Depois
de um tempo de inatividade devido a problemas de cunho pessoal, eis que retomo
um pouco as matérias no HQPRESS, trazendo de volta a COLUNA HQ, em um estilo de
editorial que experimentei em 2014, mas que acabei abandonando devido à falta
de tempo para se escrever sobre assuntos que mereciam maior discussão do que
simplesmente serem noticiados. Pretendo retomar estes textos, embora sem uma
periodicidade exata, devido aos percalços vividos no momento, em um panorama
extremamente complicado como o que estamos vivenciando no mundo inteiro. Por
enquanto, fiquem com a minha primeira edição da COLUNA HQ de 2020, abordando um
assunto que acho pertinente dar uma opinião mais ampla sobre o tema. Uma boa
leitura a todos, e em breve espero estar trazendo novos textos...
ADEUS, SUPER SENTAI NO
BRASIL?
Algumas
semanas atrás, iniciou-se uma discussão entre os amantes das produções
japonesas no Brasil, referentes ao gênero dos tokusatsus. O assunto em questão
teve início com o fato de Nelson Sato, empresário do ramo de licenciamento, ter
afirmado que, após vencerem os atuais contratos que ele possui a respeito da
série Super Sentais, dificilmente eles serão renovados, o que implica dizer,
sem meios termos, que poderemos não ter mais exibições oficiais destas séries
no nosso país. O motivo foi o fato de que a Hasbro, uma das empresas
fabricantes de brinquedos do mundo, ter adquirido, junto com a propriedade da
série Power Rangers, os direitos mundiais das séries originais que são depois
adaptadas para os Power Rangers, a franquia Super Sentai, e que a empresa não
estaria disposta a licenciar as séries originais pelos valores até então
existentes.
Foi
o que motivou uma grande discussão entre os fãs, e uma quase completa
demonização da Hasbro por causa disso, como se a empresa tivesse praticamente
decretado o fim dos Super Sentais no Brasil, e que por causa dela, só poderemos
ver as adaptações, os Power Rangers, daqui por diante. Mas, a Hasbro é a única
culpada por isso?
Desde
que Haim Saban conseguiu produzir a primeira série Power Rangers, em 1993, os
fãs nacionais de tokusatsu discutem sobre não termos tido mais a chance de
vermos as séries Super Sentai no Brasil. Produzida pela Toei desde fins dos
anos 1970, a franquia Super Sentai é hoje um dos carros-chefe da divisão de
entretenimento juvenil do estúdio, ao lado das franquias Kamen Rider e Pretty
Cure. Na segunda metade dos anos 1980, os brasileiros tiveram contato com estas
produções pela primeira vez, quando a saudosa Everest Vídeo lançou as primeiras
fitas VHS da série Changeman no mercado nacional, e também conseguiu que a TV
Manchete exibisse a série.
Foi
um grande sucesso logo de cara, o que motivou a vinda das séries sequentes,
Flashman e Maskman, além de outra série anterior a todas elas, Google Five.
Junto com outras produções japonesas como Jaspion, Lion Man, Jiraya, Metalder,
Machine Man, Bicrossers, Gavan, entre muitas outras, os brasileiros, que já
tinham visto outras produções nipônicas como National Kid e Ultraman,
redescobriram o gosto pelas aventuras live-actions dos heróis japoneses. O
problema é que, tantas produções em um espaço de tempo curto acabaram por
saturar o gênero, que precisava de uma pausa para que os fãs pudessem respirar
um pouco.
Em 1993, depois de várias tentativas, Haim Saban resolveu “adaptar” a
série Zyuranger com novos roteiros e atores americanos no lugar dos episódios
japoneses. O resultado foi um sucesso fenomenal em todos os lugares onde a nova
produção foi exibida, inclusive no Brasil.
Mas
aí, em 1994, eis que estreou na TV nacional Power Rangers, adaptação feita pela
empresa Saban, utilizando cenas de uma série Super Sentai chamada Zyuranger,
onde as cenas com os atores japoneses eram substituídas por cenas com atores
americanos, além de possuírem roteiros completamente diferentes, em que pese os
heróis e vilões serem mantidos. Foi um sucesso estrondoso em vários países,
inclusive no Brasil, o que decretou, de certa forma, o fim das séries Super
Sentai por aqui. Tudo o que tivemos, desde então, foram reprises das quatro
séries que já haviam sido exibidas, e só. E mesmo assim, por períodos não muito
longos.
Costumou-se
a ter como fato e verdade que a Saban “proibia” a comercialização das séries
Super Sentai para o Ocidente, que só poderia comprar a versão “Power Rangers”,
e com isso, os fãs criaram uma relação de amor e ódio em relação à Saban,
culpando-a por não termos mais como assistir a novas séries Super Sentai por
aqui. E muitos ainda acreditam nisso até hoje, mesmo que a série tenha passado
pelas mãos da Disney, voltado para a Saban, e agora esteja nas mãos da Hasbro.
Os americanos são os grandes culpados por não podermos ver as novas produções
Super Sentai no Brasil, e fim de papo. Não é bem assim...
Em
primeiro lugar, precisamos lembrar que as produções de tokusatsu, entre elas a
franquia Super Sentai, assim como todas as produções de animação japonesa, são
feitas para se gerar lucro. Não é por menos: são séries que possuem um custo de
produção, que precisa ter um retorno. E como se gera esse retorno? Sendo
exibida na TV, onde a emissora paga pelo direito de exibição, mas não só com
este recurso. São licenciados vários produtos para que os fãs possam comprar,
dos mais variados tipos, entre eles, brinquedos. E, quanto mais estes produtos
venderem, mais a Toei, ou qualquer outro estúdio de produção, ganha dinheiro, e
investe em novas séries. É um esquema que dá certo, e que graças a eles é que
vemos o Japão produzindo não apenas séries live-actions, mas inúmeras animações
que fazem sucesso mundial, como One Piece, Naruto, ou Cavaleiros do Zodíaco, só
para citar alguns nomes. Sem lucro, não dá para continuar produzindo, e para
dar lucro, as séries precisam ganhar os fãs, fazendo sucesso entre eles, pois é
com este sucesso que se alavanca a venda dos produtos licenciados. E não é uma
estratégia usada apenas pelos japoneses. Nos saudosos anos 1980, tínhamos
muitos seriados americanos que faziam sucesso sendo exibidos em nossas
emissoras de TV. Séries como ChiP’s, Esquadrão Classe A, Águia de Fogo,
Supermáquina, Moto Laser, entre muitos outros, ganharam vários brinquedos
lançados no mercado nacional, que faziam a festa das crianças que assistiam
essas séries. Isso começou a ser praticado no Japão no início dos anos 1970, e
nunca mudou desde então, sendo um recurso vital para se gerar lucros que
permitam que a indústria de entretenimento siga funcionando.
Com um esquema de marketing massivo e bem planejado, a marca Power
Rangers virou um fenômeno comercial, com centenas de produtos licenciados,
entre livros infantis, jogos de videogame, quadrinhos, e claro, brinquedos, que
fizeram a cabeça da Bandai, que faturou horrores com isso.
A
Toei, maior estúdio de produção do Japão, tem como meta o mercado do próprio
Japão. Antes de pensarem em vender qualquer série, esta tem que fazer sucesso
entre o público japonês, e a concorrência costuma ser bem renhida por lá. Se a
série faz sucesso, e ainda consegue atrair interesse do exterior, ótimo, é um bônus
para eles. Durante muito tempo, a Toei, contudo, não dava muita importância ao
mercado internacional. Se suas séries conseguissem fazer sucesso no exterior,
era um lucro adicional, e por isso mesmo, eles não se esforçavam muito para que
suas produções ganhassem fama no exterior, algo que acabava acontecendo às
vezes por acaso, ou por esforço das empresas que compravam as séries nos países
onde eram exibidas. Trocando em miúdos, no caso dos Super Sentais, se eles
fizeram sucesso aqui nos anos 1980, isso foi mais mérito da Everest, que soube
trabalhar o material, do que por mérito da Toei propriamente. Assim como
Cavaleiros do Zodíaco se tornou um grande sucesso aqui pela Samtoy, que
conseguiu fazer acordos que permitiram à série ser um verdadeiro estouro de
audiência na TV Manchete. Não desmerecendo as séries propriamente ditas, claro,
que caíram no gosto dos brasileiros, e se tornaram o fenômeno que foram em suas
épocas. Só mais recentemente a Toei passou a trabalhar com mais afinco e
dedicação para popularizar suas produções no exterior, deixando de confiar a
terceiros essa tarefa.
Quando
Haim Saban propôs a compra das séries Super Sentai aos japoneses, era apenas
uma relação comercial de compra e venda. Para a Toei, era um lucro a mais para
seu caixa, e só. Acontece que Saban tentou várias vezes vender as séries
nipônicas às TVs dos Estados Unidos, mas os norte-americanos, com aquele seu
ego inflado, de achar que só eles são importantes, não tinham interesse em
comprar séries que mostravam apenas orientais sendo os heróis. Estamos falando
dos anos 1980, e precisamos lembrar que até mesmo nos animes, eles precisavam
dar uma “ocidentalizada” na série, para facilitar sua aceitação, o que se
conseguia ajeitar trocando os nomes dos personagens para nomes ocidentais, e
dando um título mais gringo para a série. Tivemos exemplos como Speed Racer,
Patrulha Estelar, Robotech, entre muitos outros. Até que Saban tentou o lance
de “adaptar” as séries, para tentar vencer a resistência ianque, deixando
apenas as cenas de lutas dos heróis transformados, e dos robôs com os monstros,
e colocar cenas com atores ocidentais, fazendo uma bela misturada, e criando
então os “Power Rangers”, que viraram um sucesso indiscutível por onde quer que
a série fosse exibida. E não dá para culpar Saban por isso: como amante das
produções japonesas, foi a saída que encontrou para poder vender as séries. Ele
havia pago por elas, e tinha todo o direito de ter seu lucro com isso. E, outro
detalhe que muitos esquecem: os japoneses aceitaram o que ele fez, indicando
que seu contrato permitia tal coisa. Então, não se pode esquecer de colocar
essa jogada também na conta da Toei, e não apenas na de Saban...
Então,
depois do “fenômeno” Power Rangers, cujos produtos ganharam o mercado de
assalto, qual o problema para se exibir novamente séries Super Sentai no
Brasil? Praticamente tudo, em se tratando de mercado e licenciamento, as
maiores fontes de renda para quem atua neste setor. Ao invés de ter muito
trabalho negociando com os japoneses para se trazer uma série do Japão (e eles
sempre foram complicados para se fazer negócio), e ter que desenvolver um
planejamento de exploração comercial para a série (algo que custa dinheiro),
que ainda por cima, precisaria fazer sucesso para alavancar o potencial de comercialização
dos produtos, porque não negociar com os americanos, que eram bem mais
práticos, e ainda por cima já tinha todo um esquema de aproveitamento comercial
calcado no imenso sucesso que a série fazia não apenas nos Estados Unidos, mas
em diversos outros países? Não havia nem o que escolher, qualquer empresário
iria optar pela opção que gerasse menos custos, e mais lucros potenciais. E
como argumentar contra uma produção que estava fazendo sucesso em vários
países, contra uma série que podia ter feito sucesso no Japão, mas que no fundo
seria só um país, contra os vários outros onde a adaptação americana ia de
vento em popa?
Com
os Power Rangers consolidados na exibição na TV, além da venda de uma
infinidade de produtos licenciados, quem quisesse explorar uma série Super
Sentai por aqui tinha que encarar custos muito maiores, e riscos também maiores
de não conseguir lucrar com o produto. E, pela similaridade das séries, que
compartilhavam cenas, e pelo fato de o público-alvo serem as crianças em sua maior
parte, havia o problema potencial de as séries “originais” não serem vistas
como tais? O empresário iria ter mais problemas para resolver isso, podendo ter
de explicar qual série era de fato “original”. Ou será que ele gostaria de ver
sua produção, trazida diretamente do Japão, e a muito custo lançada no mercado,
ouvir um comentário como “Olha só... Imitação japonesa de Power Rangers!”, ou
algo do tipo?
Timeranger foi transformada em Power Rangers Força do Tempo (acima).
Toqger (abaixo), por outro lado, ainda não ganhou adaptação, e só é conhecida
entre o nicho de fãs de tokusatsu.
E,
se levarmos em conta a situação difícil de ser empresário em nosso país, qual
produto iria escolher para comprar e comercializar? Além disso, os fãs, apesar
de ainda existirem, não conseguiam se mobilizar, ou o mais importante, mostrar
que haveria um mercado potencial para ser explorado pela série Super Sentai
“original”, ou pelo menos, que esse mercado fosse atraente o suficiente para o
empresário apostar suas fichas. E se levarmos em conta que os gastos de todo o
empreendimento seria maior do que o empregado na exploração da marca “Power
Rangers”, seria preciso um potencial realmente absurdo de se atingir para
conseguir mostrar que seria mais viável trazer a série japonesa do que sua
versão adaptada ocidental. O problema sempre foi mercadológico, e não uma
“proibição pura e simples” de se trazer as séries originais, por parte da
Saban, como tanto se alegou. Se você fosse um empresário sério, iria arriscar a
viabilidade do trabalho de sua empresa, apostando em uma operação muito mais
arriscada, por puro preciosismo, ou birra purista? Não se trata nem de afirmar
que empresários só pensam em dinheiro, e acima de tudo, só querem lucros.
Lucrar não é pecado, mas estando no comando de uma empresa, da qual dependem
não apenas você, mas todos os funcionários que emprega, é preciso ser
responsável, e conduzir os negócios de maneira que seja a mais viável possível.
Portanto, já faz um bom tempo que a exibição de séries Super Sentai acabou no
Brasil, em se tratando de trazer novas produções para cá, ficando restrito,
quanto muito, ao que já havia sido exibido por aqui. Não é algo que ocorreu
agora. A Focus Filmes ainda conseguiu lançar Changeman e Flashman em DVD no
mercado de vídeo nacional, mas ficou nisso. Assim como estamos tendo a
oportunidade de rever Changeman na televisão. E só.
E,
na década passada, tivemos ainda outro problema que só agravou esse quadro, não
especificamente em relação às produções japonesas, mas a todas as séries
destinadas a público infantil, ou infanto-juvenil, quando o governo baixou
normas proibindo propagandas direcionadas às crianças. O objetivo? “Proteger as
crianças da exploração”, já que elas, coitadinhas, não tem discernimento para evitar
de serem seduzidas pelas propagandas dos produtos... Uma idéia completamente
cretina, que ajudou a inviabilizar a exibição de séries infantis na TV aberta,
uma vez que as emissoras precisavam destas propagandas para que os horários
gerassem retorno. E, no caso de uma série Super Sentai, como conseguir
viabilizar os produtos, sem poder veicular nenhuma propaganda deles? Isso só
aumentou ainda mais as chances de “concorrer” com Power Rangers, cuja marca já
chegava ao Brasil amparada pelo sucesso obtido nos outros países, ao passo que
Super Sentai, por aqui, se tornou algo completamente desconhecido do grande
público. E, para se conseguir gerar lucro, é preciso mirar o grande público,
pois um problema que nosso mercado consumidor, em se tratando de determinados
produtos, é que ele não tem “massa crítica”, ou seja, dimensão e capacidade que
permitem que um produto, mesmo sendo de um nicho específico, seja viável
economicamente. Tudo isso tornou ainda mais difícil, e inviável economicamente,
investir em uma série Super Sentai no Brasil, pois propaganda é algo
indispensável para se divulgar produtos. Do que adianta produzir algo, se o
público-alvo não tem conhecimento do que é lançado. E, voltamos ao problema
deste tipo de produção precisar alcançar o grande público para se tornar mais
viável com a venda de produtos, uma vez que os fãs de tokusatsu, infelizmente,
por mais numerosos que sejam, podem não adquirir os produtos no volume de
vendas necessário para se obter o lucro necessário para sustentar a operação.
Só a exibição das séries em emissoras de TV, ou atualmente, nos sistemas de
streaming, não costumam gerar lucros que sejam muito atrativos para os
licenciadores. Pode até não dar prejuízo, mas séries de fama geralmente custam
mais caro, de modo que os lucros precisam ser mais altos para se pagar os
custos, e isso apenas complica ainda mais a situação.
Para
a Toei, deixar de veicular suas séries Super Sentai em países como o Brasil não
fez os japoneses perderem o sono, muito pelo contrário. O contrato para
adaptação das séries para a versão Power Rangers rendia uma boa grana, e a
empresa japonesa não precisava fazer muito esforço para o sucesso das séries, o
que ficava a cargo dos norte-americanos. E, para completar o clima de
felicidade, a Bandai, que produzia a maior parte dos brinquedos de Super
Sentai, faturava horrores vendendo os produtos rebatizados de Power Rangers.
Daí, não adiantava esbravejar contra a adaptação ocidental, como muitos fizeram
ao longo dos anos. Tudo sempre foi um negócio, e se fez um enorme sucesso, isso
significa que agradou à maioria das pessoas. Se você faz parte da minoria que
sempre detestou Power Rangers, infelizmente não há muito o que fazer, além de
curtir as séries nipônicas através de fansubbers, com legendas em português,
pois oficialmente, não há como as séries virem para nosso país, pelas
dificuldades econômicas mencionadas, e que agora ficaram ainda mais complicadas
pela aquisição de Power Rangers por parte da Hasbro.
Power Rangers RPM, adaptação da série Super Sentai Go-Onger, é
considerada melhor que sua versão original japonesa, cujo enredo e histórias
são considerados infantilizados demais por muitos fãs de tokusatsu.
Outra
discussão que sempre levanta polêmica foi a afirmação que as séries originais
japonesas são muito melhores do que suas versões ocidentais. Isso é bem
questionável, pois nos últimos tempos, o foco das séries Super Sentai foi
ficando cada vez mais voltado para o público infantil japonês, de modo que os
enredos e aventuras já não tem a mesma qualidade das séries antigas, onde
podíamos ver histórias mais elaboradas e/ou dramáticas na franquia. De fato,
algumas das produções mais recentes dos Super Sentai andam bem infantilizados,
para se dizer a verdade, o que não quer dizer que as versões Power Rangers sejam
melhores exatamente. No início, as séries nipônicas até podiam ser melhores,
com certeza, mas de lá para cá, até mesmo as versões ocidentais passaram a ter
seus méritos, com os norte-americanos sabendo criar aventuras e enredos que
chegavam a ser até mesmo melhores do que os japoneses. Não é uma regra geral,
claro. Da mesma maneira que os japoneses pisam na bola em alguns conceitos nas
séries Super Sentai, Power Rangers também tem seus momentos de baixa. Os
americanos aprenderam a fazer boas histórias com a franquia em diversos
momentos, de modo que hoje não dá para dizer que um é melhor que o outro
exatamente.
Gokaiger (acima) foi mal adaptado para Power Rangers Supermegaforce. Já
Kiramager (abaixo) é a atual série Super Sentai em produção e exibição na TV
japonesa, e possível candidata a adaptação futura pela Hasbro, atual detentora da marca
Power Rangers.
E,
temos outro problema que só ajuda a complicar a situação, que são os próprios
fãs. Muitos parecem merecer o apelido de “viúvas da Manchete”, vangloriando as
produções daquele tempo, como se não houvesse nada mais, ou nada melhor além
daquilo. Vivem “presas” às séries tokusatsu exibidas por aqui, como Jaspion,
Changeman, Flashman, etc. Foram boas séries, e sim, merecem ser lembradas, e
reverenciadas. Mas não endeusadas, como se fossem as melhores produções de
todas, como se o que há além daquilo não fosse bom. Não é errado rever estas
séries, como temos agora a chance de ver suas atuais reprises na TV
Bandeirantes, aos domingos pela manhã. Mais do que rever séries que marcaram
época, é uma chance também da geração atual conhecer tais produções, se já não
tiveram como fazê-lo por meios não-oficiais. Mas é preciso entender, e aceitar,
que elas podem não cativar os fãs atuais do gênero, como fizeram há cerca de 30
anos atrás. A audiência, para os padrões da Bandeirantes, até têm sido bons,
mas nada de excepcional, como muitos gostariam que fosse. E isso joga um balde
de água fria nos velhos fãs, por verem que suas preciosas séries parecem serem
vistas como algo “comum” pela maioria da geração atual, que não vê nelas aquela
maravilha toda que muitos sempre apregoaram. Há quem aceite isso, mas há quem
não o faça, e pior, ainda fique revoltado com tal atitude, com os mais
exaltados chegando até mesmo a ofender quem não louve a qualidade das antigas
séries, gesto que não ajuda em nada na difusão dos tokusatsus, e muito menos na
união que deveria haver entre os fãs destas produções, tanto quanto possível
ser desejada. Porque sem união, nada conseguiremos.
Se
levarmos em conta que até mesmo Power Rangers não tem mais a fama de antes por
aqui, como esperar que haveria maior atratividade trazendo as séries Super
Sentai, pelas dificuldades existentes já mencionadas? E não é só isso: os fãs
querem sempre produções oficiais sendo exibidas por aqui, mas e quando temos
estas produções, muitas vezes eles não dão o apoio necessário para que ela seja
viável financeiramente. Alguém se lembra de quando tivemos os filmes de
Evangelion lançados no mercado de vídeo nacional, anos atrás? A Paris Filmes,
que lançou o primeiro filme, fez um trabalho bem competente, lançando a
produção tanto em Blu-Ray quando em DVD. Mas o que aconteceu? Os fãs não
compraram o filme, ou melhor dizendo, não compraram o necessário para a
operação dar o lucro necessário, tanto que o segundo filme acabou sendo lançado
apenas em DVD, já que o número de unidades do BD vendeu ridicularmente baixo. E
as vendas do segundo filme, por sinal, também não foram muito boas, ou pelo
menos, não deu o lucro visado, pois a empresa não trouxe o terceiro filme. Não
é nem o caso de falar que a empresa não lançou o produto direito, pois ambos os
filmes foram lançados em DVD duplo, com vários extras, além de preços razoáveis
para o mercado nacional, ao contrário de outra empresa que lançou uma conhecida
série a preços altos, para depois reclamar que os números de venda não eram
satisfatórios para a manutenção da operação. Neste aspecto, os fãs brasileiros
mostram uma grande desunião, não havendo um esforço conjugado entre eles para se
apoiar devidamente o lançamento oficial de uma série no Brasil, com raras
exceções. E isso quando a série tem um lançamento competente e bem-feito pelo
representante nacional. Tudo fica ainda pior quando as séries são lançadas de
forma porca, ou sem um planejamento decente, o que só aumenta ainda mais a
raiva dos fãs, que fazem o ambiente ficar ainda pior, chegando a desestimular
potenciais empresas que poderiam investir no gênero, mas não o fazem, diante da
chiadeira muitas vezes exageradas dos fãs, que descem o sarrafo pelo menor dos
defeitos, ou simplesmente procuram pelo em casca de ovo...
Voltando
a lembrar que, para uma série ser produzida, ela tem de dar lucro, e para ser
trazida para cá, é o mesmo requisito, pois o licenciante tem seus gastos, e para
cobri-los, é preciso fazer um planejamento que permita a venda de produtos
licenciados do mesmo. Mas o que acontece quando série X ou Y é trazida para cá,
e os produtos não vendem porque os fãs não compram? Em nosso país temos o
problema gritante da pirataria, que sempre ofereceu produtos de várias séries
de forma não-oficial porque muitas vezes não tínhamos produtos oficiais por
aqui. Mas isso acostumou mal muitos fãs, que preferem os produtos piratas por
vários motivos, mesmo quando os produtos oficiais são encontrados a preços
acessíveis. E aí, sem o lucro necessário, não dá para manter a oferta de
produtos oficiais. E isso se aplica às séries de tokusatsu, que precisam gerar
o seu lucro, para que possam ser trazidas para cá. Felizmente, algumas produções,
como as séries e filmes da franquia Ultraman, tem tido a oportunidade de
aparecer por aqui, ajudando a alegrar a vida dos fãs dos live-actions, que
espero que possam se mostrar atrativas e viáveis economicamente.
Agora,
será a vez da Hasbro ser demonizada pelos fãs nacionais, mas como já mencionei
antes, não esqueçam dos japoneses, afinal, a Toei concordou e assinou o
contrato firmado com a Hasbro, que pagou um bom dinheiro ao estúdio nipônico,
que vai faturar duas vezes, explorando a marca Super Sentai no Japão, e
recebendo pelos direitos de adaptação, e licenciamento feitos pela Hasbro, sem
mencionar que a Toei já ganha um extra fornecendo as indumentárias (fantasias),
além de cenas de lutas dos robôs que precisem ser feitas para as versões Power
Rangers. Tudo são negócios, e infelizmente, os fãs brasileiros das séries
originais nipônicas não tem força para mudar isso. Nunca houve a união
necessária para isso, e não será agora que haverá uma mudança, uma vez que o
acordo da Hasbro é muito mais abrangente do que o da Saban. Quem quiser
assistir aos Super Sentai, terá de continuar a fazê-lo através de fansubbers,
na pior das opções. E ainda há outra razão que deixará os fãs mais puristas
irritados, que é o fato de que, graças a Power Rangers, a Toei continua
produzindo Super Sentai até hoje. A franquia esteve perto de acabar nos anos
1990, devido à baixa audiência e vendas de produtos abaixo do ideal, mas com a
venda dos direitos de adaptação para a Saban, a Toei ganhou uma fonte de renda
extra com as séries Sentai, o que renovou a determinação de continuar
produzindo as mesmas, para capitalizar com elas, e garantir os lucros exigidos
pela direção do estúdio. Sem Power Rangers, a franquia poderia ter acabado, ou
sofrido um hiato de produções, como ocorreu com a franquia Kamen Rider, que
ficou anos sem ter novas produções no Japão. Exagero ou invenção? Talvez um
pouco de ambas, mas o risco existia, e se as séries Super Sentai não tivessem
acabado, mesmo assim poderiam ter corrido o sério risco de ter mesmo encerrado
sua existência, como veio a ocorrer com as séries Metal Heroes.
Beast Morphers, adaptação da série Sentai Go-Busters, é a produção mais
recente da franquia Power Rangers.
As
séries Sentai marcaram época quando foram exibidas no Brasil no final dos anos
1980 e início dos anos 1990. Infelizmente, devido a vários acontecimentos,
nunca mais aquele sucesso estrondoso se repetiu, de modo que garantisse a
exibição contínua das produções por aqui. Uma época que passou, e que não temos
como retornar. Quem conseguiu comprar os DVDs de Changeman e Flashman lançados
pela Focus, valorize-os. Google Five e Maskman, por outro lado, só serão
possíveis de serem encontrados em versões piratas. Aceitar que vivemos outros
tempos é a única opção que temos. Louvemos o passado, e tentemos usá-lo como
exemplo positivo para seguirmos rumo ao futuro, da melhor maneira que pudermos.
É o que podemos fazer para seguir em frente, e ao menos tentarmos ser felizes
tanto quanto possível com nós mesmos. E torcer por dias melhores, e fazermos o
melhor que pudermos quando houver a chance real de mudar a situação.
Felizmente, para alívios dos saudosistas, os contratos atuais firmados por
Nelson Sato ainda devem durar cerca de quatro anos, durante os quais as séries
Changeman e Flashman ainda poderão ser veiculadas oficialmente por aqui, então,
aproveitem as chances de reverem tanto quanto possível estas produções, ao
menos de forma oficial, ajudando a divulga-las para aqueles que ainda quiserem
conhece-las, mas sem exageros nisso. Que possam fazer uma divulgação positiva
do material, e do que ele já representou, e ainda representa, para os fãs
nacionais de tokusatsu, sem pachequismos ou revanchismos.
Já
com relação a Power Rangers, a Hasbro tem grandes planos para a franquia, que
vem sendo muito bem explorada em séries recentes de quadrinhos lançadas pela
Boom! Studios nos Estados Unidos, cuja mitologia hoje é tão rica e
diversificada quanto a das séries Sentai japonesas. Mesmo admirando e
preferindo estas, não é certo deixar de aproveitarmos o que vem sendo feito de
bom com aquilo que nasceu de uma simples adaptação de uma série japonesa para
atender ao gosto dos fãs americanos, e conseguiu ganhar vida e brilho próprios,
no que a Hasbro está mais do que certa de fazer um bom aproveitamento do
material que tem nas mãos, e torná-lo algo muito melhor do que jamais foi.
Devemos valorizar a iniciativa da empresa no que for positivo para a franquia,
pois o seu sucesso também ajuda as séries originais japonesas, que continuarão
sendo produzidas, e servindo de base para novas adaptações no futuro, ajudando
a manter a chama dos Super Sentais viva e seguindo em frente, mesmo que isso
signifique não termos mais estas séries oficialmente por aqui. Dos males, o
menor... E ao menos, quem quiser ainda poderá recorrer aos fansubbers para
continuar acompanhando as produções japonesas...
Cara, você tem toda a razão... mas tipo assim: em minha opinião (sem problemas se discordar!), o que mais enfraqueceu Mighty Morphin Power Rangers com o tempo foi a troca da maior parte dos atores principais e ainda deram novos papéis aos novatos, sem contar que o Ranger Azul foi completamente eliminado na transição da terceira temporada para a minissérie que concluiu o arco inicial! Até que os então novos atores foram extremamente competentes e eficientes, mas eu ainda preferia todos os seis originais juntos, sabe?
ResponderExcluirFalando nisso, uma pena que a Ranger Amarela original já morreu... foi tão trágico, né? Apesar de que não foi a única, haja posto que bastantes atores da franquia completa já se foram com o passar dos tempos!
Quanto ao mais, excelente matéria... acho até que deveria colocá-la no YouTube, o que acha da ideia?
Bem, abraços e ótima semana!