A Editora JBC começa o ano de
2019 trazendo uma das mais clássicas e famosas obras dos quadrinhos japoneses:
A ROSA DE VERSALHES! A obra máxima da mangaká Ryoko Ikeda finalmente chegará
aos fãs e leitores neste mês de fevereiro, com o lançamento de suas primeiras
edições. E, para festa dos fãs, virão logo de uma vez os dois primeiros volumes
da série, que terá um total de 5 volumes na versão nacional, de modo que a
espera para os fãs será mais do que compensada.
Não que
a espera dos fãs tenha sido tão grande assim, se comparada a outra obra icônica
trazida pela editora, Akira, que levou praticamente dois anos entre o anúncio e
o primeiro volume ser lançado, e olhe que a obra ainda não terminou de ser
publicada, devido ao complicado sistema de aprovação da mesma entre a editora
japonesa e o autor da obra, Katsuhiro Otomo. Rosa de Versalhes foi anunciada em
março do ano passado, de modo que ao completar um ano do anúncio, os fãs já
terão em mãos os dois primeiros volumes. Uma espera razoável, mas muito
compensadora.
Primeiro,
porque a JBC conseguiu trazer uma série muito famosa, mesmo que antiga, uma vez
que títulos de maior idade de existência tem se tornado bem raros no mercado,
que tem focado em séries mais atuais. E Rosa de Versalhes é uma excelente obra,
que prestes a completar em breve 50 anos de existência, continua muito famosa e
atrativa, comprovando que boas histórias jamais envelhecem.
Criada
por Ryoko Ikeda, a série foi publicada inicialmente entre 1972 e 1973 no Japão,
pela editora Shueisha, na antologia Margaret, totalizando 10 volumes
encadernados, com o nome de Berusaiyu no Bara. A história se passa na França,
no século XVIII, antes dos tempos turbulentos da Revolução Francesa. A história
mistura personagens históricos com os criados por Ikeda, para conceber a saga
de Oscar François de Jarjayes, que se torna comandante da Guarda Real do
Palácio de Versalhes. Oscar é filha de François Augustin Regnier de Jarjayes
(que existiu de verdade), general das forças militares francesas que,
decepcionado por não ter conseguido prover um filho homem (já tinha tido 5
filhas), resolve criar sua caçula como se fosse um homem, dando-lhe inclusive
um nome masculino, Oscar, com o objetivo de que ela mantenha a tradição militar
da família.
Assim,
Oscar, desde a mais tenra idade, passa a receber uma educação masculina,
inclusive sendo instruída nas artes militares e desenvolvendo habilidades de
combate, como a esgrima. Aos 14 anos de idade, ela decide aceitar o destino
imposto por seu pai, e parte para Versalhes, para dar início à sua carreira
militar, acompanhada de André Grandier, neto de sua babá, e seu serviçal,
começando a servir à nobreza francesa. Com a chegada de Maria Antonieta à corte
de Versalhes, fruto de um casamento arranjado entre a França e a Áustria, Oscar
logo é designada para proteger a futura rainha da França, e a partir dali,
Oscar vai tomando contato com o ambiente da nobreza francesa em suas melhores e
piores qualidades, como conspirações, traições, indiferença, triângulos
amorosos, etc. Ao mesmo tempo, ela passa a ter contato também com as difíceis
condições de vida da população, em contraste à imensa opulência dos palácios,
onde seus ocupantes cada vez mais pensam e defendem apenas seus interesses,
ignorando os sofrimentos do povo.
Oscar
também vive em dilema consigo mesma. É uma mulher, mas tem de agir como um
homem, pois assim tem acesso e condições de agir que nunca teria como mulher.
Mas, ao mesmo tempo, não renega sua verdadeira natureza feminina, usando-a
quando necessário, o que não a impede de acabar sendo alvo de muitas paixões
por parte de outras mulheres, nem de se apaixonar por outros homens. Oscar se
revela uma personagem forte e complexa, que de início não parecia tão cativante
ou poderosa, mas que cresceu conforme a hitória fluía e se desenvolvia,
cativando cada vez mais os leitores japoneses, em uma época onde as mulheres
raramente tinham tal destaque na sociedade nipônica. A idéia original de Ikeda era
fazer uma versão biográfica em mangá de Maria Antonieta, com Oscar sendo uma
personagem de apoio. Contudo, Oscar foi se tornando cada vez mais a estrela da
história, pela aceitação do público à personagem, o que tranquilizou seus
editores, que não gostavam da idéia da série centrar-se na futura rainha da
França. Ao mesmo tempo, por ser uma personagem fictícia, Oscar oferecia maiores
liberdades criativas do que Maria Antonieta, cujo fim, por se tratar de uma
figura histórica, já tinha seu destino final conhecido desde o início. Assim,
Ikeda pode trabalhar com maior criatividade no desenvolvimento da história com
seus personagens, enquanto a França vivenciava os acontecimentos que iriam
desencadear a Revolução Francesa, com a história da série ocorrendo à sombra
destes fatos históricos.
O
sucesso rendeu uma versão em anime de Rosa de Versalhes, produzida pela Tokyo
Movie Shinsha, que foi exibida pela Nippon Television Network de outubro de
1979 a setembro de 1980. Houve também um especial de TV, e um longa-metragem
animado para cinema, que nada mais é do que um resumo da série de TV. Mas,
antes mesmo desta animação ser produzida, Oscar já havia ganhado um filme
protagonizado por atores, produzido em 1978/1979 pela Toho e pela Kitty Films
na própria França, país retratado na história, com a atriz Catriona MacColl no
papel de Oscar François de Jarjayes, e Barry Stokes como seu serviçal André
Grandier. Apesar de ambientado com fidelidade ao mangá, o filme não fez
sucesso, enquanto a série animada acabou sendo exportada para vários países, em
especial França e Itália, assim como o mangá, fazendo grande sucesso em vários
lugares. Oscar ganhou inúmeras referências nas mais variadas obras e séries da
cultura pop/nerd nipônicas e de outros países, e o famoso Teatro de Takarazuka
no Japão produz até hoje adaptações e apresentações baseadas nos personagens da
série.
A
série de anime de Rosa de Versalhes foi lançada oficialmente no Brasil na
primeira metade dos anos 1990, sob o título “Lady Oscar”, mas apenas em VHS, pela
distribuidora Europa Filmes, que lançou aqui os primeiros episódios da produção
animada, que ficou incompleta, e nunca foi exibida na TV. A distribuidora
lançou também o longa animado em VHS, onde pelo menos se podia ver o destino
dos personagens. Até hoje esta série não voltou a ter cogitado o seu lançamento
ou exibição por aqui, podendo ser encontrada apenas com legendas eem português
via fansubbers.
Com o
advento da publicação das séries de mangá setornando um hit comercial no
mercado editorial nacional a partir dos ano 2000, muitos que tiveram chance de
ver o quadrinhos da série ou a animação, mesmo que no idioma nipônico, passaram
a nutrir esperanças de ver a série ser publicada por aqui, já que, mesmo com o
boom da animação japonesa promovido nas TVs nacionais a partir de 1994 pela
série “Cavaleiros do Zodíaco”, “Lady Oscar” nunca entrou na lista de séries
adquiridas para exibição aqui, mesmo com os lançamentos dos episódios no
mercado de vídeo, onde infelizmente não provocaram nenhuma atração incomum, ao
contrário das séries de tokusatsu lançadas alguns anos antes que viraram febre
no mercado de VHS, levando-as a serem exibida nas emissoras de TV da época.
Mas nem
por isso o leitor poderá reclamar. A edição nacional de A Rosa de Versalhes erá
publicada no mesmo formato diferenciado com o qual a editora lançou Akira, e o
relançamento de Battle Angel Alita. Os 10 volumes iniciais foram transformados
em 5 volumes, no formato 13,2 cm por 20,0 cm, com o miolo em papel luxcream, o
mesmo usado em Akira. O volume 1, que equivale às edições 1 e 2 originais, terá
nada meno dos que 408 páginas. Já o volume 2, com o conteúdo das edições 3 e 4
do mangá, terá 376 páginas. Os dois volumes, que já podem ser adquiridos em
pré-venda, estão sendo vendidos pelo preço de R$ 43,90. Pode parecer salgado,
mas é preciso lembrar que cada edição equivale a dois volumes originais
japoneses, cujo preço de edições similares no mercado editorial nacional chega
próximo de R$ 20,00, para não mencionar que o acabamento é superior ao de uma
edição “convencional” do mesmo formato, de forma que o preço cobrado é bem
justo pela qualidade gráfica e apresentação da série.
Enquanto
os fãs e leitores nacionais aguardam para poderem enfim conferir o mangá
original da série concebida por Ryoko Ikeda, no Japão houve até uma nova
publicação, intitulada Berusaiyu no Bara Gaiden, uma coletânea de contos da
série, nos anos 1970 e 1980. Mais recentemente, Ikeda produziu Eikou no
Napoleon – Eroica, uma continuação da série original, com aparição de alguns
dos personagens remanescentes. Esta série ainda está em produção, e por
enquanto, não há planos da JBC de publicá-la por aqui. Mas, quem sabe no
futuro, dependendo do sucesso que o lançamento de Rosa de Versalhes possa
obter? Que os leitores e fãs brasileiros possam apreciar esta clássica obra dos
quadrinhos japoneses, e que a JBC possa continuar surpreendendo, e trazendo
mais séries famosas antigas dos mangás.
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