A editora
começou a restaurar a imagem de herói “sério” e “sombrio” do Batman, que ficara
estigmatizado pelo seriado dos anos 1960, através da bela arte de Neal Adams,
com histórias onde o herói passou a atuar sozinho (Robin foi para a
universidade), e fazendo maior uso de seus talentos de detetive, em histórias
bem mais sérias e sombrias. E isso seria apenas o começo. Quando o editor
Julius Schwartz convocou o roteirista Dennis O’Neil e o desenhista Neal Adams
para revitalizar o título do Lanterna Verde, a revista do herói passou a
apresentar, além da cada vez mais espetacular arte de Adams, conteúdos muito
mais próximos das questões sociais prementes que permeavam a época. Tal
abordagem, somada à presença fixa do rebelde Arqueiro Verde, fazendo
contraponto à atitude mais “ordeira” de Hal Jordan, e promovendo um confronto
de idéias entre as posições de Oliver Queen e seu amigo Lanterna Verde, catapultou
as histórias a seu atual status de lenda absoluta. E essa lenda mais uma vez
volta às bancas do país nestes meses de novembro e dezembro, pelas mãos da
Panini Comics, que estará lançando suas próximas edições da coleção Lendas do
Universo DC. Trata-se de um material de primeira linha, que vale a pena ser
revisto e/ ou conhecido pela primeira vez para quem nunca leu estas histórias.
LENDAS DO
UNIVERSO DC: LANTERNA VERDE/ARQUEIRO VERDE terá 3 edições, com cerca de 132
páginas cada uma, e republicará, na íntegra, uma fase que não só influencia os
quadrinhos até hoje, como permanece uma leitura espetacular. Publicada no mesmo
formato e acabamento das coleções Lendas do Cavaleiro das Trevas e Lendas do
Homem de Aço, que inclui capa cartão e miolo offset, estas aventuras foram
publicadas originalmente nas edições do título Green Lantern 76 a 87, e 89 e, também
como histórias secundárias, nas edições da revista The Flash 217, 218, 219, e
226. Para os fãs dos dois personagens da DC Comics (ou simplesmente para
aqueles que curtem narrativas gráficas de qualidade), trata-se de uma chance
sem igual de ter um material que faz parte da história das HQs, sendo lembradas
até hoje.
A abordagem da
dupla amadureceu os perfis da dupla de heróis Lanterna Verde e Arqueiro. Oliver
Queen, o herói arqueiro surgido na Era de Ouro como um playboy combatente do
crime, tornou-se um homem muito mais maduro e de posições políticas bem mais
radicais, que tenta influenciar o seu amigo Hal Jordan, o Lanterna Verde da Era
de Prata, que possui uma postura mais liberal. Juntos, os dois embarcam em um
aventura pelas estradas americanas. Dinah Lance, a Canário Negro, passa a
acompanhar a dupla e a partir daí se torna o interesse amoroso do Arqueiro.
Para sentir o impacto da abordagem, logo na primeira história desta fase, lançada
em 1970 na revista Green Lantern/Green Arrow número 76, a dupla de heróis topa
com um problema bem complicado de ser resolvido com suas habilidades: a questão
racial. Em um momento em que conflitos entre brancos e negros ganhavam a rua ameaçando
levar os Estados Unidos a uma espécie de guerra civil, ao mesmo tempo em que o
Congresso americano preparava-se para aprovar o fim da segregação no país, uma
história dos quadrinhos reproduzia as faces do líder negro Martin Luther King e
do senador Robert Kennedy, ambos vítimas de atentados que marcaram época.
Outro momento
de forte impacto foi a história em que Hal e Oliver enfrentam um traficante de
drogas, e o Arqueiro ainda tem o dissabor de descobrir que Ricardito, seu jovem
parceiro no combate ao crime, tornou-se um viciado em drogas. E esse foi apenas
outra das inúmeras dificuldades que a dupla teve de enfrentar. O público leitor
brasileiro já teve chance de ler parte deste material, primeiro na própria
década de 1970, quando a Ebal publicava os títulos DC. Nos anos 1980, parte do
material acabou saindo nos títulos de linha da Abril, que havia passado a
publicar as aventuras dos heróis DC em nosso país.
Na década
passada, a Opera Graphica lançou uma edição especial reunindo duas histórias desta
fase que permaneciam inéditas no Brasil, intituladas “...E uma criança irá
destruí-lo” e “Um mundo feito de plástico”. Esta edição foi bem cuidada, em
formato americano, com capa cartonada e lombada quadrada, incluindo um artigo
escrito por Roberto Guedes sobre os heróis e os autores, Dennis O’Neil e Neal
Adams, com suas respectivas biografias.
É
a segunda vez em que boa parte deste material será apresentado em ordem e na
íntegra no Brasil. Em 2006, a mesma Panini Comics lançou as edições Grandes
Clássicos DC N°s 6 e 7, compilando as edições do título Green Lantern 76 a 87,
e 89. Esta edição que sairá agora, contudo, é mais completa, com as histórias
que foram publicadas no título do Flash, o que torna este lançamento da Panini
Comics muito recomendável, tanto para os antigos leitores que já tiveram
oportunidade de ver este material, como para a atual geração de leitores. Além
da arte impecável de Neal Adams, os assuntos debatidos nas histórias permanecem
mais do que atuais, mostrando que certos dilemas são muito mais complicados de
se solucionar do que parecem, não importa se você é um super-herói com os mais
variados poderes e habilidades. E socar um bandido poderá parecer um passo pífio
na tentativa de trazer tudo de volta ao normal, salvando aqueles que se
encontram em perigo.
Serão
edições para se ter na estante de qualquer fã de quadrinhos. Um ponto positivo
para a Panini por republicar novamente esta fase desta icônica dupla de heróis
da DC Comics em um de seus momentos mais relevantes.
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