O México e os fãs de um dos mais cultuados seriados
exibidos na TV mundial estão de luto: no último dia 28 de novembro, faleceu aos
85 anos, Roberto Gomez Bolaños, que imortalizou-se nas telas de TV
interpretando o personagem Chaves. Escritor, comediante e dramaturgo, Bolaños
faleceu em sua residência em Cancún, e já vinha tendo problemas de saúde nos
últimos anos, que se intensificaram a partir de 2012, quando foi internado
devido a uma insuficiência respiratória. Nos últimos tempos, já estava
praticamente confinado a uma cadeira de rodas, e não resistiu a um Nascido na
Cidade do México em 21 de fevereiro de 1929, filho da secretária bilíngue Elsa
Bolaños Cacho e do pintor, cartunista e ilustrador Francisco Gómez Linares,
Roberto Goméz Bolaños tinha tudo para seguir outros rumos em sua vida. Ele
cursou e se formou em engenharia elétrica pela Universidade Nacional Autônoma
do México, mas quis o destino que ele nunca exercesse essa profissão.
Ainda nos anos 1950, conseguiu emprego como escritor
para um programa de uma dupla humorística em uma emissora de rádio, tomou
gosto, e não parou mais. Em pouco tempo, passaria a escrever programas de TV, e
até filmes para cinema. Em 1960, estreava como ator, em um filme escrito por
ele próprio, e sua vida a partir dali seria sempre ligada à TV e ao cinema.
Pouco a pouco, sua fama foi crescendo não apenas como roteirista, mas também
como ator, e em 1968, no programa de esquetes “Los supergenios de la mesa
cuadrada”, encontraria-se com vários dos atores que, mais tarde, passariam a
fazer parte de seu maior sucesso na carreira. Um sucesso que teve início em
1970, pela rede de TV Televisa, quando estreou a série “El Chapulín Colorado”,
que no Brasil se chamaria “Chapolin”, onde Bolanõs interpretava o
personagem-título da série, que era um super-herói ingênuo e atrapalhado que se
envolvia nos maiores problemas e confusões. As frases do personagem se tornaram
conhecidas por todos os fãs, como “Não contavam com a minha astúcia”,
"Sigam-me os bons", e “Se aproveitam da minha nobreza”, entre outras.
O sucesso desta série permitiu ao ator e escritor a produção de uma nova série,
nos mesmos moldes de humor, mas com outra temática. Assim, nascia em 1971 a série "El Chavo
del Ocho”, cujo personagem central, também interpretado por Bolanõs, era um
garoto pobre que vivia em uma vila, e que geralmente se escondia em um barril:
Chaves, no Brasil.
Começando
como um programa de esquete dentro da série Chapolin, Chaves assumiu a primazia
em pouco tempo, e passou a ser o maior sucesso de Roberto. Sua combinação de
humor inocente, piadas simples, e dramas do cotidiano comuns a muita gente
cativaram o público e várias gerações até hoje. E, assim como Chapolin, Chaves
também tinha suas falas padrão que ficariam marcadas nas mentes dos fãs, como
"Ninguém tem paciência comigo", "Foi sem querer querendo",
e "Isso, isso, isso...", entre muitas outras citações. Tanto Chapolin
como Chaves seriam exportados para diversos países, e fariam grande sucesso em
todos eles, por vários e vários anos. No México, ambas as séries foram
produzidas ininterruptamente como programas independentes por praticamente uma
década: Chapolin foi produzido de 1970 até 1979, contando com cerca de 253 episódios;
Chaves, por sua vez, estreou em 1971, e foi exibido até 1980, totalizando 290
episódios. Na década seguinte, o artista passou a produzir um novo programa de
TV, baseado em esquetes, com Bolaños interpretando vários personagens em
quadros variados, e tanto Chapolin quanto Chaves passaram a ser quadros deste
novo programa, chamado "Chespirito", apelido que o ator ganhara
muitos anos antes no meio artístico, quando foi comparado a William
Shakespeare, pela sua grande capacidade de escrever histórias. Este programa
durou até o fim de 1995, e a partir de então, o artista passou a se dedicar
mais ao teatro, como protagonista da peça "Once Y Doce", que já
produzia e estrelava desde 1992, e que encerrou apenas em 2009, já praticamente
com 80 anos de idade.
No Brasil, a TVS/SBT estreou a série do Chaves em
1984, e tornou-se um dos maiores sucessos da emissora de Silvio Santos. Com uma
excelente dublagem, o seriado caiu no gosto do público brasileiro, a ponto de
fazer da série a recordista de reprises da emissora, que exibe a produção até
os dias atuais, sempre com excelentes índices de audiência, mesmo depois de 30
anos de sua estréia na programação do canal. O sucesso de Chaves era tanto que
a audiência de seu programa chegava até a balançar o ibope da toda-poderosa TV
Globo, até mesmo no horário nobre de suas novelas, o que era um assombro,
especialmente para os diretores da emissora carioca, que até hoje não conseguem
entender como aquele programa, feito com poucos recursos e um humor considerado
por muitos ultrapassado e infantil, conseguiu rivalizar com suas produções. E,
para desespero dos concorrentes, raras foram as ocasiões em que Chaves deixou a
grade de programação da emissora, e quando isso acontecia, para felicidade dos
fãs, sempre era por pouco tempo, com a produção retornando e voltando a
garantir sempre invejáveis números de audiência para um programa reprisado
praticamente à exaustão. Com menos fama do que a série do garoto do barril,
Chapolin também foi exibida pela emissora, e assim como Chaves, também marcou
época e ganhou inúmeros fãs do super-herói todo atrapalhado, sendo reprisado
inúmeras vezes, ainda que sua audiência não fosse tão arrasadora quando a
daquela série. Chespirito, o programa mais recente de Bolaños, também foi
exibido pelo canal, embora tenha ficado à sombra das produções mais antigas,
mas que nem por isso deixou de ser exibido várias vezes.
O
seriado teve alguns episódios lançados em DVD, mas, devido a problemas com a
emissora de Silvio Santos, que não liberou as dublagens dos episódios, foi
preciso providenciar uma nova dublagem para os DVDs, que apesar de bem feita,
não caiu muito no gosto do público, já acostumado às vozes da exibição
televisiva. Na década passada, como que para mostrar que o sucesso de Chaves
ainda continuava forte, a série ganhou uma versão em desenho animado, que fez
um relativo sucesso, tendo sido exibida também pela TVS/SBT. Aliás, pela
primeira vez, Chaves também passou a ser exibido pela TV por assinatura, tendo
feito parte da grade do canal Cartoon Network durante algum tempo.
A emissora de Silvio Santos noticiou a morte do
artista, e exibiu inúmeros episódios de suas séries, em homenagem. O assunto
ocupou os telejornais e programas da emissora, com inúmeras entrevistas e
depoimentos de fãs e profissionais do meio artístico que cresceram assistindo
Chaves. Houve comoção de fãs em várias partes do mundo, para onde as séries
haviam sido exportadas desde os anos 1970, que chegaram a ser exibidas em mais
de 100 países. Todos lamentaram o falecimento do artista. Seu corpo foi velado
no Estádio Azteca, na Cidade do México, onde a emissora que produziu suas
séries fez uma homenagem com o título "Chespirito: Obrigado para
sempre", com transmissão ao vivo pela emissora mexicana. O velório no
estádio contou com mais de 40 mil pessoas, sendo que havia uma legião de fãs
que compareceram vestidos de Chaves e Chapolin. O enterro foi no dia 1° de
dezembro, no cemitério Panteón Francés, da capital mexicana. Roberto foi casado
duas vezes: aos 27 anos, casou-se com Graciela Fernández, com quem ficou 23
anos e teve seis filhos: Roberto, Paulina, Graciela, Marcela, Teresita e
Cecília. No entanto, durante a produção das séries "Chaves" e
"Chapolin", em 1977, ele assumiu um romance com a atriz Florinda
Meza, que interpretava a Dona Florinda, em “Chaves”. A união com Florinda,
contudo, só foi oficializada em 2004, depois que o artista conseguiu enfim o
divórcio de Graciela.
Apesar
do sucesso das séries, nos bastidores nem tudo eram flores: o romance de
Roberto com Florinda causou a baixa de Carlos Villagrán, intérprete do Quico,
de seu programa. Villagrán também teria tido um romance com Florinda, e
inconformado por ter sido preterido em favor de Bolaños, desentendeu-se com o
artista e foi seguir carreira solo em outros países, e ambos jamais se
reconciliaram. Na década de 1990, os problemas se deram com a atriz Antonieta
de Las Nieves, que interpretava a Chiquinha, filha do Seu Madruga e parceira de
traquinagens do Chaves na série, que reclamou para si os direitos da personagem
que interpretara no seriado, e que a exemplo das discussões com Villagrán,
também deixou feridas que nunca cicatrizaram.
Quando
perguntado a respeito do enorme sucesso feito por Chaves, Roberto declarou que "Chaves
sempre defendeu valores familiares como honestidade e compaixão, e as pessoas
se identificam com ele por causa disso". Era uma explicação tão simples
que por isso mesmo até deixava dúvidas de sua veracidade. O fato é que não há
uma única explicação para o fenômeno que Chaves se tornou, e isso, o próprio
ator soube encarar que esse sucesso, como diria o próprio Chaves, foi mesmo sem
querer querendo. E o mundo, certamente, sentirá grande saudade deste artista,
que soube encantar o mundo com suas criações, que prometem continuar divertindo
pessoas em todos os lugares onde continuarem sendo exibidas.
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