O mês de outubro
deste ano marca um número a ser comemorado no mercado nacional de quadrinhos: a
revista Mônica, produzida por Mauricio de Sousa, atingiu o incrível número de
600 edições publicadas no Brasil. Um número de respeito. Pode parecer pouco,
diante das mais de duas mil edições publicadas de Pato Donald ou Zé Carioca, ou
os mais de 600 números da revista Tio Patinhas, ou as mais de 900 edições de
Mickey, títulos Disney publicados durante várias décadas pela editora Abril,
mas é preciso salientar que os títulos Disney mencionados, apesar de estarem
sendo publicados atualmente no Brasil, agora pela Editora Culturama, sofreram
uma interrupção de publicação, desde julho do ano passado, quando a Abril
resolveu cancelar toda a sua linha de quadrinhos Disney, que publicava há 68
anos ininterruptos.
A revista da
Mônica, por outro lado, apesar de já se encontrar em sua terceira editora, a
Panini Comics, vem sendo lançada regularmente desde que a primeira edição foi
publicada, em maio de 1970, então pela Editora Abril, e desde então nunca mais
parou, estando presente todos os meses nas bancas de todo o país, ajudando seu
criador, Mauricio de Sousa, a criar um verdadeiro universo de personagens e um
império empresarial como poucos no ramo.
A revista
atualmente encontra-se em sua segunda série na Panini, estando na edição Nº 54.
Foram 200 edições publicadas pela Editora Abril, desde 1970, até o fim de 1986,
quando a revista, assim como as demais publicações de Mauricio de Sousa também
foram encerradas pela editora paulista. Mas no mês seguinte, abrindo o ano de
1987, eis que Mônica continuava nas bancas, agora pela Editora Globo, novo nome
assumido pela antiga Rio Gráfica e Editora – RGE. E com a Mônica vieram também
todas as outras publicações, dando continuidade ao entretenimento trazido pelos
personagens a milhões de leitores por todo o país.
Na nova casa,
Mônica chegou a 246 edições, tendo sua publicação também encerrada pela Globo
ao fim de 2006. E, assim como ocorrera na transição anterior, no mês seguinte,
Mônica, e todas as demais revistas de Mauricio estreavam em sua nova, e até o
presente momento, atual editora, a Panini. Numa decisão controversa, a
numeração da revista acabou resetada em 2015, recomeçando do zero, após 101
números, de modo que, ao somarmos todas as revistas, a edição 54 da segunda
série em publicação pela Panini atinge a marca de 600 edições publicadas até
hoje no Brasil, número que é impressionante, ainda mais se levarmos em conta os
percalços editoriais de nosso país, em sua história, e não apenas o momento
atual delicado de nossa economia.
Aliás, é preciso
respeitar ainda mais a força da Mônica no mercado editorial nacional. Com
tiragens das revistas que hoje parecem ínfimas, se comparadas aos números de
vendas alcançados por várias publicações nacionais nos anos 1980 e 1990, Mônica
continua um caso à parte do mercado brasileiro, com vendas impressionantes que
superam os 100 mil exemplares com relativa facilidade, façanha que se estende
também às demais publicações de Mauricio de Sousa, tornando o antigo desenhista
e atual empresário em um caso único de sucesso e longevidade no mercado
nacional de quadrinhos, que já viu publicações de diversos outros personagens criados
por artistas nacionais, mas nenhum deles tendo obtido o mesmo sucesso de
Mauricio.
Um sucesso que
veio depois de muito trabalho e persistência, quando Mauricio, ainda jovem,
começou a dar seus primeiros rabiscos profissionais como repórter policial, nos
anos 1950. Só em 1959, Mauricio conseguiria lançar profissionalmente seu
primeiro personagem, o cãozinho Bidu, em tiras de jornal, partindo dali em
diante para a criação de vários outros personagens, como o Cebolinha, e depois
aquela que viria a ser a mais famosa de todas as personagens criadas por ele, a
Mônica, uma menina dentucinha e meio mal-humorada que conquistaria os leitores.
Mauricio até tentou publicar suas primeiras revistas ainda nos anos 1960, mas a
falta de uma estrutura adequada para produção das histórias na quantidade
necessária para bancar uma publicação fizeram a empreitada naufragar. O artista
passaria os anos seguintes dedicando-se a criar essa estrutura, criando um
estúdio que pudesse produzir as histórias em um ritmo e qualidade profissional
adequados para serem publicados nas exigências do mercado editorial, além de
continuar a produzir as tiras de jornal que iam fazendo seus personagens serem
conhecidos cada vez mais pelo público.
E assim, em maio
de 1970, Mônica Nº 1 chegava às bancas nacionais, trazendo várias histórias com
os mais diversos personagens criados por Mauricio. Com uma tiragem inicial de
cerca de 200 mil exemplares, Mônica foi um sucesso de vendas, a ponto de, algum
tempo depois, ganhar a companhia de outro título, Cebolinha, que seria a
segunda revista publicada por Mauricio, ajudando a incrementar ainda mais as
vendas. Era o início de uma grande história de sucesso dos quadrinhos
nacionais. Mauricio, a partir dali, combinaria seu talento artístico criando
vários outros personagens, além de expandi-los para outras mídias, ganhando
novas revistas, inúmeros produtos licenciados, e tendo seus personagens
publicados em diversos outros países mundo afora. O pequeno estúdio montado por
Mauricio para ajudar na criação das histórias foi ficando cada vez maior,
agregando mais e mais funções com o crescimento do número de personagens, e o
sucesso de vendas das revistas, dando origem à Mauricio de Sousa Produções,
empresa que, com Mauricio à frente, gerencia o grande império empresarial
criado com o sucesso obtido com seus personagens.
Um sucesso que
começou com uma menina dentucinha, que dava coelhadas em seus amigos, quando
estes aprontavam para cima dela, em especial um certo garoto de cabelos
espetados e que falava “elado”, pondo em prática seus famosos “planos
infalíveis” para derrotar a Mônica, que possuía uma força incrível com a qual
sempre conseguia vencer os desafios, fossem as tramas dos meninos, fossem os
planos de algum vilão malvado no pedaço, como o famigerado Capitão Feio. Nos
anos 1980, com o aumento do sucesso, Cascão, Chico Bento e Magali também
ganharam suas próprias revistas, mas a da Mônica sempre permaneceu como
carro-chefe das publicações de Mauricio, que há alguns anos atrás, ainda lançou
a versão adolescente dos personagens, com as novas revistas Turma da Mônica
Jovem e Chico Bento Moço, e mais recentemente, expandiu para uma versão com a
nova publicação Turma da Mônica Geração 12. Fora isso, há alguns anos, os
personagens ganharam também edições especiais, no estilo álbum de luxo, com a
linha Graphics MSP, com excelentes resultados tanto de vendas quanto de
críticas. Outro exemplo do sucesso é o recente filme “Laços”, baseado na HQ de
mesmo nome, e o primeiro filme live-action dos personagens, que em outras épocas
ganharam várias animações que fizeram muito sucesso entre os fãs.
Nesta edição
comemorativa de 600 números lançados, a Mônica acaba sendo sequestrada no
passado por um vilão misterioso, que tem por objetivo impedir que a dentuça de
chegar à 600ª edição. E, aprisionando a heroína no presente, ela não pode estar
no passado, iniciando a longa caminhada para o sucesso das 600 edições de sua
revista. Mas seus amigos e vários outros personagens estarão a postos para
ajudá-la a superar os planos perversos do vilão, em uma trama com inúmeras
referências e citações a várias outras aventuras vividas ao longo destes praticamente
50 anos de publicação da revista, que continua firme e forte como nunca, em
meio ao tumultuado momento editorial nacional. A capa da revista, aliás, também
faz referência à capa da primeira edição da revista. A edição também traz
algumas outras histórias de outros personagens, para completar a diversão,
mostrando que esta marca de 600 edições continua firme no seu intento original
de entreter e divertir o leitor, seja de que idade ele for. Talvez a única
falha seja a revista não possuir nenhuma matéria especial sobre a trajetória da
publicação nestas 600 edições alcançadas. A única menção está na capa, e na
história principal, e apesar de várias informações dadas durante o desenrolar
da aventura, um texto sobre o momento de comemoração seria mais do que
bem-vindo para situar leitores menos informados e ocasionais.
Mesmo assim, uma
marca incrível que foi alcançada pela revista Mônica, e que certamente
continuará firme para atingir números ainda mais impressionantes, como quem
sabe, as mil edições ininterruptas. Exagero? Mônica está aí presente desde 1970
para provar o contrário, e quem discordar que se prepare para levar umas boas
coelhadas...
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