domingo, 22 de abril de 2018

PANINI REPUBLICARÁ “O MESTRE DO KUNG FU”


                O mercado atual de quadrinhos no Brasil, apesar da forte crise econômica que já dura alguns anos, ainda segue apresentando uma grande variedade de lançamentos, por várias editoras, e com muitos materiais sendo disponibilizados aos leitores, inclusive alguns bem antigos, quando se trata do gênero super-heróis, e envolvendo os personagens da Marvel e da DC Comics. No que tange à Marvel, os fãs ainda têm a felicidade de verem alguns lançamentos feitos pela editora Salvat em suas coleções de graphic novels lançarem e/ou relançarem algumas histórias há muito tempo produzidas lá fora, e que foram publicadas aqui há muito, muito tempo, ou nem mesmo haviam sido vistas por aqui. E agora em maio, uma antiga série dos anos 1970 poderá ser novamente revisitada pelos fãs, novos e velhos: a saga do Mestre do Kung Fu, Shang-Chi, uma série que foi bastante popular em seu tempo, e que será um dos novos títulos da série Coleção Histórica Marvel, da Panini, cuja primeira edição chega agora no início do mês de maio, nas bancas e livrarias. COLEÇÃO HISTÓRICA MARVEL – MESTRE DO KUNG FU – Volume 01, trará as primeiras aventuras de Shang-Chi, e irá reapresentar aos leitores as aventuras deste personagem mestre da milenar arte do kung fu. A primeira edição terá 164 páginas, com capa cartão, ao preço de R$ 24,90.
                Há muito os leitores ansiavam pela oportunidade de rever este material, cujas histórias foram publicadas pela última vez, em sua fase original, no título do Capitão América, ainda nos tempos da Editora Abril. Mas, nos últimos tempos, havia empecilhos legais para o relançamento deste material, por questão de direitos autorais de personagens que não pertenciam à Marvel Comics, mas faziam parte das aventuras de Shang-Chi. Problemas legais que foram parcialmente solucionados apenas recentemente, o que abriu a possibilidade de, enfim, os leitores poderem rever estas aventuras.
                Criado em 1973 por Steve Englehart e Jim Starlin, Shang-Chi foi criado pela Marvel para aproveitar o sucesso da série “Kung Fu”, estrelada por David Carradine, além da fama de Bruce Lee. Como a editora não conseguiu os direitos para produzir aventuras de quadrinhos com o personagem de David Carradine, tratou de criar o seu próprio personagem mestre das artes marciais. E assim nasceu Shang-Chi. Mas a Marvel tratou de dar à série uma ambientação mais complexa, tornando o personagem não apenas um lutador, mas alguém em constante conflito com sua natureza, até mesmo por questões familiares. A editora adquiriu a licença para utilizar em suas histórias o grande vilão concebido pelo escritor inglês Sax Rohmer, o chinês Fu Manchu, e alguns de seus antagonistas, como Sir Denis Nayland Smith e seu grande amigo, Dr. Petrie, incorporando-os à saga de Shang-Chi, que seria filho do próprio Fu Manchu.
                Criado sob severo treinamento desde a mais tenra idade nas mais variadas artes marciais, Shang-Chi tornou-se um grande lutador, talvez o maior de toda a terra, dominando principalmente a técnica do kung fu, além de saber lutar em vários outros estilos de luta. Educado por Fu Manchu, a quem Shang acreditava ser um benfeitor da humanidade, injustamente perseguido, Chi deveria se tornar o seu principal assassino, e para tanto, ele foi mandado ao Ocidente para assassinar o Dr. Petrie, o braço direito de Denis Nayland Smith, até então o grande adversário que frustrava os planos perversos de Fu Manchu. A missão era um teste para Chi, que aparentemente a executou com êxito, mas isso o fez questionar tudo o que havia aprendido durante sua vida, em especial o desejo de paz, e o respeito à vida. Confrontado por Denis Nayland Smith, e pelo Dr. Petrie, que na verdade não havia sido assassinado, Shang descobre toda a verdade sobre seu pai, e decide renegá-lo, passando a lutar ao lado de Smith e Petrie para frustrar os planos perversos de Fu Manchu, que obviamente, não aceita passivamente a rebeldia de seu filho, e o coloca no topo da lista de inimigos a serem eliminados durante sua ambição de dominar o mundo.
                E assim começam as aventuras de Chi, que vai fazendo novos amigos, como Black Jack Tarr, Clive Reston, que se torna seu melhor amigo, e Leiko Wu, que viria a ser o seu grande amor. E, em todas as histórias, além da ação, muitas lições e questionamentos do personagem procurando conciliar seu desejo de paz e justiça, ao mesmo tempo em que tem de participar de aventuras que envolvem traição, espionagem, ganância, e outras situações que lhe mostram o lado bom e ruim do ser humano, que não consegue conciliar seus desejos válidos com a busca por poder, maldades sendo cometidas, e outras situações deprimentes da natureza humana. Cada luta é uma batalha não apenas para fazer o bem prevalecer e frustrar os planos perversos dos inimigos, mas também para tentar se manter fiel a si mesmo, e não desvirtuar seu espírito, tentando lutar apenas quando necessário, mas sendo obrigado a recorrer aos punhos e aos seus conhecimentos de artes marciais muito mais do que gostaria que fosse necessário, devido aos inimigos que atacam, em especial os assassinos da organização Si-Fan, comandada por seu pai, e que possui alcance mundial.
                O personagem estreou na edição Nº 15 da revista “Special Marvel Edition”, lançada em dezembro de1973, estrelando também a edição seguinte. A boa receptividade do novo herói marcial motivou a Marvel a mudar o título da revista já na edição Nº 17 para "The Hands of Shang-Chi: Master of Kung Fu" (As Mãos de Shang-Chi: Mestre do Kung Fu). O título seria publicado ininterruptamente até 1983, sendo encerrado com a edição 125, lançada em junho daquele ano. O estilo das aventuras do personagem caiu no gosto dos leitores, e Shang-Chi não tardou a encontrar, em suas batalhas contra o mal, diversos outros heróis da Marvel, como o Punho de Ferro, o Homem-Aranha, Tigre Branco, Nick Fury, entre outros. Além do título regular, ganhou também algumas edições especiais e anuais. Após o final da série regular do personagem, Shang-Chi apareceu esporaridamente no Universo Marvel, como convidado em algumas histórias, aparentemente tentando eliminar alguns focos remanescentes das organizações outrora comandadas por seu pai, Fu Manchu, que havia sido morto definitivamente no final da série regular, após conseguir novamente enganar seus inimigos, fazendo-os pensar que havia morrido de fato. Entre os artistas que ajudaram a produzir a série na época, tivemos Doug Moench, Paul Gulacy, Mike Zeck, Gene Day, Sal Buscema, Gil Kane, George Pérez, Lein Wein, David Mazzucchelli, e Mike Mignola, entre outros nomes.
                Posteriormente, a Marvel não renovou a licença de uso dos personagens de Sax Rohmer, de modo que nas aventuras posteriores com a presença de Chi, inclusive a ameaça de seu pai, que aparentemente estava de volta, não podia mais se referir a ele pelo nome original, razão pela qual foi criada a justificativa de que seu verdadeiro nome seria Zheng Zu, dando a entender indiretamente que”Fu Manchu” seria apenas uma alcunha utilizada por ele, em sua miríade de tramas para confundir seus inimigos. Mas o personagem acabou até descaracterizado nas últimas aventuras, ganhando até alguns poderes, como o de criar cópias de si mesmo, utilizando este recurso nos combates que trava atualmente, já tendo até participado dos Vingadores.
                No Brasil, o personagem teve suas primeiras aventuras publicadas na revista Kung Fu, publicada pela Ebal, em 1974. No ano seguinte, o herói estrelaria sua própria revista mensal, já pela Bloch, que lançaria suas primeiras aventuras em ordem cronológica, e que duraria até 1978, quando o título foi cancelado. O personagem voltaria a ser publicado na década seguinte, agora nos vários títulos Marvel publicados pela Abril, que lançou a grande maioria das aventuras do herói, com direito até a algumas edições especiais, até encerrar o seu ciclo no título do Capitão América, já em 1990.
                Em 2015, a Marvel conseguiu autorização para republicar as histórias do Mestre do Kung Fu publicadas na década de 1970, o que permitiu à editora relançar estas histórias nas famosas edições “omnibus”. E agora, com a iniciativa da Panini, os leitores nacionais poderão conferir e/ou rever a maior parte das aventuras de Shang-Chi. Para este ano, a editora planeja lançar quatro edições dentro da série “Coleção Histórica Marvel”, ficando o restante para ser lançado em 2019. Nesta primeira edição, temos reunidas as histórias lançadas em “Special Marvel Edition” edições 15 e 16, “The Hands of Shang-Chi: Master of Kung Fu” edições 17 a 20, e “Giant-Size Master of Kung Fu” nº 1. A editora deve seguir nesta coleção o mesmo esquema de outra série, Tumba de Drácula, onde está republicando, em ordem cronológica, todas as histórias do rei dos vampiros tanto em seu título-solo, lançado pela editora na década de 1970, como suas participações nas aventuras de outros personagens, como o Dr. Estranho, por exemplo. O que é uma boa iniciativa, pois proporcionará aos leitores acompanharem todas as histórias do personagem em ordem.
                Para completar a festa, só mesmo a Marvel poder republicar as últimas aventuras da fase clássica do personagem, lançadas nos anos 1980. O acordo feito, por hora, permite relançar apenas as histórias dos anos 1970, e não permite à editora utilizar os personagens licenciados nas novas aventuras que forem produzidas do herói, de forma que não teremos novas participações de Sir Denis Nayland Smith, do Dr. Petrie, ou ouvirmos novamente o nome de Fu Manchu. Mas, pelo menos, já é um grande passo, por ter permitido à editora relançar a maior parte de uma série que foi muito famosa e angariou muitos fãs nos anos 1970, e que merecia ser republicada e lida pela atual geraçao de leitores, oportunidade agora que será dada aos leitores nacionais, por se tratar de um material muito antigo, e que nunca foi lido por grande parte da atual geração de leitores que não tenha tido a sorte de encontrar estas aventuras nos antigos títulos Marvel publicados pela Abril em sebos ou scans na internet. Méritos à Panini por finalmente disponibilizar este material, e esperemos que os leitores possam apreciar as histórias e as discussões filosóficas que nortearam o personagem em suas aventuras. Vida longa ao Mestre do Kung Fu.

2 comentários:

  1. Qual a fase que não pode ser publicada? A do Mike zeck ou a do Gene Day?

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  2. Excelente texto.
    Shang-Chi e suas aventuras parecem fora de contexto nos tempos atuais, mas trazem justamente muita reflexão sobre as questões humanas.
    Talvez seja muito positivo para as novas gerações de fãs de quadrinhos conhecerem o personagem.

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