O matuto mais
famoso dos quadrinhos Disney, o Urtigão, está completando 50 anos, e para
comemorar o feito, acaba de ganhar uma edição especial da Editora Abril. URTIGÃO
- 50 ANOS chegou às bancas neste mês, ao preço de R$ 16,00, e com 308 páginas
trazendo várias aventuras do caipira mais turrão de Patópolis, várias delas
inéditas no Brasil.
Com capa
envernizada com detalhes em alto relevo, a edição ainda traz 3 textos de
Marcelo Alencar, explicando a origem do personagem, e a sua trajetória tanto no
exterior quanto no Brasil, onde fez grande sucesso e ganhou inúmeras aventuras,
boa parte delas produzida em nosso país, que tratou de dar contornos mais
tupiniquins ao enfezado sitiante, que surgiu pela primeira vez em uma aventura
do Donald e do Peninha, em 1964. Esta história demorou dois anos para sair no
Brasil, tendo sido publicada na edição 166 da revista do Mickey, e sendo
republicada apenas agora, nesta edição especial.
Mas demorou
até 1969, após algumas aventuras, para seu nome finalmente surgir: Hard Haid
Moe, que virou Urtigão na versão nacional. Com a criação de um estúdio na
Editora Abril para produzir histórias dos personagens Disney para as revistas
de linha nacionais, o matuto e seu inseparável companheiro, o Cão, pra não
falar de sua espingarda de dois canos, começou a ganhar as primeiras aventuras
produzidas por aqui com roteiros que eram enviados pelos próprios americanos, a
fim de abastecer as editoras licenciadas, mas não demorou muito para os
próprios brasileiros começarem a criar as histórias também, ampliando o leque
de opções em que podiam contar com o caipira. Enfezado, anti-social, e
detestando as "visitas" indesejáveis do pessoal da cidade, que só sabem
perturbar seu sossego e tranquilidade, pouco a pouco o Urtigão foi conquistando
a simpatia dos leitores, ao mesmo tempo em que rechaçava os chatos com sua
espingarda, disparando tiros de sal grosso em quem quer que teimasse em
perturbar o seu sossego. E, também aos poucos, os roteiristas nacionais foram
dando ares de brasilidade ao camponês, deixando-o bem familiar aos leitores.
A fama do
Urtigão foi crescendo, e apesar da produção de histórias com o personagem ser
meio irregular em termos de periodicidade, ele chegou a ganhar algumas edições
compilando suas aventuras lançadas. Mas o ponto alto do personagem foi mesmo na
década de 1980, quando ganhou um título próprio, Urtigão, revista quinzenal que
passou a expandir o universo rural do matuto, apresentando novos personagens, a
partir de 1987. Até então, na maioria das aventuras lançadas até então, ele era
apenas um coadjuvante, ao lado de Donald, Peninha, Huguinho, Zezinho e
Luisinho, e até do Tio Patinhas. Agora era a vez do Urtigão alçar vôo próprio,
e graças aos talentos do estúdio da Abril, ele foi longe: o título do
personagem durou quase 170 edições, sendo cancelado em 1994 mais pela crise de
mercado do que pela falta de sucesso do personagem.
Nesse meio
tempo, o Urtigão participou de muita coisa: desde aturar as visitas
"indesejáveis" da turma da cidade, com destaque especial para o
Peninha, que raras vezes saiu das histórias sem levar um belo tiro de sal
grosso do trabuco do enfezado caipira, passando por invasões de índios, ladrões
de terras, negociatas com o Tio Patinhas, chegando até a fazer viagens internacionais,
tendo ido parar no Rio de Janeiro, onde viveu várias aventuras com o Zé Carioca
e o resta da turma da Vila Xurupita. Com o fim da revista própria, o ritmo de
produção das aventuras diminuiu, mas o Urtigão só deixaria de ganhar novas
aventuras mesmo no início da década passada, quando a Abril desativou seu
estúdio de produção de histórias em quadrinhos, situação que lentamente parece
estar sendo revertida, com o lançamento de algumas novas histórias do Zé
Carioca nos últimos meses.
Mas por
enquanto não há expectativa da produção de novas histórias do Urtigão por aqui.
Aventuras inéditas, só as produzidas na Europa, porque nos Estados Unidos
mesmo, ele só teve poucas, e hoje é praticamente desconhecido por lá. Uma das
razões, como é explicado nos textos que acompanham esta edição, é que alguns
personagens Disney foram criados mais para serem usados no mercado externo de
quadrinhos, como por exemplo, o agente secreto 00-Zéro, e o detetive Sir Lock
Holmes. Como consequência, depois das primeiras aventuras criadas pelos
americanos para lançar o Urtigão, os europeus e brasileiros ficaram
encarregados de produzirem material com o personagem para seus próprios
mercados, de modo que nem mesmo os leitores americanos viram mais aventuras do
personagem, salvo raras exceções, quando o material criado no exterior acabou
sendo lançado no mercado americano de forma ocasional ao longo dos anos.
Mesmo sem
muitas histórias inéditas lançadas nos últimos anos, o personagem tem mantido
sua fama viva graças às republicações do material produzido no Brasil, e esta
edição comemorando seus 50 anos é mais do que bem-vinda, ajudando a apresentar
o personagem a vários leitores atuais, e recordando aos mais antigos as peripécias
já vividas. Que o Urtigão possa continuar tendo suas aventuras ainda por um bom
longo tempo, para azar de quem resolver atrapalhar o seu sossego, pois ele está
sempre com sua espingarda à mão, e pronto para atirar...
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