A década de 1980 é lembrada até hoje como um período
áureo de grandes produções na área de entretenimento. Inúmeras séries de
cinema, TV, e animação, lançadas naqueles tempos, tornaram-se ícones da cultura
pop, conquistando milhões de fãs no mundo todo, e repercutindo até os dias
atuais. E neste mês de maio, a IDW Publishing, que vem lançando nos últimos
tempos algumas séries de quadrinhos de várias produções de muitos anos atrás,
está trazendo uma edição que deve fazer o furor dos nostálgicos fãs de seriados
dos anos 1980, e não é nada menos do que a Supermáquina.
KNIGHT
RIDER - VOLUME 1, é uma edição de 112 páginas, ao preço de cerca de US$ 15,
trazendo para os quadrinhos as aventuras do famoso seriado de TV produzido pela
Universal Studios entre 1982 e 1987, estrelado pelo ator David Hasselhoff, que
interpretava Michael Knight, um justiceiro audacioso vivendo em um mundo
perigoso, tendo como parceiro a maior obra-prima da tecnologia automotiva já
criada no mundo, o arrojado modelo Knight 2000, um belo carro Pontiac Trams-Am
preto, comandado por uma inteligência artificial chamada KITT (abreviação para
Knigh Industries Two Thousand - Indústrias Knight Dois Mil), dotado dos mais
variados recursos e virtualmente indestrutível. A série teve 4 temporadas,
tornando-se sucesso mundial em vários países, inclusive o Brasil, onde foi
exibido com o nome de "A Supermáquina".
Na
trama, o policial Michael Long, na pista para desbaratar uma perigosa quadrilha
de ladrões de segredos industriais, é traído por uma amiga e baleado no rosto,
sendo deixado para morrer no deserto. Mas, um milionário excêntrico, Wilton
Knight, salva a vida de Michael, e lhe dá, através de uma cirurgia plástica, um
novo rosto, e uma nova identidade, Michael Knight. Acreditando que um homem
pode fazer uma grande diferença, ele dá a Michael a chance de se tornar um
agente especial com a missão de enfrentar os criminosos que teimam em desafiar
as leis, e proteger os inocentes. Para tanto, ele recebe em mãos a maior
criação do milionário: um carro praticamente indestrutível, comandado pelo
computador KITT, e que a partir dali seria seu parceiro. Meio a contragosto, e
surpreso, ele aceita a tarefa e sua nova missão de vida, pronto para defender a
causa dos inocentes, como agente da FLAG (Fundation for Law and Government -
Fundação pela Lei e Governo, na dublagem em português), comandada pelo melhor
amigo de Wilton Knight, Devon Milles. Contando com o apoio técnico de Bonnie
Barstow, engenheira que está sempre pronta a providenciar reparos e upgrades em
KITT conforme as mais variadas missões, Michael inicia sua nova luta contra o
crime, para provar que um homem pode fazer mesmo uma grande diferença.
A
química do seriado estava na relação entre Michael e KITT. A princípio
desconfiado por ter um carro falante e capaz de pensar por si próprio, Michael
desenvolve uma grande amizade com KITT, que com o passar do tempo, vai
demonstrando cada vez mais entrosamento com seu piloto e parceiro, demonstrando
grande personalidade, especialmente quando nas discussões que ambos travam,
quando Michael acaba por vezes tendo de ser chamado à razão por KITT quando tem
alguma idéia genial para resolver algum caso. E a série ainda rendia alguns momentos
engraçados, quando algum transeunte acabava vendo o carro se dirigir sozinho,
ou falar com alguma pessoa (afinal, carros não falam...?). E o público sempre
delirava com as cenas de perseguição, ou quando a capacidade do carro era posta
à prova, enfrentando uma saraivada de balas, ou atravessando paredes sem sofrer
um arranhão sequer. Dos recursos, a turbo propulsão era o momento mais
aguardado pelos fãs, com o carro a saltar por cima de qualquer obstáculo, ou
otimizar sua velocidade para alcançar o inimigo.
E
é parte dessa emoção que os novos quadrinhos da Supermáquina prometem trazer a
uma nova legião de fãs, além de tentar conquistar os velhos fãs do seriado. A
edição da IDW é feita em parceria com a Lion Forge Comics, uma pequena editora
que anunciou em 2013, durante a Comic Con de San Diego, ter adquirido a licença
para produzir séries de quadrinhos digitais de alguns dos seriados mais
populares dos anos 1980, entre eles, Knight Rider, as quais passaram a ser
lançadas a partir do fim daquele ano. Até o momento, a Lion Forge já lançou 8
edições da série, todas em formato digital, que agora estão sendo lançadas no
modo "tradicional", nesta edição Trade Paperback a cargo da IDW
Publishing, que compila as primeiras aventuras da nova série de quadrinhos da
Supermáquina. Os roteiros ficaram por conta de Geoffrey Thorne, com arte de Jason
Johnson. Na primeira história, encontramos Michael Knight e seu fiel parceiro
KITT prontos para uma nova aventura. Ou não? Tudo o que Michael quer é levar
sua amiga, Katherine Beachum, para uma noite na cidade e relaxarem um pouco,
pois na verdade ele está atuando como guarda-costas da moça, que é uma
importante cientista de um projeto ultrassecreto do governo, chamado
"Projeto Rider", e tem trabalhado arduamente na empreitada. E o que
prometia ser uma noite de diversão agradável vai por água abaixo quando um
grupo de mercenários altamente armados estraga completamente a festa, e joga
Michael em um jogo de intrigas muito mais complicado do que se pode supor à
primeira vista. E ele precisará de toda a sua capacidade, e da ajuda de seu
parceiro de quatro rodas, para solucionar o mistério que se apresenta, e evitar
sair morto desta encrenca. Portanto, é hora de Michael Knight e a Supermáquina
entrarem em ação novamente.
Para Geoffrey Thorne, que escreveu as histórias desta
série de quadrinhos, o elemento mais importante na série era o relacionamento
entre Michael e KITT, e de como sua parceria enfrentava as mais variadas
situações, dos momentos mais sérios aos mais descontraídos, e até cômicos, um
ponto que era vital manter nas novas aventuras. Para Jason Johnson, desenhista
da série, o desafio era atualizar o visual de KITT, sem contudo descaracterizar
o modelo original do Knight 2000. "O KITT era o veículo mais legal de todos
quando eu era criança, e ainda é.", declaram Jason, que concorda com o
ponto de vista de Thorne sobre a importância do relacionamento de Michael com
seu carro, como verdadeiros amigos e parceiros de luta. Para Thorne, um ponto
negativo é que muitos fãs da série são inflexíveis e até intolerantes quando
você tenta mudar algo do seriado, explicando que este provavelmente foi um dos
motivos que levaram ao fracasso do novo seriado produzido em 2008, que mostrava
uma nova Supermáquina, o Knight 3000, que agora era conduzido pelo filho de
Michael Knight, que havia crescido longe do pai, e iniciava uma luta parecida
utilizando também um carro cheio de recursos tecnológicos e uma inteligência
artificial sensiente. "Não vou fazer uma continuação linear da série de
TV", garante, explicando que a essência do seriado estará presente nas
aventuras, que estarão devidamente atualizadas com o tempo atual. Para o
roteirista, Michael é um herói clássico. Ele serviu ao exército, trabalhou na
polícia, e agora encara o desafio de dar sequência ao sonho de Wilton Knight,
tornando-se um justiceiro solitário em um mundo perigoso. E todas as qualidades
que se faziam parte do Michael Knight interpretado por David Hasselhoff estarão
presentes na série de quadrinhos, como sua tendência bancar o machão, ser um
pouco convencido e arrogante, etc.
Já
com relação ao KITT, Thorne informa que há algumas mudanças. "Na série,
KITT era uma inteligência artificial já formada, com grande conhecimento de
suas próprias capacidades, e do relacionamento com as pessoas, sendo, na
maioria das vezes, a voz da razão a se contrapor ao comportamento por vezes
excessivamente audacioso e até incauto de Michael. Na nova série, a
inteligência de KITT ainda está se desenvolvendo, conhecendo suas capacidades,
o que pode e o que não pode fazer, e buscando o que quer ser. Ele continua
sendo muito inteligente, mas não é tão sábio, e esse desenvolvimento produzirá
alguns dramas", relata Geoffrey Thorne. "Seu relacionamento evolui.
Minha versão de KITT é mais teimosa e menos inclinada a obedecer Michael apenas
por sua programação. Eles vão discutir mais, e Michael não vai ganhar sempre
com seus argumentos. Mas eles estão unidos e um poderá morrer um pelo outro.
Eles começam com Michael como uma espécie de pai a princípio, mas acabarão como
irmãos. O grande obstáculo de Michael é realmente começar a ver KITT como se
fosse uma pessoa e não apenas um dispositivo tecnológico super-inteligente.",
conclui. Outro desafio na série, relata o roteirista, é que no seriado KITT
podia fazer várias coisas que atualmente não seriam as mais apropriadas. As
tecnologias atuais podem fazer muita coisa melhor e mais eficiente do que
antigamente, e os novos recursos, como a internet, e desenvolvimentos atuais,
tornam necessárias atualizações na lista de recursos à disposição do Knight
2000. Como pista destes novos recursos, Thorne diz que o carro pode ter sistema
de invisibilidade, e a capacidade de invadir e controlar qualquer sistema de
computador dentro de seu raio de ação, além claro, de aumentar incrivelmente
sua velocidade.
Para
Shanon Eric Denton, editora da série na Lion Forge, Geoffrey Thorne foi a
primeira escolha para escrever a nova série da Supermáquina. "Nós não
estamos tentando mudar Knight Rider. Nós amamos a série, por isso queríamos
alguém que pudesse mostrar esse amor, mas também trazê-la para os dias modernos,
sem alterar o que tem funcionado tão bem durante tantos anos. Estamos em uma
era em que os telefones que usamos no dia a dia têm mais poder de computação do
que o KITT e NASA combinados tinham no momento em que a série estreou. E a
pessoa capaz de lidar com essa transição dos anos 1980 aos dias de hoje tão
perfeitamente era Geoffrey. Quanto ao aspecto da revista, o parceiro de
Geoffrey nesta missão é o ex-artista da Wildstorm Jason Johnson. Jason tem uma grande
energia cinética para o que ele faz e que nós realmente precisamos nesta série.
Ele tem uma incrível capacidade de dar tanta atenção não apenas à tecnologia como
com os personagens", revela Shanon.
Os
planos da Lion Forge são ambiciosos para a série de quadrinhos, prometendo,
para breve, até um cross-over da Supermáquina com outra série clássica dos anos
1980, lançada no rastro do seu sucesso: Águia de Fogo. Promover o encontro do
carro mais avançado do mundo com o supremo helicóptero de combate é algo que os
fãs de ambas as séries sempre sonharam desde os anos 1980, quando ambas as
séries eram exibidas, e que pode finalmente virar realidade em futuro próximo,
uma vez que a editora também adquiriu os direitos de Airwolf (nome original de
Águia de Fogo) para produzir também uma série de quadrinhos nos mesmos moldes
de A Supermáquina, tendo sido lançados até o momento, também 8 edições, estas,
por enquanto, disponíveis apenas em formato digital, que podem ser adquiridas
no site da editora, no endereço .
As
artes da série produzidas por Johnson podem causar um certo estranhamento nos
fãs mais antigos, uma vez que alguns visuais parecem um pouco diferentes em
relação ao seriado original. O novo visual de KITT não ficou ruim, mas as
feições de Michael Knight não ficaram tão parecidas com a do ator David
Hasselhoff, que viveu o personagem na TV. Mas é uma questão de se acostumar, e
se as histórias conservarem o espírito original da série de TV, os quadrinhos
tem tudo para cativar os fãs do seriado quanto conquistar os leitores mais
atuais, que nunca viram a produção original. A Lion Forge tem seus méritos em
explorar o potencial de várias séries de sucesso de antigamente, e mostrar que
não são apenas franquias de sucesso estrondoso como Jornada nas Estrelas ou
Arquivo X que merecem ter novas aventuras, agora no mundo da arte sequencial.
No
Brasil, a Supermáquina foi exibida na década de 1980 e início dos anos 1990 na
TV aberta, primeiro pela TV Record e depois pela TVS/SBT. Anos depois, o
seriado seria exibido nos canais da TV por assinatura, e no início da década
passada, teve a maior parte de seus episódios exibido pelo Canal 21. O seriado
ganhou um telefilme, Supermáquina 2000, que deveria relançar o seriado, mas não
fez o sucesso esperado, além das continuações Team Knight Rider (Equipe
Supermáquina, exibida aqui como TKR - O Time do Futuro), além da Nova
Supermáquina (a série de 2008), que não conseguiu repetir o sucesso da série
original. Resta saber se esses novos quadrinhos da Supermáquina tem chance de
aportar por aqui futuramente, uma vez que há muitos fãs do seriado em nosso
país. Mais do que nunca, a esperança é a última que morre...
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