sexta-feira, 13 de maio de 2016

TÚNEL DO TEMPO - JULHO DE 2007 (HERÓIS EM GUERRA)



            Há praticamente 15 dias que estreou nos cinemas mundiais o filme Capitão América - Guerra Civil, terceiro filme estrelado pelo Capitão, com a temática de uma grande saga apresentada nos quadrinhos da Marvel na década passada, que causou um "racha" na comunidade de super-heróis do universo da editora, e trouxe dilemas e problemas até então pouco abordados nas histórias dos personagens. Claro que o filme nos cinemas não tem como reproduzir o número de confrontos e discussões vistos na saga, que para muitos, terminou sem aproveitar o real potencial que a discussão dos pontos de vista prometia, mas, à sua maneira, a essência do problema, e as consequências potenciais, estão lá reproduzidas, e se o filme não é espetacular, consegue pelo menos dar conta do recado, e apresentar mais um novo capítulo da Marvel Studios em seu universo cinematográfico, que salvo alguns percalços, vem se desenvolvendo bem desde que o primeiro filme do Homem de Ferro foi lançado, há quase uma década. Depois dos percalços vistos nos filmes anteriores, os governos concordam que precisam colocar os chamados "super-heróis" (que eles definem indiretamente como "justiceiros") na rédea curta (falam de "supervisão", nome mais elegante e menos invasivo), a fim de evitarem novas tragédias. Tony Stark, obviamente, acha que os heróis também tem de seguir regras, enquanto Steve Rogers acha que é preciso ter autonomia para impedir que as "regras" acabem tolhendo suas capacidades de atuação. E começa a discussão, que tem tudo para detonar de vez com os Vingadores e os demais heróis, destruindo sua união e amizade.
            Existem aqueles que nunca leram o que "Guerra Civil" foi nos quadrinhos, e que só agora, com o filme, estão procurando saber o que aconteceu naquela saga que colocou heróis contra heróis no Universo da Marvel, em 2006. E, em mais uma postagem da sessão "Túnel do Tempo", estou trazendo a matéria que fiz para jornal em 2007, de quando a Panini Comics começou a publicar a megassaga no Brasil, que havia saído um ano antes nos Estados Unidos. Confiram a matéria que escrevi, e como ela refletiu os acontecimentos do mundo real naqueles dias...


Guerra Civil dividiu os heróis da Marvel, com sequelas que demorarão a cicatrizar.
HERÓIS EM GUERRA

Panini lança “Guerra Civil”, megaevento que joga os heróis Marvel uns contra os outros

Adriano de Avance Moreno

            Nos universos de super-heróis dos quadrinhos, de tempos em tempos os personagens, em sua grande maioria, participam de um evento de grande porte, onde geralmente são necessários os esforços de um grande número de personagens para deter a ameaça, ou ameaças que prometem destruir o planeta, varrer o Universo do mapa, coisas assim. E acaba de aportar nas bancas nacionais, através da Panini Comics, uma das mais aguardadas megassagas dos quadrinhos dos últimos tempos: Guerra Civil, que promete virar pelo avesso o atual panorama dos super-heróis da Marvel Comics.
            A principal diferença desta saga para as demais anteriores já lançadas, tanto da Marvel quanto da DC ou de outras editoras, é que aqui não há exatamente super-vilões a serem combatidos, nem uma ameaça global ou universal que precise ser detida. Muito pelo contrário, a maioria dos combates nesta saga serão perpetrados pelos super-heróis contra eles próprios. O foco que dá origem ao evento é algo muito mais realista, tangível, e ao mesmo tempo, não menos importante: a liberdade individual e as responsabilidades decorrentes disso, traduzida na saga como o livre direito a pessoas com habilidades super-humanas, ou habilmente treinados, de sair por aí combatendo criminosos a torto e a direito, e responder pelas conseqüências disso. Tudo começa com um grupo de super-heróis secundário (nos dias de hoje), os Novos Guerreiros, que participando de um ridículo reality show da TV americana, aborda sorrateiramente um grupo de supervilões da pesada. Como não poderia deixar de acontecer, os heróis partem para o combate, porém sem muita coordenação. E o pior acontece, ao lado de uma escola: um dos vilões, com o poder de gerar explosões, causa uma que mata mais de 600 pessoas na vizinhança. A ação incauta dos pretensos “justiceiros uniformizados”, como parte da mídia os retrata, gera indignação e repulsa em boa parte da população americana, que passa a exigir que os heróis respondam pelos danos que causem em suas “pretensas” ações de combater o mal. O governo americano, então, prepara-se para baixar uma lei, ordenando que todos os heróis revelem suas identidades para a SHIELD, organização secreta de defesa da ordem mundial, e ao mesmo tempo, passem a se tornar agentes públicos sob supervisão e comando governamental. Na prática, todos os heróis passariam a ser soldados à disposição do governo, que iria então comandar e coordenar suas ações.
O Homem-Aranha será um dos muitos heróis que ficarão divididos pela nova saga.
            É aí que o bicho pega: vários heróis ficam relutantes em revelar suas identidades, temendo sofrerem sanções, ou pior, de seus segredos serem expostos pelo governo caso não cooperem. Ao mesmo tempo, o temor de virarem peões das autoridades, uma vez que muitos de seus atos beneficiam a sociedade de formas muito mais eficientes que os políticos, os tire a liberdade de discernimento. E, claro, há o outro lado, onde diversos heróis concordam com os preceitos da lei do governo, e estão prontos a seguir as determinações legais. E, como dentre estas determinações está a prisão e detenção de todos aqueles que recusarem se registrar, está iniciado um confronto de grandes proporções que promete abalar as relações entre os diversos super-heróis da Marvel.
            Os heróis terão de tomar posições, e estas posições irão colocar seus pontos de vista à prova, em um conflito que deixará várias seqüelas, que prometem não serem restauradas após a conclusão da saga. E, de fato, nos EUA, onde Civil War (nome original do evento) terminou no início deste ano, até o momento as consequências do combate são sentidas. Não é para menos: amigos tornaram-se adversários, muitos inimigos mesmo; relações se romperam; laços familiares foram dilacerados; tudo isso na luta para a defesa de pontos de vista divergentes sobre algo que muitas vezes as pessoas não pensam com seriedade a respeito: liberdade e responsabilidade.
Um ato inconsequente dos Novos Guerreiros provoca um massacre com inúmeros mortos. Estopim para o governo dar um "basta" nas atividades dos heróis.
            Tony Stark, o Homem de Ferro, após tentar demover os políticos de seu projeto de lei, resolve apoiar a iniciativa, para prevenir os conflitos que a rejeição incondicional à lei pode desencadear. O problema é que há outros heróis com visões diferentes da sua. O Capitão América, que sempre defendeu sua nação sem pensar duas vezes, e desde a Segunda Guerra sempre lutou pelo que acreditava, de repente se vê na condição de “renegado”: tudo porque resolveu se recusar a “prender aqueles que arriscavam suas vidas pelo bem-estar da população”, como ele mesmo definiu, completando que os heróis não podem ser vítimas da “politicagem”, do contrário, Washington é quem iria “dizer” quem são os vilões. E, mesmo com seu currículo de feitos, a SHIELD e as demais autoridades governamentais não hesitaram em rotulá-lo de criminoso. Por defender seu modo de pensar, em um país onde se supunha ser a terra da Liberdade, eis a gratidão das autoridades, que levadas pelo clamor popular, não pensaram duas vezes no que fizeram.
            E o confronto promete ser forte, pois se o Homem de Ferro conseguiu angariar vários colegas super-heróis de peso para o lado que apóia o registro, o Capitão América é uma lenda viva, e vai contar com outro tanto de heróis a seu lado para defender seu ponto de vista. E a batalha começa.
Homem de Ferro e Capitão América ficarão de lados opostos na saga, cada um defendendo seus pontos de vista. Infelizmente, consenso será uma palavra a ser esquecida...
            No comando da saga está o roteirista Mark Millar, que realmente promete sacudir o panorama do Universo Marvel. O roteirista, que já tinha feito um excelente trabalho na série dos Supremos, costuma ser bombástico e adora fazer o “circo pegar fogo”. O grosso do planejamento da saga foi feito em uma longa reunião na sede da Marvel, em Nova Iorque, muito antes da história sair finalmente nas bancas americanas. Todo o staff de roteiristas da editora foi reunido para ser posto a par do que seria a megassaga, e de como deveriam se portar para deixar os títulos em que trabalhavam alinhados com os acontecimentos da história. Mas não ficou apenas nisso. A idéia era realizar Guerra Civil para redefinir em boa parte todo o leque de títulos da Marvel, com a inclusão de novas revistas, novos personagens, resgate de vários deles de antigamente, e perda de outros “em combate”. E o mais importante de tudo: não agradar a todos. Algo que ficou patente no balanço da reunião era de que a última coisa que gostariam de ouvir dos leitores seriam aprovação unânime dos acontecimentos que a saga mostra, o que dá a indicação de que o objetivo seria realmente atingir o público leitor de jeito. Pelo visto, conseguiram o seu intento, pois as discussões em relação à história, seus confrontos e desfecho, foram enormes, para não falar na repercussão na mídia informativa, seja ela especializada ou não.
            E, verdade seja dita, Guerra Civil tornou-se o evento do ano nos quadrinhos americanos em 2006. Quando muitos apontavam que a DC iria conseguir reagir, os fracos desfechos de Crise Infinita e suas sagas em paralelo deixaram a Marvel em uma situação privilegiada no mercado de vendas. Embora os fatos principais tenham sido relatados na minissérie de 7 partes, os desdobramentos dos acontecimentos se espalharam para muitos dos títulos regulares da editora, resgatando aquela interação dos personagens em diversas revistas diferentes, que muitos não viam nos quadrinhos da Marvel com freqüência há muitos anos. E agora, chegou a vez dos leitores nacionais acompanharem Guerra Civil.
Parceiros e amigos viram adversários e inimigos. Quem vence? Quem perde?
            O trabalho editorial da Panini merece elogios. A começar pela bem sacada de publicar aqui o “Clarim Diário”, um encarte em formato tablóide, como se fosse um jornal de verdade, noticiando o início da saga, recheado de notícias, análises, cartas e até propaganda, para não mencionar o editorial do mais conhecido ranzinza do Universo Marvel: ele mesmo, John Jonah Jameson, que retorna à sua favorita retórica anti-heróis, agora não mais restrita apenas àquele “maldito escalador de paredes” (como ele define o Homem-Aranha). Uma leitura imperdível. Pena que nem todos os leitores encontraram este material nas bancas nacionais, uma vez que a distribuição da Panini continua caótica em diversas partes do país. A editora até criou um site “oficial” para o evento (www.guerracivil.com.br), onde estarão disponíveis as “últimas notícias” da saga, além de contarem com links para seu fórum de debates, e até para uma votação on-line, onde os leitores podem votar em qual lado eles acham que está mais certo. Embora Guerra Civil seja uma minissérie em 7 partes, que serão publicadas mensalmente, de julho até janeiro do ano que vem, seus desdobramentos acontecerão em praticamente todas as demais revistas da Marvel publicadas pela Panini. Quem quiser acompanhar tudo a que tiver direito que se prepare para comprar inúmeros gibis. A minissérie terá preço de capa de R$ 3,90 (exceto a edição 1, que custa R$ 4,90).
Homem-Aranha revela sua identidade ao público: um dos pontos polêmicos da saga.
            Nestes tempos de internet e comunicações quase instantâneas, o final e as conseqüências de Guerra Civil já são conhecidos de vários leitores. Por outro lado, isso gerou uma grande repercussão, dando um destaque tremendo ao evento, que está chamando a atenção de muitos, até de quem não lê quadrinhos. No orkut, por exemplo, tem havido debates e trocas interessantes de idéias sobre o quê está em jogo na saga, com posições bem fundamentadas de ambos os lados. No próprio site oficial da Panini, na votação on-line, mostra uma disputa acirrada entre os que “apóiam” o registro dos super-heróis, e a turma contra o registro, o que mostra que, na disputa, não há um lado completamente certo, nem um completamente errado.
            O que esperar de Guerra Civil propriamente? Muita coisa, ainda mais se pararmos para pensar que, no passado, já houve grandes confrontos pela discussão de idéias e ideais. Agora chega a vez do mundo ficcional dos super-heróis enfrentar situação semelhante. E você? De que lado vai ficar?

Capitão América: Até a lenda vida da liberdade passou a ser tratado como criminoso e renegado. Gratidão por décadas de feitos heróicos foram literalmente esquecidos.

RUMO À GUERRA CIVIL

            A situação do Universo Marvel nos últimos tempos é extremamente tensa. E, com razão, pois aconteceram diversos fatos que, isoladamente, foram se acumulando até desaguarem nos acontecimentos atuais. Alguns fatos foram públicos, outros, nem tanto, mas todos contribuíram para deixar a credibilidade dos chamados super-heróis em xeque.
            O X-Man Wolverine, por exemplo, foi capturado pela Hidra e submetido a lavagem cerebral, tornando-se um verdadeiro assassino sob ordens da organização criminosa. E Logan mostrou porque é tão perigoso: ele matou inúmeras pessoas, feriu muitas outras, e deixou diversas autoridades em pânico, temendo serem seus próximos alvos. Apesar de desprogramado, as autoridades não têm mais tranqüilidade quando Wolverine está por perto. Nos Vingadores, um incidente entre o Valete de Copas e a Mulher-Hulk fez com que Jennifer Walters perdesse o controle de seus poderes, tornando-se tão perigosa quanto o próprio Hulk. Na tentativa de detê-la, uma cidade inteira foi destruída. Ninguém morreu, mas o medo ficou estampado no rosto das pessoas.
Controlado, Wolverine virou uma máquina de matar, deixando muita gente assustada. E com razão de sobra...
            Para os Vingadores, o pior ainda estava por vir. Descontrolada emocionalmente, a Feiticeira Escarlate voltou-se contra sua própria equipe, destroçando-a. Alguns heróis morreram, e a cidade de Nova Iorque sofreu inúmeros danos decorrentes da luta que “enterrou” os Vingadores como os conhecíamos. Ao fim do confronto, os Vingadores não existem mais, e vários membros se desentenderam consigo mesmos. Na tentativa de encontrar uma solução para o problema de Wanda Maxximoff, seu irmão Pietro, receoso de que seus próprios colegas fossem matá-la, força a jovem a alterar toda a realidade, tornando a Terra um mundo dominado pelos mutantes, que oprimem os humanos. Com a ação de vários heróis, a realidade normal foi restaurada, mas Wanda literalmente “dizimou” a raça mutante, excluindo seus poderes. De milhões, restaram poucos mutantes no mundo. De posse desta informação, e sem saber exatamente o ocorrido, um temor implícito passou a circular na sociedade, que viu a violência dos grupos extremistas anti-mutantes explodir, com a morte de inúmeros “ex-mutantes”, que agora se encontravam indefesos sem seus poderes. Os X-Men, por exemplo, passam a ficar confinados ao Instituto Xavier, em Westchester, sob a proteção dos robôs Sentinelas do governo americano.
A Mulher-Hulk teve seu dia de surto e fez juz ao nome "Hulk",  causando inúmeras destruições, até ser detida.
            Meses antes, outros atos dos heróis já haviam desencadeado fortes desconfianças no público. Determinado a deter os planos malignos de Victor Von Doom de uma vez por todas, Reed Richards tomou posse da Latvéria, afrontando as normas de direito internacional. Reed conseguiu inutilizar as estruturas de Destino, para evitar que ele recuperasse seu status de déspota, mas a imagem do Quarteto Fantástico ficou extremamente negativa, a ponto de o governo americano e a SHIELD darem voz de prisão a Richards e seu grupo. Quase ao mesmo tempo, Thor, o Deus do Trovão, novo governante de Asgard, havia decidido tornar o lar dos deuses nórdicos vizinha da Terra, e permitir que os mortais pudessem ter a ajuda dos imortais em diversos assuntos. Ao mesmo tempo, declarou-se protetor e regente da Terra, alegando que alguém precisava mostrar aos mortais o seu real rumo na existência. Thor acabou abandonando os Vingadores, e chegou até mesmo a enfrentar o Capitão América e o Homem de Ferro em luta direta. Mesmo tendo se dado conta do erro de sua estratégia, e levado Asgard de volta para seu lugar de origem, aumentou ainda mais a desconfiança da população, que ficaram receosas de serem “dominadas” pelos ditos super-heróis.
A "queda" dos Vingadores foi brutal, e aumentou a insegurança dos super-heróis conseguirem sempre salvar o dia.
            E, como desgraça pouca é bobagem, o Hulk também entrou de gaiato na história, sofrendo uma desestabilização por conta de uma explosão gama. Enquanto não recuperou o controle, arrasou uma cidade, matando diversas pessoas. E o temor de que o Hulk, que já teve diversas crises de descontrole, se repetisse de novo, não ajudou a deixar o clima mais ameno, muito pelo contrário. O golias verde, aliás, é um dos heróis que ficará à margem do conflito, por ter sido exilado em outro planeta após ser trancado em um foguete e mandado para fora do Sistema Solar, numa tentativa de prevenir a Terra de outros “incidentes” que possam causar mais mortes e destruição. Mas claro que o Hulk vai dar um jeito de retornar ao nosso planeta, e quando isso acontecer...salve-se quem puder, pois ele estará bem mais do que simplesmente zangado, não importa se com amigos ou inimigos...
            Por tudo isso, a situação dos heróis atinge um ponto crítico, e antes idolatrados como salvadores de todo o mundo, as pessoas agora se perguntam se o mundo na verdade não estaria muito melhor sem eles. Gratidão pelos salvamentos de todos estes anos? Esqueça. O mundo parece estar piorando, e as pessoas também. Dá-se a forte impressão de que é melhor sacrificar o outro para se garantir do que bancar o vizinho solidário e gentil. Ficção? Sim, mas quem garante que o mundo não está caminhando nessa direção?

A "extinção" dos mutantes levou a um aumento no número de atentados racistas perpetrados por grupos anti-mutantes. Os X-Men tiveram de ser "sitiados" para sua própria segurança...

REFLETINDO OS DIAS ATUAIS

            Pode-se dizer que o clima dos quadrinhos atuais é um reflexo do panorama atual do mundo, em especial depois dos atentados do dia 11 de setembro de 2001, quando terroristas seqüestraram aviões e os lançaram no World Trade Center e no Pentágono, ocasionando uma tragédia sem igual. De lá para cá, as autoridades de diversos países, em especial os Estados Unidos, declararam um “guerra” contra o terror, com resultados de eficácia duvidosa, pois ninguém pode afirmar que o mundo está “mais” seguro do que antes. E, o que mais as autoridades fizeram foi tomar ainda mais atitudes por baixo do pano, e afrontando direitos individuais, e até a opinião pública moderada.
O atentado de 11 de setembro de 2001 deixou os Estados Unidos com os nervos à flor da pele. E dane-se a razão num momento destes.
            Tome como exemplo a invasão do Iraque, movida literalmente a toque de caixa, sob o pretexto de que Saddam Hussein apoiava terroristas e estocava armas potenciais em massa, até hoje não encontradas. Os EUA declararam uma guerra e não deram a mínima para a opinião do resto do mundo, contando com poucos países em apoiá-los incondicionalmente, como a Grã-Bretanha. A tragédia do World Trade Center serviu de pretexto justificativo para se atropelarem normas e procedimentos. Elegeu-se um bode expiatório, e os maiorais em Washington aproveitaram para fazer coisas que, no íntimo sempre desejaram. E, dentro de casa, o sentimento de controle ampliou-se a níveis muito maiores do que os de então. Baixou-se o “Ato Patriótico”, que deu ao governo americano a prerrogativa de invadir a privacidade de seus cidadãos sem necessidade de autorizações judiciais ou outros pormenores legais. Tudo em nome da “segurança” do país. Com as imagens do atentado frescas na cabeça de muitos, os políticos não tinham como receber contraargumentações à altura, apesar da chiadeira de centenas de pessoas, que corretamente afirmavam que toda a população não deveria pagar pelos erros de poucos. Em vão. A paranóia vencia a razão, e até hoje ainda tem muita gente que prefere atirar em pessoas suspeitas de serem terroristas do que perguntar primeiro, com medo do pior. A reeleição de Bush como presidente dos Estados Unidos apenas provou que os americanos continuam ressabiados, pois os republicanos simplesmente acusaram os democratas de querer “entregar” o país à insegurança e aos terroristas, quando estes falavam em moderação das atitudes a serem tomadas.
            Basicamente, isso apenas reforçava uma velha idéia de que as autoridades só se sentem à vontade quando podem “controlar” totalmente alguma coisa. Basta ver os percalços da política internacional, que mostram quanta patifaria se comete por baixo dos panos, com detalhes que poderão nunca ser totalmente conhecidos. No caso da invasão do Iraque, é interessante notar que foram os próprios americanos que levaram Saddam Hussein ao poder naquele país, como medida de arrumar um vizinho que pudesse conter o Irã, que havia sofrido uma “revolução” islâmica considerada pelos autocratas americanos como indesejável, e que deveria ser combatida, tudo porque os iranianos não passavam mais a comungar pela cartilha de Washington. Mas Saddam mostrou ter suas próprias idéias, e no início da década passada, invadiu o Kwait, dando origem à Guerra do Golfo, e de um momento para o outro, o ditador do Iraque não era mais “confiável”. Dez anos depois, o Iraque ainda era “não-confiável”, apesar de ser inimigo do Irã, outro país “não-confiável”. Voltou-se a um clima que recordava os piores momentos da Guerra Fria, onde se você não estava do lado dos EUA, era tachado de comunista. Então, quem se opunha à guerra antiterror americana, implicitamente era tido como aliado dos terroristas. Quem disse que o homem aprende com os erros do passado?
Como os heróis podem salvar alguém se não conseguem salvar a si mesmos?
            Como não são só as autoridades a terem culpa no cartório, o próprio povo tem uma grande parcela de culpa também na cobrança de providências, e pela onda de desconfiança e até de racismo demonstrada. Voltando novamente ao 11 de setembro, como foram resultado de ações de terroristas islâmicos, muitos passaram a ver em cada árabe um terrorista potencial camuflado. Com a internet a toda, não foram poucos os sites, seguidos de ações de grupos, discriminando qualquer pessoa, apenas por ser árabe, ou por ser islâmica. De um instante para o outro, ser árabe ou devoto do Islã virava sinônimo de terrorista. E muitas pessoas, que nada tinham a ver com a história, foram condenadas pelas sociedades em que viviam. E, com o surgimento de terroristas em locais, e vivendo nestes locais, só piorou o panorama geral de paranóia: a pessoa a seu lado poderia ser o pior terrorista do mundo. Especialmente nos EUA, considerados o país da liberdade, de repente, passava a condenar veladamente qualquer um que, aos olhos dos demais, parecesse suspeito, até um olhar mal-encarado poderia ser desculpa para alguém ser considerado potencialmente perigoso para a sociedade. E várias pessoas sofreram muito por isso, sendo que algumas foram até mortas, pela ignorância das pessoas.
            No panorama de “Guerra Civil”, diversos acontecimentos recentes contribuíram para desgastar a imagem dos super-heróis. E a paciência da população, esgotada, escolhe os heróis como bode expiatório, bastando que um ato irresponsável de apenas alguns acabem por condenar sistematicamente todos os outros. E, com o desastre de Stamford, a opinião pública encontrou a sua “gota” que fez transbordar o copo. E as conseqüências estão aí. De um momento para o outro, todos os heróis passaram a ser vistos como prepotentes, arrogantes, irresponsáveis, etc. Mesmo aqueles que desfrutavam de grande popularidade, e tendo identidades de conhecimento público, tornaram-se alvo da manifestação irracional do povo, como se fossem os próprios culpados pela tragédia. O Tocha Humana, por exemplo, foi espancado por um grupo de indivíduos, após um bate-boca, em que o membro do Quarteto Fantástico tentava explicar que seu grupo não cometeria atos como o de Stamford. Mas o público, ávido por satisfações, apenas deu vazão à sua violência, mandando o irmão da Mulher Invisível direto para a UTI de um hospital.
Capitão América: defesa da liberdade de escolha acima de tudo.
            O próprio Capitão América, com uma folha corrida de fazer inveja a todos os outros heróis, pelo simples fato de se recusar a prender colegas apenas pelo fato de que eles têm direito de discordar, foi tachado de rebelde e criminoso, e precisou enfrentar uma equipe inteira da SHIELD para sair do porta-aviões aéreo. A partir deste momento, mostra-se a ingratidão das autoridades, que passam a rotular um herói nacional como um criminoso, apenas porque ele não concordou com a lei. Onde está o direito do cidadão? E das minorias (afinal, os heróis são uma minoria)? Para piorar tudo, os heróis favoráveis ao registro, estão prontos para enfrentarem os “rebeldes” como o Capitão e seus aliados são chamados. E o povo também começa a fazer o seu showzinho, mostrando até um pouco de falta de caráter, pois dá a entender que anos e anos de ações heróicas foram literalmente esquecidas de um momento para o outro...
            Ao colocar os heróis frente a um dilema que envolve basicamente uma discussão de um fato legal, “Guerra Civil” simplesmente traz para a ficção dos quadrinhos de super-heróis algo com o qual eles nunca se defrontaram antes. Não há vilões ou uma ameaça ao planeta a ser detida, nem tampouco algum plano mirabolante de conquista ou invasão a ser detida. O problema é como os heróis lidarão com uma imposição legal como o registro e suas obrigações. Nada seria muito problemático, não fosse a retumbante verdade de que, uma vez no controle, as autoridades, mais cedo ou mais tarde, certamente farão com os heróis o que lhes for mais conveniente.
O Homem de Ferro comandará os heróis que apóiam a lei de registro.
            Afinal, como alguns já mencionaram nas discussões sobre o tema: e se Washington resolvesse de fato invadir o Irã, por exemplo, e para isso convocasse seus super-heróis e ordenasse a tomada de Teerã, com o argumento de que o regime dos aiatolás fomenta terroristas no planeta inteiro? O que acontece de fato? Os heróis terão de obedecer, ou serão enquadrados por sua desobediência, assim como qualquer soldado militar é punido por desobedecer a ordens superiores, mesmo que ele esteja com a razão, e seu superior não. E como as autoridades os “punirão” por sua rebeldia num caso destes? E a questão contundente: o que acontece quando as autoridades estiverem erradas, e os heróis, tendo de obedecer a critérios equivocados, acabarem piorando uma situação que todos saberiam que ficaria assim com o rumo ordenado das intervenções heróicas? As autoridades assumiriam seu erro, ou jogariam a culpa nos heróis, citando ter havido algum equívoco por parte deles no cumprimento do dever?
            Outra verdade contundente é que nem todas as autoridades são “confiáveis”. Basta ver nosso Congresso nacional. Alguém aqui confiaria algum segredo naqueles políticos? Pois isso está mais do que refletido na saga, onde os heróis se perguntam se podem confiar seus segredos às autoridades. Seu anonimato é a única coisa que os protege de represálias de bandidos que eles ajudaram a pôr na cadeia, os quais não constituiriam ameaças se realmente ficassem presos. Vejamos os policiais cariocas que foram mortos por bandidos simplesmente por serem policiais, nos últimos tempos. A ação dos bandidos foi para vingar a repressão mais forte por parte das autoridades às ações dos traficantes nos morros da cidade. Tem policial que vai para o serviço de roupas civis, e só lá na repartição veste seu uniforme, tamanha a insegurança que muitos sentem no momento onde não estão a cumprimento de seu dever. Infelizmente, estamos chegando quase a este nível...
            Como os diretores da Marvel declararam, a última coisa desejada é que “Guerra Civil” agradasse a todo mundo. De fato, as discussões foram tantas e com tal equilíbrio de opiniões, que talvez nenhuma série de quadrinhos tenha gerado até hoje, na discussão de aplicação de um preceito mais do que real ao universo dos super-heróis. Por este feito, a minissérie da Marvel já ganha muitos pontos em relação a muitas outras sagas até hoje publicadas.

Guerra Civil foi o evento do ano no mercado americano de quadrinhos em 2006, e promete repetir o feito no Brasil em 2007.

AS EDIÇÕES COMPONENTES DA SAGA (Até o fechamento desta matéria)

Fase pré-Guerra Civil

Homem-Aranha 64
Os Novos Vingadores 39
Homem Aranha 65
Universo Marvel 23
Homem-Aranha 66
Universo Marvel 24


Guerra Civil

Edição especial do Clarim Diário noticiando a "Guerra"
Guerra Civil 1
Homem-Aranha 67
Avante, Vingadores! 7
Wolverine 32
Guerra Civil 2
Homem-Aranha 68
Universo Marvel 26
Marvel Action 8
Os Novos Vingadores 43
Wolverine 33
Guerra Civil 3
Guerra Civil Especial 1
Homem-Aranha 69
Universo Marvel 27
Os Novos Vingadores 44
X-Men Extra 69
Avante, Vingadores! 9
Wolverine 34
Guerra Civil 4
Homem-Aranha 70
Universo Marvel 28
Os Novos Vingadores 45
X-Men Extra 70
Avante, Vingadores! 10
Wolverine 35
Guerra Civil 5
Guerra Civil Especial 2
Homem-Aranha 71
Universo Marvel 29
Marvel Action 11
Os Novos Vingadores 46
X-Men Extra 71
Avante, Vingadores! 11
Wolverine 36
Guerra Civil 6
Guerra Civil Especial 3
Homem-Aranha 72
Universo Marvel 30
Marvel Action 12
Os Novos Vingadores 47
Avante, Vingadores! 12
Wolverine 37
Guerra Civil 7
Homem-Aranha 73
Universo Marvel 31
Marvel Action 13
Os Novos Vingadores 48
Guerra Civil Especial 4

Os Vingadores enfrentaram seu pior momento em "A Queda". E Nova Iorque não escapou da destruição advinda desse momento sombrio.


ATUALIZANDO: Apesar de alguns sobressaltos, a Panini conseguiu publicar aqui tudo o que foi lançado nos Estados Unidos, durante o segundo semestre de 2007 e o início de 2008, mostrando todos os acontecimentos relacionados à megassaga que criou um grande cisma entre a comunidade heróica da Marvel, que persistiu por alguns anos, só sendo resolvida ao fim de Reinado Sombrio, com a derrocada de Norman Osborn, que por uma série de fatores e acontecimentos acabou ficando como manda-chuva da SHIELD, o que mostra como as autoridades, em seu "supremo" conhecimento, só ajudou a levar a situação para o pior caminho possível, quando se convenceu de que os super-heróis eram um problema que deveria ser resolvido à sua maneira. Além da minissérie, foram lançadas várias edições especiais, reunindo histórias de títulos variados que ajudaram o leitor nacional a se situar melhor no emaranhado de histórias que faziam parte da saga, que repercutiu em praticamente todos os títulos Marvel, com algumas exceções. E o jornal "Clárim Diário" foi uma excelente sacada da editora também, que fez uma divulgação interessante do tablóide, chamando atenção de pessoas que nem liam quadrinhos, para a saga que era apresentada. Uma idéia que a Marvel poderia muito bem adotar em todas as suas megassagas, como forma de informar e situar o leitor a respeito de vários aspectos e detalhes do assunto principal que motiva a saga em questão.

Herói contra herói. E para piorar, ambos os lados tem razões bem plausíveis para defenderem seus pontos de vista...


Enlouquecida, a Feiticeira Escarlate provocou a queda dos Vingadores, e depois ainda quase causou a extinção dos mutantes. Como dormir tranquilo com um barulho destes?

segunda-feira, 9 de maio de 2016

CLÁSSICOS DE CONAN EM EDIÇÃO ESPECIAL PELA MYTHOS



                Os fãs de Conan, o guerreiro cimeriano mais famoso dos quadrinhos podem começar a comemorar. A Mythos Editora está lançando uma edição pra lá de especial, compilando nada menos do que as primeiras aventuras em quadrinhos produzidas estreladas pelo guerreiro bárbaro criado por Robert E. Howard nos anos 1930. AS CRÔNICAS DE CONAN - VOLUME 1, é uma edição em formato americano, com direito a capa dura, com cerca de 180 páginas, ao preço de R$ 79,90. A edição chega às gibiterias e livrarias até o fim do mês, além de contar com distribuição setorizada, e já se encontra em pré-venda no site da própria editora, no endereço https://mythoseditora.com.br, com opção de 15% de desconto. O volume compila as primeiras 8 edições da revista "Conan The Barbarian", o primeiro título de quadrinhos lançado pela Marvel Comics.
                Trata-se de um material clássico, produzido nos distantes anos 1970. A Marvel havia adquirido os direitos para produzir histórias em quadrinhos do personagem, e em outubro de 1970, lançava a revista estrelada pelo bárbaro cimeriano, com roteiros de Roy Thomas, com arte de Barry Windsor-Smith, que foram parceiros nas primeiras 24 edições de Conan The Barbarian, que apesar de um início de vendas meio claudicante, com o título sendo até cogitado para ser cancelado por causa das baixas vendagens, conseguiu dar a volta por cima, e se tornar um dos mais populares gibis da editora naquela década. Mas a grande fama de Conan viria nos anos 1980, com o novo título "The Savage Sword of Conan" (A Espada Selvagem de Conan), publicada em formato magazine, em preto-e-branco, que se tornaria um fenômeno de vendas, inclusive no Brasil, onde a Editora Abril criou um título próprio para o personagem, nos mesmos moldes, chegando a vender mais de 200 mil exemplares por edição em seus melhores dias.
                O material compilado neste volume foi publicado originalmente de forma integral no Brasil pela editora Bloch, no seu curto período de publicação dos títulos da Marvel, nos anos 1970. Foram 6 edições estreladas pelo cimério, em um título próprio, lançadas entre março e agosto de 1976, com as 12 primeiras aventuras do título americano de Conan. A revista também publicou, na primeira edição, a primeira aparição de Sonja, a Guerreira, no Brasil, outra personagem também licenciada pela Marvel, que teria inúmeros encontros com com Conan durante sua estada na Casa das Idéias. Curiosamente, a Bloch não foi a primeira editora a lançar os quadrinhos do bárbaro da Ciméria em nosso país: em 1972, a editora Minami & Cunha lançou 3 edições estreladas por Conan, que teve seu primeiro título próprio, trazendo histórias "sortidas" do herói, que durou apenas 3 edições, sendo cancelado logo depois. No ano seguinte, em 1973, a editora Graúna lançou uma única edição, com uma aventura de Conan tirada da edição 15 do título da Marvel, só que o personagem foi rebatizado para "Hartan, o Selvagem". No mesmo ano, a editora Roval também lançou 3 números do personagem, de volta ao seu nome original. Estas edições de curta duração trouxeram uma ou outra história das aventuras que agora estão reunidas na bela edição da Mythos, mas os leitores nunca tiveram chance de acompanhar um maior número de aventuras do personagem.
                Após o cancelamento das revistas da Bloch, Conan só voltaria aos quadrinhos nacionais nos anos 1980, mais precisamente em 1982, quando suas aventuras passaram a estrelar o cast da revista Heróis da TV, segunda publicação Marvel da Editora Abril. No mesmo ano, com o lançamento da revista Superaventuras Marvel, o personagem passou a frequentar regularmente a revista, dividindo com Heróis da TV suas aparições nos títulos Marvel publicados pela Abril. Em 1984, o personagem voltaria a ganhar edição regular pela editora, com o lançamento de A Espada Selvagem de Conan, seu título mais longevo no país, além de ganhar várias edições especiais ao longo dos anos.
                Nos Estados Unidos, a revista Conan The Barbarian foi publicada até dezembro de 1993, durando nada menos do que 275 edições, contando também com cerca de 12 edições especiais anuais. Após o fim do contrato de licença com a Marvel Comics, no início dos anos 2000, o personagem passou a ser publicado pela Dark Horse, onde está até hoje, mesmo que a fama do guerreiro cimério não seja mais a mesma dos bons tempos dos anos 1980. No Brasil, depois de ter seu título cancelado pela Abril, a Mythos Editora assumiu a publicação, que foi cancelada em 2010. De lá para cá, a editora lançou apenas edições especiais com o guerreiro bárbaro. E dá seguimento agora com esta bela edição encadernada.
                A edição brasileira é uma versão fiel da série "The Chronicles of Conan", publicada desde 2003 pela Dark Horse Comics no mercado norte-americano, e de lá para cá, vem republicando integralmente o material do título editado pela Marvel, tendo até o momento sido lançadas 32 edições, aproximando-se do seu final, após mais de uma década. Trata-de de um material clássico que há tempos não era republicado em nosso país, e que agora terá a chance não apenas de ser revisto, como também lido por toda uma nova geração de leitores, que poderão ver o bom material publicado pela Marvel com o personagem dos pulps criado por Robert E. Howard nos anos 1970, e que tornariam o nome de Conan mais famoso do que jamais havia sido nos livros lançados até então com o guerreiro cimério.
                Das histórias criadas pela Marvel naqueles tempos, a maioria era completamente inédita, enquanto algumas eram adaptações livres dos contos originais de Robert E. Howard. As histórias deste primeiro volume são: "O advento de Conan!", com sua primeira aparição nos quadrinhos americanos; "O covil dos homens-feras!"; "O crepúsculo do deus cinzento!"; "A torre do elefante!"; "A filha de Zukala"; "O demônio alado de Shadizar"; "A criatura que espreita na escuridão"; e "Os guardiões da cripta". Todas as histórias foram "remasterizadas" pela Dark Horse Comics, isto é, tiveram suas cores originais retrabalhadas para os padrões digitais atuais de colorização, a exemplo do que foi feito na série "Tales of Asgard" (Contos de Asgard), republicada recentemente na coleção de Graphics Marvel da editora Salvat.
                Por enquanto, não há maiores informações se a Mythos irá lançar as demais edições desta série que compila todo o material original de Conan da Marvel, ou se isso ficará restrito unicamente a esta edição, mesmo com a indicação de "Volume1" na capa da publicação. Vai depender unicamente dos leitores e fãs do personagem, principalmente em virtude da crise econômica nacional, que está afetando vários setores da indústria e comércio, e que se faz sentir também no mercado editorial de quadrinhos. Se as vendas forem boas, as chances de a editora dar seguimento à coleção, lançando novos volumes, crescerão bastante. A própria Mythos já se dirigiu a seus leitores, recentemente, explicando as dificuldades que vem enfrentando com a crise econômica no lançamento de seus títulos de quadrinhos, e como eles têm tentado encontrar alternativas que permitam a viabilidade dos lançamentos que vem fazendo. Que os fãs e leitores, dentro de suas possibilidades, ajudem a tornar esta nova e bem-vinda edição de Conan o início de uma bela coleção do personagem, que permita aos fãs de quadrinhos acompanharem parte da longa trajetória do guerreiro da Ciméria nas publicações clássicas produzidas pela Marvel que criaram a sua grande fama nos quadrinhos. Vida longa às aventuras de Conan, por Crom!

PANINI LANÇA CAVALEIRO DAS TREVAS III



                Uma das histórias mais famosas do universo dos quadrinhos, Cavaleiro das Trevas, criada e desenhada por Frank Miller em 1986 até hoje rende repercussões e influência no mundo inteiro. O que deveria, em tese, ser uma única história na minissérie publicadas nos anos 1980, contudo, ganhou continuação no início da década passada, e mesmo com os comentários negativos de boa parte do público leitor, que considerou a segunda história "dispensável" ou "indigna" de ser tratada como continuação da obra-prima feita pelo próprio Miller vários anos antes, a DC Comics anunciou no ano passado que a história teria uma continuação. Sim, Cavaleiro das Trevas III estava a caminho, e novamente com Frank Miller a bordo.
                Aproveitando que o artista norte-americano foi o convidado de honra da CCXP no ano passado, a Panini rapidamente anunciou que a nova minissérie seria publicada este ano no Brasil, antes mesmo da minissérie ser publicada integralmente nos Estados Unidos. Seria apenas questão de deixar que a publicação americana tivesse mais de sua metade já lançada para que se pudesse publicar a edição nacional. E esse momento chegou: Desde o início deste mês de maio, já chegou às bancas e gibiterias brasileiras a primeira edição da minissérie, com o título de CAVALEIRO DAS TREVAS III: A RAÇA SUPERIOR. Nos Estados Unidos, os leitores americanos já têm à disposição as primeiras 4 edições da minissérie, que terá um total de 8 números.
                Ao contrário das duas primeiras minisséries, desta vez Frank Miller não comanda a história sozinho, nem providencia a arte das edições. Miller assina o roteiro, em parceria com Brian Azzarello. Os desenhos ficaram a cargo de Andy Kubert e Klaus Janson. Para muitos leitores, o fato de Frank Miller não cuidar dos desenhos foi visto com bons olhos, uma vez que eles não acharam apenas a história da parte II fraca, mas detestaram também a arte produzida pelo artista naquela nova minissérie, considerando-a muito inferior ao que o próprio Miller já tinha produzido em sua carreira.
                Nos Estados Unidos, cada edição da minissérie, além da história principal, traz também uma segunda história, focada em um dos personagens do universo de "Cavaleiro das Trevas", na forma de um minigibi com 16 páginas cada uma. E o melhor de tudo é que estas histórias "extras" estão presentes na edição nacional, também na forma de um minigibi que vem encartado dentro de cada número. A edição de estréia traz a história de Átomo (Eléktron, para os mais tradicionalistas), que também saiu na primeira edição da versão americana. Outro ponto positivo é a qualidade gráfica da edição nacional, com direito a capa cartão, e miolo em papel couché, com cerca de 32 páginas. Isso para não falar das capas variantes que a Panini também está disponibilizando, algumas delas para venda exclusiva em algumas gibiterias, como a Devir e a Comix. O preço de cada edição da minissérie é de R$ 9,90, que terá periodicidade mensal.
                Nos Estados Unidos a DC produziu uma infinidade de capas alternativas para cada edição, fazendo um acordo com várias comic shops pelo país inteiro para vendas exclusivas de cada uma delas. Algo completamente inviável de se fazer por aqui na mesma escala, mas seria interessante se a Panini pudesse colocar estas artes como "material extra" ao fim da coleção, para que os leitores nacionais pudessem ver o resultado do esforço de todos os artistas que contribuíram para estas capa variantes. Quem sabe uma edição especial, ou talvez só esperando pela edição encadernada, que inevitavelmente sairá em algum momento...
                Cavaleiro das Trevas III ocorre cronologicamente 3 anos após o fim dos eventos da segunda minissérie, e um dos destaques da história será a participação dos personagens femininos na trama, como a Mulher-Maravilha, Lara, a filha do Super-Homem com Diana, e até Carrie Kelley, a antiga Robin da minissérie original. Depois de um novo período de ausência, Batman está de volta à ativa em Gotham City, mais violento do que nunca, e pouco sutil em seus confrontos com aqueles que afrontam a lei, mesmo que estejam oficialmente trabalhando por ela. E é lógico que as autoridades não vão engolir o vigilante uniformizado solto pelas ruas da corrompida metrópole. Paralelo a isso, o povo da cidade kryptoniana engarrafada de Kandor quer o que acha ser um direito mais do que natural: voltar às suas estaturas originais. Mas as consequências de se trazer ao tamanho natural uma cidade de milhões de cidadãos do extinto planeta de Krypton torna-se um dilema quando todos eles adquirem, sob o sol amarelo da Terra, os mesmos superpoderes do Guper-Homem. E obviamente que alguns cidadãos de Kandor não irão se prestar a obedecer às leis ou se comportarem de modo decente e com caráter. Mas como combater uma cidade inteira de "super-homens"? Com planejamento e determinação, Batman derrotou e chegou a humilhar o Super-Homem no confronto travado entre ambos na primeira minissérie. Mas o homem-morcego seria capaz de fazer o mesmo numa escala de encarar uma cidade inteira? Como isso irá se desencadear, e o que poderá ser feito para evitar um confronto de proporções inimagináveis, com resultados imprevisíveis? É ler para descobrir onde tudo irá parar. O próprio Miller dá a dimensão do desafio, numa declaração feita durante a CCXP 2015 sobre a nova minissérie: “O que aconteceria se o planeta se visse subitamente habitado por milhões de super-homens? Pense nas implicações. Nós nos tornaríamos uma subespécie no planeta. E qual herói seria louco o suficiente para liderar uma insurreição? Ele vive numa caverna. Essa é uma dica.”
                Mas antes mesmo de começar a acompanhar o desenrolar da saga de Cavaleiro das Trevas III, o leitor mais informado já sabe que a saga não vai acabar por aqui. Ainda no ano passado, Frank Miller já havia anunciado que irá haver uma quarta minissérie, e que nesta próxima aventura, ele voltará a cuidar tanto da arte quando argumento, chegando a insinuar, na entrelinhas que, mesmo com sua participação nesta terceira minissérie foi lançada, a história contém mais a visão de Brian Azzarello do que a sua própria, sobre o desenvolvimento e rumo da história. Em outras palavras, o futuro "Cavaleiro das Trevas IV" voltará a ser uma produção "puro-sangue" de Frank Miller, como foram a minissérie original e sua continuação, em 2001. A produção da nova aventura deverá começar este ano, mas ainda não há nenhuma data anunciada de quando os trabalhos começarão, e muito menos expectativa de quando será lançada. Miller já adiantou que está entusiasmado para começar os trabalhos o quanto antes. Resta aguardar pacientemente o desfecho desta terceira parte, e apenas imaginar o que o artista estará planejando para a quarta minissérie do universo de Cavaleiro das Trevas...

SCOOBY-DOO ENCONTRA A FAMÍLIA MARVEL



               Em tempos em que as editoras americanas andam lançando vários cross-overs interessantes, eis que há um título regular da DC Comics voltado unicamente para este fim, estrelado pela turma de investigadores de mistérios mais famosa dos desenhos animados, ninguém menos do que a Scooby-Doo e sua turma, Fred, Welma, Daphne, e Salsicha. O título em questão chama-se SCOOBY-DOO TEAM UP!, e desde que foi lançado, em 2014, tem trazido o pessoal da Máquina Mistério em divertidas aventuras com os mais variados personagens. Só para se ter uma idéia, a última edição do título, que é bimestral, lançada neste mês de maio nos Estados Unidos, eles encontram ninguém menos do que a Família Marvel.
                Isso mesmo, Capitão Marvel, Mary Marvel, e Capitão Marvel Júnior estão desaparecidos, e para encontrá-los, Tio Dudley, bancando o Tio Marvel, junto com o Senhor Malhado, recorre aos préstimos dos jovens investigadores de mistérios, numa trama simples, mas divertida, com direito a participação de alguns dos maiores vilões da Família Marvel na parada. O roteiro é de Sholly Fish, com desenhos de Dario Brizuela. A edição tem preço de US$ 2,99.
                Ao longo das 16 edições lançadas até agora, a turma de Scooby tem protagonizado diversos encontros. As três primeiras edições, por exemplo, eles dividiram com Batman e seu universo de personagens, em diferentes abordagens. Na primeira edição, eles encontraram a Dupla Dinâmica, Batman e Robin, no mesmo estilo dos encontros mostrados há décadas atrás no próprio desenho animado. Na edição seguinte, é o Batman quem dá as caras na revista, mas em outro estilo. Na terceira edição, a turma da Máquina Mistério se vê em encrencas causadas pelo duende Bat-Mite (Batmirim, na versão brasileira). De lá para cá, só citando o universo de super-heróis da DC, eles encontraram com a Mulher-Maravilha, o Flash, A Liga da Justiça (estilo Superamigos), Super-Homem, Aquaman, Desafiador, Espectro, Dr. Meia-Noite, os Jovens Titãs (a versão do desenho animado produzido há alguns anos), e até mesmo as vilãs do universo do Batman em Gotham City, como Hera Venenosa e a amalucada Arlequina.
                Mas Scooby e sua turma também se encontraram com diversos outros personagens do universo da Hanna-Barbera, como por exemplo, Jonny Quest e seus amigos, os Jetsons, os Flintstones, e até mesmo o Esquilo Sem Grilo, em divertidíssimas histórias que muitos adorariam que virassem episódios do desenho animado da turma da Mistério & Cia. Vale lembrar que, na época do desenho animado, eles já protagonizavam alguns encontros com outros personagens. Eles participaram de alguns episódios da série do Falcão Azul e Dinamite, o Bionicão, auxiliando os defensores de Cidadópolis em algumas de suas aventuras. E em alguns outros episódio, além de Batman e Robin, eles cruzaram também com a dupla de O Gordo e o Magro, Stan Laurel e Oliver Hardy; a Família Adams, além de vários outros personagens "convidados" ao longo do tempo.
                Uma pena que este tipo de material não tem tido muito chance de ser publicado por aqui. Infelizmente as poucas edições mais recentes de histórias com personagens da turma da Hanna-Barbera lançados pela Panini nas bancas nacionais aparentemente não conseguiram cativar os leitores, o que motivou a descontinuidade da publicação. No caso do material desta série do Scooby-Doo, seria interessante se as histórias fossem lançadas numa edição especial, mas em um momento onde a crise econômica está pegando feio no bolso de milhares de brasileiros, infelizmente iniciativas como essa podem não ser muito atrativas para as editoras nacionais de quadrinhos, que já estão tendo várias dificuldades para manter as publicações regulares que já possuem, mesmo que Scooby-Doo e sua turma continuem sendo personagens muito populares. Mas, quem sabe há alguma esperança de que algo venha a ser lançado por aqui. Sonhar ainda é de graça, e esperemos que haja oportunidade mais favorável em que possamos curtir estes divertidos encontros do pessoal da Máquina Mistério com todos estes personagens.