Um antigo grupo de heróis dos quadrinhos está de
volta, em nova editora, e com uma nova saga a ser mostrada. O grupo de
personagens em questão são os Micronautas; a nova editora é a IDW Publishing, e
a nova história começou a ser contada com o lançamento de MICRONAUTS, nova
série regular da editora norte-americana, que chegou às comic shops dos Estados
Unidos há poucos dias. os roteiros estão a cargo de Cullen Bunn, com arte de
David Baldeon, com capas de J.H. Williams. A nova série, mensal, tem preço de
US$ 3,99.
Os
leitores mais antigos irão lembrar das histórias que foram publicadas nos
áureos anos 1980 nas publicações Marvel da Editora Abril, mais especificamente
na revista Heróis da TV, que trouxeram para o público leitor de quadrinhos
nacional as aventuras do grupo de heróis do Microverso, um local situado dentro
do Universo Marvel tradicional, porém em realidade subatômica. Na trama, um
grupo de heróis reúne-se para acabar com a tirania do perverso Barão Karza, que
domina a sociedade daquele universo subatômico através de seu "banco de
corpos", que torna quem o utiliza praticamente imortal, dando-lhe a chance
de "trocar de corpo", e assim continuar vivendo indefinidamente,
repetindo o processo de tempos em tempos. Como as pessoas desejam driblar a
morte, Karza foi conquistando cada vez mais poder, até que eliminou as poucas
autoridades que lhe faziam oposição. Dos mundos submetidos ao jugo de sua
tirania, reuniram-se vários elementos que iniciaram resistência ao poder de
Karza.
Micronautas
surgiu inicialmente como uma linha de brinquedos do mesmo nome da Mego, que por
sua vez eram baseados na linha Microman, da empresa japonesa Takara,
curiosamente uma das linhas que dariam origem, alguns anos depois, à série
Transformers, da Hasbro, em parceria com a Marvel Comics. A Marvel fez um
contrato de licenciamento com a Mego por sugestão de um de seus roteiristas,
Bill Mantlo, que assim que viu a linha de brinquedos, praticamente criou tda
uma história para os personagens da linha de action figures. Jim Shooter, então
editor-chefe da Casa das Idéias, topou a parada, e assim, em janeiro de 1979, a Marvel lançava a
primeira edição de Micronautas, com roteiros criados por Bill Mantlo, e
desenhos de Michael Golden. Para a Mego, era um grande negócio: além de faturar
alguns trocados com o licenciamento dos brinquedos, as histórias em quadrinho
promoveriam a linha entre o público leitor, fazendo uma excelente propaganda e
aumentando as vendas.
A série teve sucesso, sendo publicada até 1984, com
um total de 59 edições e dois especiais anuais lançados. A Marvel ainda
promoveu alguns encontros dos Micronautas com seus personagens, como o Quarteto
Fantástico e os X-Men. Houve ainda uma segunda série, intitulada Micronauts:
The New Voyages (Micronautas: As Novas Viagens), publicada de 1984 até 1986, com
mais 20 edições, quando a Marvel encerrou definitivamente as publicações com os
personagens, ao fim do contrato de licença dos personagens.
Os
Micronautas retornariam aos quadrinhos em 2002, agora publicados pela Image, em
uma curta série que durou apenas 11 edições, antes de ser cancelada. Em 2004,
foi a vez da Devil's Due Publishing apostar na série, mas durou ainda menos,
saindo do mapa após apenas 3 números. E os Micronautas foram novamente para o
limbo editorial, até que no ano passado a IDW anunciou ter conseguido a licença
para lançar quadrinhos dos personagens, o que está lançando agora.
Mas
quem curtiu os personagens se engana pensando que irá rever todos os heróis da
trama, ou ver uma continuação da saga publicada pela Marvel Comics décadas
atrás. Como tem se tornado praxe em diversas séries de quadrinhos que foram
licenciados, a história da trama mostrada nos gibis da Marvel foi criada pela
editora, assim como alguns dos personagens da série, como o Comandante Arturus
Raan, Mari Marionette, e o Besouro, enquanto outros personagens, como Príncipe
Acrólito, além do grande vilão da saga, o Barão Karza, são baseados nos
brinquedos originais, e portanto, não pertenciam à editora, o que impediu que a
Marvel pudesse republicar as histórias da série, ao fim do seu contrato de
licenciamento, um problema que afeta até hoje outros materiais produzidos pela
editora, como as histórias originais de Shang Chi, o Mestre do Kung Fu (por
usar personagens licenciados, como Fu Manchi, Syr Dennis Nayland Smith, e mais
alguns outros), e Rom, o Cavaleiro do Espaço (que por sinal também foi
adquirida a licença para quadrinhos pela IDW), cuja mitologia das histórias foi
inteiramente criada pela Marvel sobre o brinquedo do personagem.
Inclusive, a Marvel tem feito uso dos personagens
criados para a série Micronautas em algumas publicações recentes, reforçando a
idéia de que a nova série que acaba de ser lançada pela IDW terá apenas o nome
e alguns personagens mantidos, o que não se pode dizer da história, que será
inteiramente nova. O Barão Karza continua a ser o grande vilão da trama, e há
todo um grupo de novos personagens criados para esta nova série. Na nova
história, o universo subatômico parece estar entrando numa era de entropia, num
momento em que a ciência e a magia disputam o controle pelo destino dos
eventos. Um grupo de pessoas e seres se reúne para investigar o que pode estar
causando este fenômeno que parece estar devastando mundo após mundo. Mas o que
eles poderão fazer para impedir que a entropia destrua a tudo e a todos? E o
que o misterioso ser conhecido como Barão Karza tem em mente quando afirma que
tem uma guerra para vencer? Com os recursos à disposição diminuindo
rapidamente, um misterioso viajante perdido do tempo pode ser a chave para a
salvação, mas e se não for, e o armageddon se tornar ainda mais inevitável do
que já está parecendo?
Entre
os novos personagens, temos Oziron Rael, um homem que se rebela tanto contra as
forças do misticismo quanto as forças da ordem. Chamado de "Oz" por
seus amigos, ele está pouco disposto a ver pessoas inocentes morrerem devido à
guerra. Possui uma nave chamada Heliopolis, uma nave de pesquisa que acabou
virando cruzador de batalha. Temos também Acroyear (o velho Príncipe Acrólito,
da versão Marvel), um superguerreiro criado geneticamente, que foi colocado
para ser "aposentado" à força junto com o resto de sua raça, mas que
escapou de ser destruído graças à Oz. Outros personagens na trama são Phenolo-Phi,
um rebelde investigador emotivo que usa uma roupa protótipo de astronauta com
planador; Larissa, uma Defensora Orbital, uma guerreira competente, e estudante
de medicina e ciência, que criou uma tecnologia de defesa portátil que usa para
poder proteger seus aliados ou pessoas inocentes; Biotron, robô volumoso e
poderoso; e Microtron, o companheiro que está sempre com Oz, demonstrando uma
inteligência e sarcasmo auto-depreciativo, mas sendo sempre alguém leal. E,
claro, não poderia faltar o Barão Karza, que nesta nova versão se vê como o
salvador que pretende resgatar o universo subatômico, impondo a ele uma ordem
totalitária para protegê-lo de si mesmo, garantindo a integridade da realidade.
Resta
esperar como esta nova saga dos Micronautas vai se desenvolver, e se esta nova
versão conseguirá obter o mesmo sucesso e reconhecimento de sua versão original
de décadas atrás. A iniciativa é válida, ainda mais pelas limitações que a
licença da propriedade impõe, e os tempos também são outros. Portanto, boa
sorte à editora americana em seu projeto de relançar esta série.
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