O mundo
dos quadrinhos japoneses perdeu no último dia 11 o autor de uma de suas mais
clássicas séries, tanto de quadrinhos como de animação. Kazuhito Kato, mais
conhecido no meio artístico profissional nipônico pela alcunha de “Monkey
Punch”, faleceu aos 81 anos, vítima de uma pneumonia. Natural da cidade de
Hamanaka, na ilha de Hokkaido, a mais setentrional das grandes ilhas que formam
o arquipélago japonês, Kato nasceu em 26 de maio de 1937, filho de um pescador.
Apesar de começar a desenhar muito cedo, ele só começou a seguir a sua vocação
artística bem mais tarde, após se mudar para Tóquio, onde foi cursar eletrônica
numa escola técnica, após se formar no ensino médio.
Em 1965,
ele fez sua estréia como desenhista de quadrinhos profissional, com uma série
chamada Playboy Nyuumo que era publicada na revista Manga Story da editora
Futabasha, adotando de início o nome artístico de Eiji Gamuta, após utilizar o
próprio nome, mas escrito de forma diferente. Por orientação de seu editor, ele
acabou mudando sua alcunha para “Monkey Punch”, e foi com este nome que ele se
tornaria famoso, ao criar a série Lupin III, para a revista Weekly Manga Action,
tendo estreado em 10 de agosto de 1967. A série fez grande sucesso, e Kato nunca
mais teria um trabalho de tanta relevância, apesar de ter feito outras séries
de quadrinhos ao longo dos anos. Mas foi mesmo com Lupin III que ele ficaria
marcado para toda a vida.
A série
conta as aventuras de Lupin III, neto do famoso “ladrão de casaca” Arséne
Lupin, personagem da literatura francesa criado por Maurice Le Blanc na
primeira década do século XX. Mantendo a “tradição da família”, Arséne Lupin
III viaja o mundo inteiro, roubando tesouros, jóias, e o que lhe aprouver,
sendo considerado o maior ladrão do mundo. Ao seu lado, está seu grande
parceiro de roubos e aventuras, Daisuke Jigen, um exímio atirador. Completam o
time as figuras de Goemon Ishikawa XIII, um mestre espadachim que consegue
cortar quase tudo com sua técnica de espada samurai; e Fujiko Mine, uma
audaciosa ladra que tem seus próprios interesses e objetivos, sendo por vezes
aliada, ou adversária de Lupin em suas aventuras. E atrás de todo este pessoal
está o determinado inspetor Kouichi Zenigata, da Interpol, que jurou prender
Lupin por seus crimes. Mesclando aventura, drama, suspense, e muito humor, a
série não demorou a cativar os leitores japoneses, que passaram a acompanhar
com grande afinco os planos de Lupin para roubar seus alvos, e ainda ter de
escapar das encrencas advindas destes planos, como ladrões concorrentes,
pessoas corruptas, etc, e ainda precisar evitar ser capturado pelo incansável
Zenigata, em sua eterna perseguição ao maior ladrão do planeta, que ele
prometeu prender nem que fosse a última coisa que fizesse na vida.
O
sucesso do mangá motivou a adaptação da série em animação, pela primeira vez em
1971. Composta de 23 episódios, não fez um sucesso estrondoso, mas o nome de
Lupin ganharia uma segunda série de mangá ainda na segunda metade dos anos
1970, e a continuação das aventuras acabou proporcionando também a produção de
uma segunda série em animação, que fez o nome do astuto ladrão decolar de vez
na cultura pop japonesa. A segunda série de animação rendeu 155 episódios, e as
aventuras por vezes audaciosas, e por outras vezes tresloucadas, de Lupin e sua
turma também ganharam os cinemas japoneses, ajudando o personagem a ganhar cada
vez mais fama e sucesso.
Lupin
ganharia novos longas animados, tanto para cinema como para TV e o mercado de
vídeo japonês ao longo dos anos, com novas séries de mangás sendo lançadas
também, apesar de Monkey Punch já não se ocupar dos argumentos e roteiros dos
quadrinhos. Lupin acabaria por se tornar um clássico da indústria de
entretenimento japonesa, tornando-se um sucesso atemporal, ao lado de outras
séries que se tornariam icônicas na Terra do Sol Nascente, como Golgo 13,
Doraemon, entre outras, ganhando novas produções de tempos em tempos, sendo a
mais recente uma nova série de TV produzida no ano passado. O personagem também
ganhou até dois especiais onde encontra Conan Edogawa, personagem central de
outra série que já se tornou também clássica no Japão, Detective Conan,
reafirmando a fama do ousado ladrão.
No
Brasil, a primeira série de anime de Lupin III acabou sendo exibida no extinto
canal pago Locomotion. E alguns dos longa-metragens animados do personagem
chegaram a ser lançados no mercado de vídeo nacional, com destaque para aquele
que é considerado o melhor de toda a série, O Castelo de Cagliostro, dirigido
por ninguém menos que Hayao Miyazaki, que anos depois fundaria o renomado e
famoso Estúdio Ghibli, que tantas obras-primas da animação nipônica
proporcionou. As séries animadas de TV posteriores do personagem continuam
inéditas até hoje por aqui, bem como todas as séries de ,mangás produzidas por
Monkey Punch. Dos outros trabalhos de Monkey Punch, apenas um outro acabou
chegando ao Brasil, e assim mesmo, apenas em versão animada: Cinderella Boy,
que ganhou uma produção de 13 episódios que foi exibida no canal pago Cartoon
Network na década passada, com o título de “Efeito Cinderela”. A história
mostra as aventuras de uma dupla de detetives que, após sofrerem um acidente,
tem seus corpos misteriosamente mesclados por um cientista, fazendo com que
cada um deles troque de lugar com o outro a cada 24 horas.
Kato
sempre esteve atento à evolução proporcionada pelos avanços tecnológicos, e
desde tempos remotos adotou o uso de computador em seus trabalhos
profissionais. O artista foi um dos fundadores e presidentes da Digital Manga
Association, entidade que defende o uso das tecnologias digitais na concepção e
desenvolvimento de séries. Ao longo de sua carreira, Kato foi premiado com
vários prêmios, entre eles o AMD Lifetime Achievement Award, e o Tokyo Anime
Award Lifetime Achievement Award. Na década passada, estudou animação digital
em Tóquio, a fim de melhorar seus conhecimentos no setor.
Apesar
da idade, Monkey Punch mantinha-se ativo, participando dos mais recentes
projetos animados envolvendo Lupin III, além de outros trabalhos menos famosos
aos olhos do grande público. Lupin III, sua maior obra, provavelmente
continuará ganhando novas aventuras no futuro, dada a fama do personagem, e sua
importância no mercado de cultura pop japonês, a exemplo de algumas outras obras
que seguiram em frente após a morte de seus criadores. Kazuhito Kato pode ter
descansado, mas sua maior criação continuará rodando o mundo, afanando seus
maiores tesouros com a audácia, determinação e astúcia que o tornaram famoso ao
longo das décadas passadas desde sua primeira aventura. Vida longa a Lupin III.
E descanse com a sensação do dever cumprido, Monkey Punch!
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