O artista, que foi cartunista, pintor, compositor, e
escultor, entre outras atividades, faleceu aos 72 anos.
Adriano de Avance Moreno
O
mundo do entretenimento brasileiro ficou mais triste nestes últimos dias.
Faleceu, no último dia 27, no Rio de Janeiro, Daniel Azulay, criador de
inúmeros personagens, e um versátil artista que conquistou gerações sabendo
ensinar e cativar as pessoas como ninguém.
O
artista já estava com saúde debilitada em virtude de uma leucemia, e encontrava-se
internado há algumas semanas na Clínica São Vicente, na Gávea. Segundo relatos,
o artista teria contraído também o coronavírus Covid-19, o que teria complicado
sua já frágil condição física, e teria causado sua morte. Mas, até o fechamento
desta matéria, isso na verdade ainda era tratado como suspeita, uma vez que
ainda estão esperando por exames que confirmem o diagnóstico da doença como a
causa da morte de Azulay.
Nascido
em 30 de maio de 1947 no Rio de Janeiro, Daniel Azulay estreou profissionalmente
aos 18 anos de idade, redigindo matérias para um jornal esportivo, em 1965.
Dois anos depois, ele começaria a mostrar seus dotes artísticos, ao criar o
personagem Capitão Sol para uma série de tiras para publicação em um jornal,
que abriria caminho para a criação de outro personagem, o Capitão Cipó, que
também estrelaria uma série de tiras de jornal.
Mas
o maior sucesso do artista seria a Turma do Lambe-Lambe, um grupo de vários
personagens, com os quais estrelou um programa de TV a partir de 1975, onde
mostraria toda a sua capacidade frente ao público ligado na telinha, primeiro
pela TV Educativa, e depois na Bandeirantes, onde ensinava vários assuntos para
a criançada, entre eles, sustentabilidade, ecologia, história, além de
estimular a criatividade, com direito a várias atividades que visavam explorar
o mundo para ampliar a visão das crianças. E, sobretudo, ensiná-las a dar vida
a seus sonhos desenhando o que pensavam. "Criança que não desenha passa a
infância em branco", era o lema do artista plástico, que sorria sempre ao
rabiscar os mais improváveis desenhos em uma folha em branco, para todos verem
como se podia dar asas à imaginação. E com jeito todo infantil, com vários
trejeitos e manias, Azulay mostrava todo o seu carisma, conquistando a simpatia
do público em um programa infantil que conseguia o feito de prender a atenção
sem ter nenhum desenho animado no interior da atração, como costumavam fazer os
outros programas infantis da época, e posteriores. E uma prova do seu grande
sucesso foi sua longevidade, sendo exibido por anos e anos, sempre conseguindo
se sair bem perante a concorrência, que podia até ter mais audiência, mas não
conseguiam apresentar a mesma qualidade cultural e educativa que Daniel passava
para seu público cativo. Ele também incentivava a leitura das crianças desde o
início de sua carreira produzindo livros, quadrinhos, álbuns de figurinhas e
outras publicações voltadas para o público infantil e juvenil, visando atingir
esse objetivo, e nunca descuidando de procurar ensinar-lhes alguma coisa junto.
E
essa contribuição à educação levou o artista a receber vários prêmios, tanto
nacionais quanto internacionais. A Turma do Lambe-Lambe, seus personagens mais
famosos, transcenderiam o universo dos programas de TV, passando a estrelar uma
publicação própria em quadrinhos, pela Editora Bloch, para deleite dos fãs.
Estavam todos eles lá, o Pita e sua namorada Damiana, o Piparote, a Ritinha, a
Dona Xicória, a Gilda, o Professor Pirajá, além do Bufunfa e do Tristinho, sem
mencionar que o próprio Azulay dava as caras nas histórias vez ou outra. A
revista lançada pela Bloch acabou durando somente 4 edições, mas em 1982, os
personagens voltaram ao mercado de quadrinhos nacional, em um novo título
publicado agora pela Editora Abril, que durou 20 edições, entre 1982 e 1984.
Seu programa de TV acabaria cancelado ao final dos
anos 1980, depois de 15 anos de atividades, mas isso não apagou o brilhantismo
que conquistou diante de praticamente toda uma geração de crianças que teve a
sorte de conhecer seu programa. E como que tendo apenas um intervalo, em 1996,
lá estava novamente Azulay, de volta à TV Bandeirantes, mesmo que somente na
filial do Rio de Janeiro, a apresentar novamente seu programa, mais uma vez com
a companhia de seus famosos personagens, procurando manter sempre o caráter
cultural e educativo de seu programa, agora intitulado “Oficina de Desenho
Daniel Azulay”. E, claro, continuando com seu estilo todo característico de
ser, que ainda encantava quem o assistia, em uma época onde as emissoras ainda
se preocupavam um pouco em não emburrecer sua audiência, como viria a acontecer
anos depois. Nesta nova passagem pela TV, seu programa durou quatro anos,
saindo do ar no ano 2000.
O
artista continuou em atividade na década passada. Em 2003, 2004 e 2005 ele apresentou
a “Turma do Lambe-Lambe” na TV Rá-Tim-Bum da TV Cultura e também o programa “Azuela
do Azulay” no Canal Futura, da TV por assinatura, sempre procurando passar
mensagens positivas, e fazer com que as crianças aprendessem e se divertissem
ao mesmo tempo, sem cair na pieguice. Autodidata nas artes, Azulay parecia ser
na verdade o seu maior personagem, que parecia não envelhecer com o passar do
tempo, ao contrário dos outros artistas. Com uma voz melodiosa e agradável, e
sua aparência que nunca mudava, inclusive seus cabelos despenteados, ele nunca
mudou seu jeito de ser. E o próprio Azulay fazia questão de mostrar que, por
mais que a idade avançasse, continuava sendo aquela criança que havia
conquistado tantas pessoas, mesmo que isso já tivesse sido há décadas. Ele
simplesmente continuava sendo alegre, juvenil, e carismático como sempre havia
sido. E mostrava uma disposição invejável para sempre seguir em frente.
Nos últimos
anos, Daniel Azulay também ensinava desenho a crianças pela internet, além de ter
criado o curso de ilustrações Oficina de Desenho, com várias unidades no Rio.
Em 2015, a Ediouro, através do selo Coquetel, lançou o Almanaque da Turma do
Lambe-Lambe, em comemoração aos 40 anos de criação dos personagens. E em 2018,
Azulay foi agraciado com o Troféu HQ MIX, a maior premiação dos quadrinhos
nacionais, pelo conjunto de sua carreira. Daniel Azulay influenciou a geração
dos anos 1980, que teve a oportunidade de aprender com ele a desenhar,
construir brinquedos com sucata doméstica e a aprender a importância da
reciclagem e sustentabilidade em defesa do meio ambiente. Ele viajava pelo
mundo constantemente, expondo, fazendo palestras e conduzindo workshops de
arte, educação e responsabilidade social.
Engajado em causas sociais,
Azulay tinha o projeto “Crescer com Arte - Desenhando com Daniel Azulay”,
dirigido para crianças e adolescentes, que reúne atividades criativas voltadas
para a arte, educação e aperfeiçoamento do desenho, como forma de expressão e
ferramenta importante para auxiliar na formação da criança, com o objetivo de
investir na formação da criança e do adolescente, fazendo da arte um canal para
o desenvolvimento de auto estima, conscientização da cidadania e inserção
social. A meta do projeto é alcançar crianças nas mais variadas instituições,
através da ajuda de patrocinadores, que levam todo material e treinamento
necessário para o evento aconteça em diversas localidade.
Na
página do seu site, Oficina de Desenho – Daniel Azulay
(www.danielazulay.com.br), foi posta a mensagem de sua morte: “Com muito pesar
comunicamos o falecimento de nosso querido amigo Daniel Azulay. Eternizaremos
em nossos corações seus ensinamentos e sua alegria, deixando nossas vidas mais
leves e mais coloridas.” O meio artístico nacional, além de diversas outras
pessoas conhecidas, lamentaram a morte de Azulay. “Ele era uma pessoa que
acreditava no poder do desenho, no poder da história em quadrinhos, no poder da
narrativa gráfica, e sempre se preocupou em levar isso para as crianças e fazer
com que elas participassem desse entusiasmo”, declarou Waldomiro Vergueiro,
coordenador do Observatório de Histórias em Quadrinhos da USP. “São caras que
tem a vocação de ensinar a desenhar, a simpatia para cativar leitores. Ele
deixou uma presença muito forte, e isso vai nos acompanhar sempre.”, afirmou
Chico Caruso, cartunista. “Vamos ter saudade da Turma do Lambe-Lambe, dos seus
programas de TV. O mundo vai ficar mais triste sem Daniel Azulay. Meu amigo,
companheiro e colega, vá com Deus, Daniel!”, comunicou Mauricio de Sousa, em
relação à morte de Azulay.
“Uma das lembranças de
ser criança no Brasil, era ver Daniel Azulay desenhar em plano fechado com uma Pilot
azul ou preta numa folha de papel. 1979? 1980? 1981? Grande abraço e descanse
em paz. Pelo Corona”, disse o cineasta Kleber Mendonça Filho, diretor do recente
e aclamado longa-metragem Bacurau. “Que tristeza! Esse cara fez parte demais da
minha infância. Meus primeiros rabiscos tiveram sua influência, aliás, quem da
minha geração não ficava de olho na TVv para aprender a desenhar com ele, né?
Vá em paz, querido Daniel!”, disse o chargista mineiro Duke, sobre a morte de
Azulay. "Eu lembro dos programas que ele tinha na TV Educativa e na Band.
Eu acompanhava a Turma do Lambe-Lambe e também me inspirava nos programas em
que ele fazia montagens, pinturas e recortes. Me ajudou nesse processo
artístico, foi muito bacana. É uma parte da minha infância que está indo
embora", afirmou o chargista e caricaturista Lézio Júnior.
Por
tudo o que fez pelas crianças neste país, descanse em paz, Daniel. Em um
momento onde nossa juventude continua acéfala em relação a muitos assuntos, sua
falta será mais sentida do que nunca. Viva eternamente em nossa memória, e
algodão doce pra você, como costumava dizer com frequência.
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