sábado, 26 de outubro de 2019

REVISTA MÔNICA COMEMORA 600 EDIÇÕES


O mês de outubro deste ano marca um número a ser comemorado no mercado nacional de quadrinhos: a revista Mônica, produzida por Mauricio de Sousa, atingiu o incrível número de 600 edições publicadas no Brasil. Um número de respeito. Pode parecer pouco, diante das mais de duas mil edições publicadas de Pato Donald ou Zé Carioca, ou os mais de 600 números da revista Tio Patinhas, ou as mais de 900 edições de Mickey, títulos Disney publicados durante várias décadas pela editora Abril, mas é preciso salientar que os títulos Disney mencionados, apesar de estarem sendo publicados atualmente no Brasil, agora pela Editora Culturama, sofreram uma interrupção de publicação, desde julho do ano passado, quando a Abril resolveu cancelar toda a sua linha de quadrinhos Disney, que publicava há 68 anos ininterruptos.
A revista da Mônica, por outro lado, apesar de já se encontrar em sua terceira editora, a Panini Comics, vem sendo lançada regularmente desde que a primeira edição foi publicada, em maio de 1970, então pela Editora Abril, e desde então nunca mais parou, estando presente todos os meses nas bancas de todo o país, ajudando seu criador, Mauricio de Sousa, a criar um verdadeiro universo de personagens e um império empresarial como poucos no ramo.
A revista atualmente encontra-se em sua segunda série na Panini, estando na edição Nº 54. Foram 200 edições publicadas pela Editora Abril, desde 1970, até o fim de 1986, quando a revista, assim como as demais publicações de Mauricio de Sousa também foram encerradas pela editora paulista. Mas no mês seguinte, abrindo o ano de 1987, eis que Mônica continuava nas bancas, agora pela Editora Globo, novo nome assumido pela antiga Rio Gráfica e Editora – RGE. E com a Mônica vieram também todas as outras publicações, dando continuidade ao entretenimento trazido pelos personagens a milhões de leitores por todo o país.
Na nova casa, Mônica chegou a 246 edições, tendo sua publicação também encerrada pela Globo ao fim de 2006. E, assim como ocorrera na transição anterior, no mês seguinte, Mônica, e todas as demais revistas de Mauricio estreavam em sua nova, e até o presente momento, atual editora, a Panini. Numa decisão controversa, a numeração da revista acabou resetada em 2015, recomeçando do zero, após 101 números, de modo que, ao somarmos todas as revistas, a edição 54 da segunda série em publicação pela Panini atinge a marca de 600 edições publicadas até hoje no Brasil, número que é impressionante, ainda mais se levarmos em conta os percalços editoriais de nosso país, em sua história, e não apenas o momento atual delicado de nossa economia.
Aliás, é preciso respeitar ainda mais a força da Mônica no mercado editorial nacional. Com tiragens das revistas que hoje parecem ínfimas, se comparadas aos números de vendas alcançados por várias publicações nacionais nos anos 1980 e 1990, Mônica continua um caso à parte do mercado brasileiro, com vendas impressionantes que superam os 100 mil exemplares com relativa facilidade, façanha que se estende também às demais publicações de Mauricio de Sousa, tornando o antigo desenhista e atual empresário em um caso único de sucesso e longevidade no mercado nacional de quadrinhos, que já viu publicações de diversos outros personagens criados por artistas nacionais, mas nenhum deles tendo obtido o mesmo sucesso de Mauricio.
Um sucesso que veio depois de muito trabalho e persistência, quando Mauricio, ainda jovem, começou a dar seus primeiros rabiscos profissionais como repórter policial, nos anos 1950. Só em 1959, Mauricio conseguiria lançar profissionalmente seu primeiro personagem, o cãozinho Bidu, em tiras de jornal, partindo dali em diante para a criação de vários outros personagens, como o Cebolinha, e depois aquela que viria a ser a mais famosa de todas as personagens criadas por ele, a Mônica, uma menina dentucinha e meio mal-humorada que conquistaria os leitores. Mauricio até tentou publicar suas primeiras revistas ainda nos anos 1960, mas a falta de uma estrutura adequada para produção das histórias na quantidade necessária para bancar uma publicação fizeram a empreitada naufragar. O artista passaria os anos seguintes dedicando-se a criar essa estrutura, criando um estúdio que pudesse produzir as histórias em um ritmo e qualidade profissional adequados para serem publicados nas exigências do mercado editorial, além de continuar a produzir as tiras de jornal que iam fazendo seus personagens serem conhecidos cada vez mais pelo público.
E assim, em maio de 1970, Mônica Nº 1 chegava às bancas nacionais, trazendo várias histórias com os mais diversos personagens criados por Mauricio. Com uma tiragem inicial de cerca de 200 mil exemplares, Mônica foi um sucesso de vendas, a ponto de, algum tempo depois, ganhar a companhia de outro título, Cebolinha, que seria a segunda revista publicada por Mauricio, ajudando a incrementar ainda mais as vendas. Era o início de uma grande história de sucesso dos quadrinhos nacionais. Mauricio, a partir dali, combinaria seu talento artístico criando vários outros personagens, além de expandi-los para outras mídias, ganhando novas revistas, inúmeros produtos licenciados, e tendo seus personagens publicados em diversos outros países mundo afora. O pequeno estúdio montado por Mauricio para ajudar na criação das histórias foi ficando cada vez maior, agregando mais e mais funções com o crescimento do número de personagens, e o sucesso de vendas das revistas, dando origem à Mauricio de Sousa Produções, empresa que, com Mauricio à frente, gerencia o grande império empresarial criado com o sucesso obtido com seus personagens.
Um sucesso que começou com uma menina dentucinha, que dava coelhadas em seus amigos, quando estes aprontavam para cima dela, em especial um certo garoto de cabelos espetados e que falava “elado”, pondo em prática seus famosos “planos infalíveis” para derrotar a Mônica, que possuía uma força incrível com a qual sempre conseguia vencer os desafios, fossem as tramas dos meninos, fossem os planos de algum vilão malvado no pedaço, como o famigerado Capitão Feio. Nos anos 1980, com o aumento do sucesso, Cascão, Chico Bento e Magali também ganharam suas próprias revistas, mas a da Mônica sempre permaneceu como carro-chefe das publicações de Mauricio, que há alguns anos atrás, ainda lançou a versão adolescente dos personagens, com as novas revistas Turma da Mônica Jovem e Chico Bento Moço, e mais recentemente, expandiu para uma versão com a nova publicação Turma da Mônica Geração 12. Fora isso, há alguns anos, os personagens ganharam também edições especiais, no estilo álbum de luxo, com a linha Graphics MSP, com excelentes resultados tanto de vendas quanto de críticas. Outro exemplo do sucesso é o recente filme “Laços”, baseado na HQ de mesmo nome, e o primeiro filme live-action dos personagens, que em outras épocas ganharam várias animações que fizeram muito sucesso entre os fãs.
Nesta edição comemorativa de 600 números lançados, a Mônica acaba sendo sequestrada no passado por um vilão misterioso, que tem por objetivo impedir que a dentuça de chegar à 600ª edição. E, aprisionando a heroína no presente, ela não pode estar no passado, iniciando a longa caminhada para o sucesso das 600 edições de sua revista. Mas seus amigos e vários outros personagens estarão a postos para ajudá-la a superar os planos perversos do vilão, em uma trama com inúmeras referências e citações a várias outras aventuras vividas ao longo destes praticamente 50 anos de publicação da revista, que continua firme e forte como nunca, em meio ao tumultuado momento editorial nacional. A capa da revista, aliás, também faz referência à capa da primeira edição da revista. A edição também traz algumas outras histórias de outros personagens, para completar a diversão, mostrando que esta marca de 600 edições continua firme no seu intento original de entreter e divertir o leitor, seja de que idade ele for. Talvez a única falha seja a revista não possuir nenhuma matéria especial sobre a trajetória da publicação nestas 600 edições alcançadas. A única menção está na capa, e na história principal, e apesar de várias informações dadas durante o desenrolar da aventura, um texto sobre o momento de comemoração seria mais do que bem-vindo para situar leitores menos informados e ocasionais.
Mesmo assim, uma marca incrível que foi alcançada pela revista Mônica, e que certamente continuará firme para atingir números ainda mais impressionantes, como quem sabe, as mil edições ininterruptas. Exagero? Mônica está aí presente desde 1970 para provar o contrário, e quem discordar que se prepare para levar umas boas coelhadas...


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