sábado, 30 de novembro de 2019

GUGU LIBERATO, APRESENTADOR, MORRE AOS 60 ANOS


O mundo do entretenimento nacional perdeu um de seus maiores nomes neste mês de novembro. Antônio Augusto Moraes Liberato, o famoso Gugu, sofreu um acidente em sua residência na Flórida, Estados Unidos, onde estava reunido com seus filhos. O apresentador, ao ir verificar o aparelho de ar condicionado de sua casa, acabou caindo de uma altura de cerca de 4 metros, batendo a cabeça na queda, e sendo hospitalizado em estado grave devido ao ferimento. Infelizmente, o quadro se mostrou irreversível, e Gugu faleceu, aos 60 anos de idade, deixando mulher (não casada oficialmente com ele) e três filhos.
Nascido em 1959, em São Paulo, filho de imigrantes portugueses, Gugu iniciou sua carreira televisiva ainda aos 14 anos, quando se tornou assistente de produção do programa Domingo no Parque, apresentado por Silvio Santos, ainda nos anos 1980. Quando o apresentador inaugurou seu próprio canal de TV, a rede TVS/SBT, lá estava Gugu, apresentando um quadro chamado Sessão Premiada no novo canal. Algum tempo depois, o então jovem apresentador ganhava o seu principal trampolim para a fama, ao apresentar o programa Viva a Noite, nas noites de sábado na emissora, o que lhe valeu até um convite para se mudar para a toda-poderosa Rede Globo, em 1988.
Silvio Santos, porém, foi atrás de Gugu, e conseguiu convencer Roberto Marinho, dono da Globo, a rescindir o contrato, de forma que Gugu permaneceu na emissora do Homem do Baú, que tinha planos de tornar Gugu o seu sucessor na apresentação dos programas de auditório de sua rede, uma vez que ia se submeter a uma cirurgia nas cordas vocais, já cansadas depois de tantos anos de trabalho à frente das platéias de seus programas. E assim, o apresentador ganhou espaço aos domingos, apresentando programas como Passa ou Repassa, e Cidade Contra Cidade, até chegar ao Domingo Legal, onde travou batalha de audiência ferrenha com Fausto Silva, na Globo. Durante seu período de fama, Gugu participou também de alguns filmes, ao lado de Xuxa, e dos Trapalhões. O apresentador permaneceu na TVS/SBT até 2009, quando então finalmente saiu, indo para a TV Record, e com as bênçãos de Silvio.
E lá Gugu esteve até sua morte, com alguns intervalos, tendo apresentado diversos programas, e tendo alguns até gravados para serem apresentados ainda. De jovem promessa, Augusto Liberato se tornou um dos nomes mais famosos da TV brasileira, ao lado de seu amigo e patrão Silvio Santos, que por anos dividiram os domingos na emissora do Homem do Baú. E o que pouca gente talvez lembre é que, com a fama alcançada, Gugu estrelou até suas próprias aventuras em quadrinhos. E não foram poucas.
A primeira série foi lançada em 1984, produzida por alguns profissionais do estúdio de Ely Barbosa, que entre outros trabalhos, já tinha produzido aventuras de outro grande sucesso da TV nacional, o Sítio do Pica-Pau Amarelo. Como Gugu, apesar de ainda estar despontando para a fama, tinha um certo apelo infanto juvenil pelo programa que apresentava, teve-se a idéia de produzir histórias em quadrinhos com ele. Alguns esboços foram feitos, até que finalmente a revista foi lançada, pela editora Sequência, com o título de “As Aventuras do Gugu”. E coube ao artista Gustavo Machado desenhar a primeira aventura de Gugu, com roteiro de Paulo Paiva. As histórias mostravam situações do personagem no cotidiano do dia-a-dia, e várias outras histórias baseadas nos programas apresentados por ele, contando até com a participação de outros artistas reais nas histórias. Essa primeira série teve cerca de 13 edições, que acabou sucedida, em 1986, por uma nova série, chamada “As Novas Aventuras do Gugu”, pela mesma editora, mas que acabou tendo apenas uma edição lançada.
Cerca de dois anos depois, em 1988, Gugu, já bem mais famoso, voltaria a ganhar novas histórias em quadrinhos, agora em uma nova revista mensal publicada pela Editora Abril. E Gustavo Machado, que havia feito a concepção artística do personagem do Gugu em quadrinhos para as histórias publicadas pela Editora Sequência, prestava serviços em esquema de freelancer para a Abril, e acabou sondado por Waldyr Igayara, então diretor da Abril Jovem, sobre o projeto de uma nova revista em quadrinhos do Gugu. E coube novamente a ele criar a nova concepção artística do Gugu em quadrinhos, que acabou aprovada pelo próprio apresentador. Assim, em setembro de 1988, a nova revista chegava às bancas, sob o título de “Aventuras do Gugu em quadrinhos”. Segundo Gustavo, “as HQs do Gugu eram aventuras na linha de Tintin, assim eu gostava de imaginar, com leves pitadas de romantismo. Nada a ver com o apresentador e seu universo restrito aos quadros do programa da TV”, declarou o artista em seu perfil no Facebook.
De acordo com o artista, além de criar as cinco primeiras capas do novo título de quadrinhos, ele desenhou cerca de 18 histórias, totalizando 163 páginas, das quais 132 acabaram publicadas na revista mensal, além de três dos quatro almanaques lançados, e em uma edição especial da revista Misto Quente. Restaram 31 páginas que permaneceram inéditas, em virtude do cancelamento do título mensal, após a edição 20, lançada em março de 1990, sendo substituída então pelos almanaques, que foram lançados entre maio e dezembro daquele ano.
Gustavo lembra que não desenhou tantas histórias do Gugu como personagem de quadrinhos como gostaria. “Infelizmente, alguns meses depois haveria uma mudança editorial, que implicaria no meu afastamento da produção do Gugu, sendo convidado para desenhar novos argumentos apenas ocasionalmente. Ainda assim, minha produção de quadrinhos do Gugu foi alta.”, afirmou o artista, novamente em seu perfil no Facebook.
O fim da segunda revista em quadrinhos, contudo, não foi o fim das aventuras de Gugu na arte sequencial. No início de 1992, a Editora Azul lançava a revista semanal “Sabadão Sertanejo”, inspirada obviamente no programa apresentado por Gugu em substituição ao antigo Viva a Noite, e que era o novo sucesso das noites de sábado na TVS/SBT. E a editora resolveu apostar em um novo projeto de levar Gugu novamente para os quadrinhos. E, mais uma vez, Gustavo Machado acabou sendo chamado para trabalhar neste projeto, cuidando da produção artística. O artista, em seu perfil no Facebook, inclusive detalha que, ao contrário das outras concepções anteriores publicadas pelas editoras Sequência e Abril, desta vez Gugu seria apresentado como um personagem pré-adolescente. E as aventuras criadas também seriam bem mais simples, com 1 a 3 páginas, no máximo, que ocupariam apenas parte da nova revista, que não era um gibi, mas voltada para as novidades do universo da música sertaneja, de modo que as historinhas eram na prática um bônus para os leitores que compravam a publicação. A nova revista, entretanto, durou apenas 19 edições, publicada semanalmente, tendo sido cancelada devido a erros grotescos de planejamento editorial e mercadológico, de modo que, com o seu fim, terminou também ali as aventuras de Gugu com o universo dos quadrinhos.
Gugu, aliás, não foi o único apresentador famoso que ganhou versão em quadrinhos naquela época. Seus “concorrentes”, Fausto Silva, Sérgio Mallandro, e Xuxa, também ganharam revistas mensais em quadrinhos, que foram publicadas pelas editoras Abril e Globo. Destas, a revista da rainha dos baixinhos foi a mais longeva, com cerca de 69 edições mensais, lançadas entre 1988 e 1993, com o título de “Revista da Xuxa”, além de alguns almanaques, em um total de 8 edições. Sérgio Mallandro, por sua vez, teve duas séries de gibis: a primeira, entre 1988 e 1990, pela Abril, com o título “Revista do Sérgio Mallandro”, com 20 edições lançadas, e que depois passou para a Editora Globo, já sob o título apenas de “Sérgio Mallandro”, com mais 22 números, lançados entre 1990 e 1992, além de dois almanaques, um pela Abril e outro pela Globo. E, por último, tivemos a revista “Quadrinhos do Faustão”, protagonizada pelo ex-apresentador do Perdidos na Noite, na TV Bandeirantes, e que agora estrelava o “Domingão do Faustão” na TV Globo. Foram apenas 8 números lançados pela Editora Abril em 1991. E até Angélica ganhou revista em quadrinhos também, através da Editora Bloch, com 21 edições lançadas entre 1989 e 1990. Todas iniciativas que contaram com vários artistas nacionais que conceberam histórias até divertidas e engraçadas, em um momento que até durou pouco, mas até deixou um pouco de saudades em quem teve oportunidade de ler aqueles gibis enquanto foram publicados.
Gugu foi um fenômeno na história da TV brasileira, mas não chegou a ser o que todos imaginavam, o “herdeiro” de palco de Silvio Santos, seu ídolo e mentor, e depois, patrão e amigo. Apesar dos bons momentos, seus programas, em especial quando apresentou o Domingo Legal, descambaram muitas vezes para a briga por audiência, pura e simplesmente, com algumas atitudes questionáveis por parte do apresentador, que chegava a deixar convidados esperando, só para escolher o melhor momento de chamá-los, se a audiência do programa, medida em tempo real, despencasse na luta pelo Ibope. Isso ajudou a desgastar sua imagem com o passar do tempo, de modo que, quando estreou na TV Record, há cerca de 10 anos atrás, já não tinha a mesma fama de seu apogeu. Mesmo assim, apresentou vários programas, e seguia firme na ativa.
Com os filhos morando nos Estados Unidos, onde podiam curtir uma vida mais tranquila e sem assédio por serem filhos do famoso apresentador, Gugu sempre que podia, ia para Miami, para se encontrar com eles, e curtir seus momentos familiares com discrição. E, infelizmente, foi em um momento desses que houve o acidente que o vitimou. A TV brasileira perde um de seus grandes nomes, e muitos sentirão sua falta, em especial aqueles que trabalharam com ele, além dos que foram ajudados pelo apresentador, ao longo dos anos. Descanse em paz, Gugu!



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