O
que muitos já previam aconteceu: a editora Salvat, depois de cancelar, há dois
meses atrás, suas coleções de Graphics dos heróis da Marvel Comics, agora está
cancelando também a única coleção que ainda estava em publicação, Tex Gold,
trazendo em formato de luxo, no mesmo esquema gráfico visto com os heróis da
Casa das Idéias, as aventuras do mais famoso ranger do universo dos quadrinhos
mundiais.
A
coleção, programada inicialmente para 60 edições, que vinham sendo lançadas quinzenalmente
nas bancas, em esquemas de distribuição localizados, ficará com apenas 40
edições, deixando a ver navios os fãs que ainda tinham alguma esperança,
tímida, de que a Salvat, sem o peso da publicação das coleções do Homem-Aranha
e a série de graphics “capa preta” da Marvel, pudesse levar a série do ranger
até o seu final. Infelizmente, não deu, mas ruim mesmo é o desencontro de
informações a respeito, com a Salvat não fazendo nenhum comunicado oficial de
forma geral, mas avisando os assinantes da coleção de que a mesma não terá mais
continuidade. Depois de ficar com uma imagem bem ruim perante o público
consumidor, pelo cancelamento abrupto das séries da Marvel, a Salvat podia ao
menos ter mais consideração com o que restou de seu público leitor, e não sair
com a imagem ainda mais arranhada do que já estava.
Das
publicações de graphics lançadas pela editora, Tex foi a mais recente a ganhar
as bancas. A Salvat já vinha publicando as coleções de capa preta e de capa
vermelha com os heróis da Marvel, e até feito expansões das mesmas, ao mesmo
tempo em que resolveu lançar uma terceira coleção, dedicada especialmente ao
Homem-Aranha, um dos personagens mais populares da Marvel. Tudo isso para
sobrepujar a concorrência da rival Eaglemoss, que havia lançado uma série de
graphics dos heróis da DC Comics, tentando aproveitar o sucesso do mercado
aberto com as graphics da Marvel. O lançamento da série do ranger, que até
então vinha sendo lançado exclusivamente pela Mythos Editora, foi recebida com
alegria, por oferecer as aventuras de Tex Willer e seus amigos em um formato de
luxo, mas bem mais acessível do que as edições de luxo que vinham sendo lançadas
esporadicamente pela Mythos.
O
problema era a situação econômica, que lançou mais de uma dezena de milhões de
brasileiros no desemprego, e que, apesar desse quadro temeroso do mercado, as
publicações da Salvat pareciam seguir firme em frente, desafiando qualquer
previsão de pessimismo no setor. Um pouco de otimismo exagerado, mas as vendas
pareciam ainda dar alguma razão à editora para manter firme seus lançamentos,
contrariando as expectativas de piora na economia. Mas muitos encaram que o
aumento do número de publicações, em momento tão crítico, era bem arriscado.
Espantosamente, as coleções continuaram sendo lançadas, e só no ano passado, a
casa caiu para o mercado, mais pela falência do Grupo Abril, uma vez que a aquela
que já foi a maior editora da América Latina detinha praticamente o monopólio da
distribuição em bancas, através da antiga Dinap, atual Total Express, que com a
entrada em recuperação judicial, deixou inúmeras empresas que atendia na mão,
entre elas a Salvat. E a encrenca da Salvat poderia ser até pior: a editora chegou
a anunciar o lançamento de uma coleção de graphics de Conan, o Bárbaro, mas nas
vésperas de ser distribuída, a série acabou adiada, e nem chegou a ser lançada.
Tivesse sido efetivada, seria mais uma coleção onde os leitores ficariam a ver
navios, com mais uma série incompleta.
Os
leitores já vinham manifestando cansaço em tentar acompanhar o ritmo dos
lançamentos, em uma disputa de mercado que atiçou também o apetite da própria
Panini Comics e da Editora Abril, com sua linha de luxo de álbuns da Disney.
Milagrosamente, nem parecia que estávamos em crise conômica, dado o volume de
lançamentos existentes neste período. Mas, mais dia, menos dia, a realidade
bateria à porta. E a quebra da Abril acabou criando um movimento em cadeia no
mercado editorial, com várias empresas dependentes da distribuição da Total
sofrendo as consequências.
Foi a
gota d’água para tudo vir abaixo, especialmente as coleções de graphics da
Salvat. As edições deixaram de ser lançadas nas bancas, e quando a distribuição
foi normalizada, alguns meses depois, já no final de 2018, o estrago já havia
sido feito, de modo que, mesmo normalizando os lançamentos, as vendas
despencaram de modo que a Salvat alegou não ter outra opção senão cancelar as
coleções. Começou pelas séries da Marvel, com as coleções do Homem-Aranha, e a
série de graphics “capa preta” a ficarem incompletas. Esta deveria ir até a
edição 150, e parou na 135. Homem-Aranha, a exemplo de Tex Gold, teria 60
números, e também acabou ficando com apenas 40 volumes lançados. A série “capa
vermelha” da Marvel deu mais sorte, pelo anúncio do cancelamento praticamente
coincidindo com o encerramento da expansão em 100 edições, de modo que foi a
única a ficar “completa”. Naquele momento, contudo, nada foi dito sobre a série
Tex Gold, que se encontrava com praticamente metade dos 60 volumes prometidos
lançados.
Infelizmente,
ou felizmente, a realidade novamente se impõe, e as aventuras de Tex em formato
luxo da Salvat também ficaram pelo caminho, com o destemido ranger sendo
abatido pelo mais poderoso e implacável inimigo de todo herói da arte
sequencial: a crise de mercado. Resta aos fãs continuarem acompanhando as
aventuras do famoso cowboy da Bonelli Comics em suas publicações regulares pela
Mythos Editora, que está de bom tamanho, a se considerar o estrago sofrido pelo
mercado editorial nacional, onde muitas empresas ainda estão tentando achar o
rumo depois do baque do fim da Abril como a conhecíamos.
Agora, a
esperança é para que esta crise, como um todo, passe o quanto antes, mas tudo
indica que, ao contrário da saga de Game of Thrones, cuja série está chegando
ao fim na TV, ainda teremos um looongo e tenebroso inverno pela frente, antes
de qualquer esperança de recuperação efetiva. E bota longo nisso...
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