, ainda mais se Conan resolver questionar os motivos da discordância, lago que nem sempre costuma ser saudável. Por Crom, então é hora de se preparar para uma tremenda horda de grandes aventuras!

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

PRETTY CURE COMEMORA SUA 15ª SÉRIE: HUGTTO! PRECURE



                O ano era 2004 quando a Toei Animation lançou, em fevereiro daquele ano, uma série aparentemente sem maiores pretensões chamada Pretty Cure, trazendo as aventuras de duas garotas que, por um acaso do destino, ganham poderes mágicos e se tornam defensoras da paz e da justiça, enfrentando vilões e seus monstros. O objetivo, claro, era criar uma nova série no estilo mahou shoujo (garotas mágicas) para explorar o filão de produtos e brinquedos licenciados visando o público infantil feminino, algo que o estúdio andava se ressentindo desde o final de Sailor Moon, anos antes. A série conseguiu uma boa audiência, e motivou a Toei a lançar uma continuação no ano seguinte, transformando a dupla de heroínas em um trio, com a adição da personagem Hikari como Shiny Luminous, à dupla de heroínas Nagisa (Cure Black) e Honoka (Cure White), continuando a defender nosso mundo das forças do mal. O sucesso da continuação levou a Toei a levar Pretty Cure também para os cinemas, aumentando a popularidade da série não apenas junto ao seu público-alvo, mas também conseguindo muita popularidade com o público masculino, e também o infanto-juvenil, já que as aventuras das super-heroínas mágicas caiu no gosto deste pessoal também. Um diferencial desta nova série é que as garotas eram super-garotas mágicas: apesar de terem seus golpes especiais para vencer seus inimigos, as meninas podiam encarar uma briga com a maior tranquilidade, já que possuíam também superforça, sendo capazes de arrebentar até paredes com as mãos, nos combates com seus inimigos.
                Em 2006, Pretty Cure se tornaria uma franquia, com novas séries apostando no mesmo esquema, mas trocando os enredos e as personagens. O início foi com Pretty Cure Splashstar, apresentando uma nova dupla de heroínas, Saki e Mai (Cure Bloom e Cure Egret, respectivamente), claramente inspirada nas heroínas originais. Mas, a partir da série seguinte, Pretty Cure Five, a franquia inspirou-se em outra grande franquia de sucesso da Toei, os Super Sentai, e transformou as heroínas em grupos de equipes a cada nova série, que ano após ano, foi se renovando, sempre com novas heroínas, novos personagens, e novos vilões a serem enfrentados, tornando-se um dos carros-chefe de produções animadas da Toei Animation, perdendo apenas para os megassucessos do estúdio, como Dragon Ball, e One Piece, por exemplo. E o sucesso de Pretty Cure continuou pela nova década, com alguns altos e baixos, mas mantendo-se firme no rol de produções da Toei, que neste ano de 2018, acaba de lançar a sua 15ª série da franquia, mostrando que a fama das super-heroínas mágicas pode ter tido alguns abalos, mas continua em evidência, apesar de muitos fãs não terem gostado do resultado da série de 2017, Kirakira Precure a La Mode, que acabou não sendo desenvolvida como deveria, e em alguns casos, dividindo as opiniões em discussões mais acaloradas.
                HUGTTO! PRECURE é o nome da nova série, que estreou no último dia 04 de fevereiro, e com a qual a Toei já iniciou as comemorações de 15 anos da franquia. Com o slogan de que ‘Podemos fazer qualquer coisa! Podemos ser qualquer coisa! Vamos abraçar o futuro brilhante!”, a série apresenta um novo grupo de heroínas que irá defender o futuro e suas possibilidades infinitas de realizações, que está ameaçado pelos planos de um grupo maligno chamado Kuraiasu (Amanhã Sombrio, numa tradução livre). E uma de suas estratégias é sugar todo o Asupawawa, ou o “poder do amanhã”, sem o qual as pessoas desistirão de seus ideais de vida. E caberá às novas guerreiras lendárias Precure impedir que isso aconteça.
                É nesse contexto que conhecemos Hana Nono, uma jovem sonhadora de 13 anos que quer ser uma garota estilosa e madura. Ela está iniciando em uma nova escola, onde conhece novas amigas e planeja seus passos para o futuro, até que uma estranha bebê cai bem em cima dela, junto de um hamster falante. A bebê, Hugtan, acaba sendo ameaçada pelos capangas da Kuraiasu, e com a ajuda de Harry, a fada hamster da série, Hana acaba reunindo a energia Asupawawa e criando um Cristal do Futuro, que se converte em um Preheart, dispositivo que a transforma em uma guerreira lendária Precure, tornando-se Cure Yell, a Precure da Alegria, e sua vida vira literalmente de cabeça para baixo, passando a enfrentar os vilões da Kuraiasu e seus monstros Oshimaidaas.
                Com os episódios seguintes, suas amigas de escola se unirão a ela em sua luta. Sua amiga Saaya Yakushiji, que é representante da classe onde Hana passa a estudar, se tornará Cure Ange, a Precure da Sabedoria; e sua nova amiga e colega Homare Kagayaki se transforma em Cure Étoile, a Precure do Poder. Juntas, o trio de heroínas irá garantir que o futuro e todas as suas possibilidades continuem a existir.
                Como não poderia deixar de ser, a série já tem dois filmes para o cinema garantidos. Em março, sairá o filme “reunion” onde as novas personagens terão uma aventura conjunta com as heroínas das últimas séries Precure, Mahoutsukai Precure, e Kirakira Precure. E para outubro, está programado o filme solo de Hugtto! Precure. E, em se tratando das comemorações dos 15 anos da franquia, a Toei já afirmou que teremos algumas surpresas neste quesito, mas não deu maiores detalhes. Até o momento, já houve confirmação de que teremos algo envolvendo as primeiras heroínas da franquia, Cure Black e Cure White, mas não se sabe se elas irão aparecer em algum especial, ou se na própria série Hugtto! Precure. Uma pista éo fato de os vilões da nova série já conhecerem as Precures, embora as novas personagens da série lhes sejam completamente desconhecidas, o que significa que eles já se encontraram com algumas das heroínas. Mas seriam elas as antigas Precures, ou outras heroínas que aparecerão na série futuramente? Enquanto isso não é revelado, resta aos fãs acompanharem as novas aventuras de Hana, Saaya e Homare como as novas guerreiras lendárias Precure.
                No Brasil, infelizmente os fãs não tiveram muita sorte com esta franquia. Apenas duas produções foram exibidas aqui, via Netflix, mas adaptadas pela Saban, que infelizmente mutilou as séries Smile Precure e Dokidoki Precure, mudando o nome para Glitter Force, e cortando um monte de episódios, além de terem feito uma dublagem horrorosa para Smile. Todas as outras séries de Pretty Cure continuam inéditas, sendo acessíveis apenas via fansubbers. Se bem que, depois da experiência pouco agradável com Glitter Force, boa parte dos fãs não vai fazer questão de ver a série oficialmente por aqui, se for para ter adaptações sofríveis assim.
                Mas, pelo visto, os resultados da franquia, sejam em audiência, sejam na comercialização de produtos licenciados, mostram que Pretty Cure tem motivos mais do que justificados para comemorar uma década e meia de existência, e ir muito além disso. A própria Toei já produz a franquia de tokusatsu Super Sentai há praticamente 40 anos, desde que estreou a primeira série, Goranger, e ainda tem como exemplo também a franquia Kamen Rider, outro tokusatsu, que tem quase 50 anos de existência, embora não tenha tido produções ininterruptas desde que estreou a primeira série, em 1971. Mas isso apenas demonstra que Pretty Cure e suas super-heroínas mágicas podem ir mais longe do que muitos imaginam. Quem viver verá!


MORREU MORT WALKER, CRIADOR DO RECRUTA ZERO



                Mais um nome de peso da indústria dos quadrinhos nos deixou nas últimas semanas. Desta vez foi Mort Walker, criador do Recruta Zero, personagem com quase 70 anos de existência, desde que teve sua primeira tira publicada nos Estados Unidos. O artista, que ainda trabalhava na criação de tiras do personagem, tinha 94 anos, e faleceu devido a uma pneumonia, em sua casa, na cidade de Stamford, Estado de Connecticut, Estados Unidos, no último dia 27 de janeiro.
                Nascido em 3de setembro de 1923 em El Dorado, no Estado do Kansas, Addison Morton Walker desde cedo já manifestava desejo de seguir a vida de cartunista, tendo seu primeiro cartum publicado ainda com 11 anos de idade. Nos anos 1940, prestou serviço militar durante quatro anos, alcançando a patente de primeiro-tenente. De volta à vida civil, formou-se em jornalismo pela Universidade de Missouri-Columbia, mas os cartuns nunca tinham saído de sua meta de vida, e assim, em 1948, ele partiu paraNova Iorque, decidido a tentar a sorte no mundo dos quadrinhos, mas os primeiros dois anos foram bem difíceis, pois nenhuma editora ou distribuidora manifestava interesse por suas criações. Sua sorte só começaria a mudar em 1950, quando criou a personagem de um universitário preguiçoso, e que tentava evitar de pegar no pesado. Batizado inicialmente de “Spider”, ele logo mudou seu nome para”Beetle Bailey”, e conseguiu que a tira fosse adquirida pela King Features Syndicate, passando a ser publicada em alguns jornais, estreando em 4 de setembro de 1950, e mostrando o cotidiano do personagem em sua vida universitária.
                A tira não estava fazendo muito sucesso, e a King estava prestes a cancelar o contrato com Mort Walker, quando este, sem saber do destino que sua criação esperava nas mãos da distribuidora, resolveu alistar seu personagem no exército, uma vez que a Guerra da Coréia estava rolando do outro lado do mundo. Walker descartou praticamente todo o elenco de personagens da universidade, e criou toda uma nova leva para participar das novas histórias na caserna. E a tira decolou de vez, atingindo um sucesso que ninguém esperava. E a popularidade só cresceu ainda mais quando o próprio exército dos Estados Unidos resolveu boicotar a tira, banindo-a de sua publicação militar, acusando-a de denegrir a imagem do exército do país com seu rol de personagens, e tendo como estrela principal um recruta raso que se notabilizava pela preguiça e indisciplina, desacatando as ordens de seu oficial superior imediato. Mort Walker agradeceu a “ajuda” dos militares, e a tira explodiu ainda mais em fama, e nestes quase 68 anos de publicação ininterrupta sob o comando de seu criador, chegou a ser publicada em mais de 50 países e mais de 1.800 jornais, sem contar as revistas em quadrinhos publicadas em diversos países, entre eles o Brasil, onde Beetle Bailey, com o nome nacional de “Recruta Zero”, ganhando sua primeira revista em quadrinhos em 1962, através da Rio Gráfica e Editora – RGE, onde seria publicado até 1986, com cerca de 292 edições regulares, além de diversos almanaques e edições especiais. No início dos anos 1970, a editora Saber também publicou histórias do personagem, com um título diferente e nomes trocados. A Editora Globo publicaria o título regular do Recruta Zero do fim dos anos 1980 até 1992, quando encerrou a publicação do seu título mensal. Desde então, o indolente recruta e toda sua trupe de personagens perambulou por diversas editoras, com títulos publicados que nunca duraram muito, sendo sempre cancelados após algum tempo. Mas o personagem continua sendo publicado em vários jornais, entre eles “O Estado de São Paulo”.
                Apesar do grande sucesso da tira, Mort Walker não ficou restrito somente ao sucesso do Zero. Com o fim da Guerra da Coréia, ainda nos anos 1950, ele experimentou devolver o personagem à sua vida civil, e criou um novo rol de personagens, apresentando a irmã do Zero e sua família. A idéia era tentar desenvolver o mesmo tipo de humor, agora na vida cotidiana civil. Mas os leitores protestaram, e para azar do Zero, em muito pouco tempo ele estava de volta às agruras do Quartel Swampy. Mas a família de sua irmã não seria esquecida, e deu origem à tira Hi and Lois (chamada no Brasil de Zezé & Cia.), que também fez grande sucesso, e que de tempos em tempos, faziam aparições na tira do Zero, com sua irmã e sobrinhos visitando-o no  quartel, e vice-versa. Curiosamente, para ajudar a cuidar desta tira, enquanto continuava a tocar a do Zero, Mort Walker contou com o talento de Dik Browne, que anos depois, criaria seu próprio personagem de sucesso, o guerreiro viking “Hagar, o Horrível”. Ambos se tornaram grandes amigos desde então, e Mort sentiu muito a morte de Dik em 1989, tanto pessoal quanto profissionalmente. Outro projeto de Walker, este menos conhecido e famoso, mas que também chegou a ser publicado no Brasil, foi a série “The Bonner’s Ark”, com o nome nacional de “A Arca de Noé”, durante os anos 1970, e mais recentemente, com o título de “A Arca do Bichos”, nas últimas revistas do Recruta Zero lançadas pela Pixel Media, mostrando o dia-a-dia de uma arca cheia de animais, e comandada por um capitão meio trapalhão.
                Em 1974, Mort fundou o Museum of Cartoon Art, o primeiro museu devotado aos quadrinhos. Localizado a princío em Greenwich, no Estado de Connecticut, o museu mudou-se mais tarde para a cidade de Boca Raton, Estado da Flórida, em 1992, quando precisou de um novo endereço com mais espaço. Em 1996, o local passou a se chamar International Museum of Cartoon Art. Infelizmente, os custos de manutenção da entidade eram altos, e apesar de esforços junto a alguns patrocinadores, e do próprio Mort Walker, o museu fechou suas portas em 2002. Seu acervo foi então adicionado à coleção da Universidade do Estado de Ohio em 2008, como alternativa para preservação do material. O acervo do museu criado por Walker chegou a contabilizar mais de 200.000 desenhos originais, 20.000 quadrinhos, 1.000 horas de filme e diversos outros itens. Este imenso acervo foi formado quase inteiramente por doações de vários artistas, entre eles Chester Gould (criador do Dick Tracy ), Hal Foster (Príncipe Valente), Bill Keane (Family Circus), Milton Caniff (Terry e os Piratas), Dik Browne (Hagar, o Horrível), e até mesmo Stan Lee (Spider-Man), entre outros, chegando a ser avaliado em um valor estimado de US$ 20 milhões. A iniciativa de Walker era contribuir para a divulgação e preservação da memória dos quadrinhos, além de melhorar a forma como os cartuns eram vistos pelo grande público, dando-lhes mais respeito, e também como forma de retribuir o grande sucesso que o meio dos quadrinhos lhe proporcionou através dos personagens que criou.
                Mort também era conhecido pela solidariedade e respeito para com o próximo. Ele participou de várias campanhas beneficentes ao longo de sua longeva carreira, ajudando hospitais e a Cruz Vermelha. E, ainda no início de sua carreira, em 1951, deu uma força a um colega de profissão que estava com dificuldades para emplacar seus personagens: ninguém menos do que Charles Schultz, o criador do Snoopy, que depois também conseguiria grande sucesso no mercado de tiras de quadrinhos. Entre sua legião de personagens do universo do Recruta Zero, ele confessou que seu favorito era o Sargento Tainha. E, quando questionado sobre qual era a maior alegria que sentia em sua carreira de cartunista, ele era sempre franco e direto: fazer as pessoas que liam seu trabalho rirel e sentirem-se felizes. E, quando lhe perguntavam quando ele pararia de trabalhar com o Zero, seguindo o exemplo de alguns outros colegas de profissão que encerraram seus trabalhos com seus personagens, preferia responder de forma indireta, ao afirmar que não gostaria de desapontar seus leitores que sempre acompanharam cada tira criada por ele do personagem. E ele cumpriu sua promessa: até sua morte, continuava em plena atividade, talvez em ritmo menor do que antigamente, mas firme em manter Zero e toda a sua imensa turma na ativa, sempre com novas histórias.
                O desenhista foi casado duas vezes. Em 1949, ele casou-se com Jean Suffill, que havia conhecido durante seu tempo cursando a universidade, e com quem teve sete filhos. Mort e Jean divorciaram-se em 1985, e Walker casou-se em seguida com Catherine Prentice, no mesmo ano, e com quem veio a ter mais três filhos, estando juntos até a morte dele, no último dia 27 de janeiro.
                Quanto ao futuro do Recruta Zero, este está garantido por muito tempo: Brian e Greg, filhos de Mort de seu primeiro casamento, já vinham ajudando o pai na criação e produção das tiras há muitos anos, e prometem cuidar com todo o carinho o maior sucesso que seu pai concebeu em sua carreira artística, com a mesma dedicação e criatividade que ele desempenhou nestes quase 68 anos de trabalho praticamente ininterrupto, desde que desenhou a primeira tira do personagem, em 1950. Então, podem ir se preparando para aguentar Zero e sua turma por um longo, longo tempo. Mort pode descansar em paz, ciente de que sua missão de divertir e alegrar as pessoas neste mundo com seu grande talento como cartunista, foi mais do que bem cumprida. Adeus, velho combatente!