O
seriado televisivo do Batman produzido por Willian Dozier na segunda metade da
década de 1960 foi responsável pela primeira onda de "batmania" a
varrer o mundo. O sucesso das aventuras da Dupla Dinâmica ia de vento em popa,
e a venda de produtos licenciados, bem como dos títulos de quadrinhos dos
personagens estavam nas alturas. A primeira temporada, lançada em 1966, foi um
verdadeiro arraso de audiência, mas como tudo que é bom dura pouco, durante a
segunda temporada, em 1967, o público começou a se cansar da fórmula das
aventuras, e os índices de audiência começaram a cair. Na tentativa de
realavancar a popularidade da série, foram feitas mudanças para o seu terceiro
ano, alterando a estrutura das aventuras, e introduzindo uma nova personagem, a
Batgirl, uma nova heroína para ajudar Batman e Robin a enfrentar os vilões de
Gotham City.
Com
a nova personagem estreando nos quadrinhos da DC Comics na edição 539 de
Detective Comics, pelas mãos do roteirista Gardner Fox e do desenhista Carmine
Infantino, os leitores eram apresentados a Barbara Gordon, filha de James
Gordon, o comissário de polícia de Gotham City, que após uma noite incomum onde
ajudava o milionário Bruce Wayne a escapar de um rapto, decide usar a fantasia
que havia criado para se tornar a mais nova heroína da cidade, a Batgirl, ou
Batmoça, nos quadrinhos nacionais. E, para a introdução da personagem no
seriado televisivo, Dozier contratou a atriz Yvonne Craig, que do alto de seus
trinta anos, fez cintilar os olhos dos marmanjos fãs da dupla dinâmica com seu
uniforme colante roxo brilhante, com o qual entrava em ação para auxiliar
Batman e Robin nos percalços da luta contra o crime. Infelizmente, a presença
da nova heroína não foi suficiente para salvar o seriado do cancelamento, que
chegou a seu fim após 3 temporadas e 120 episódios, em 1968. Mas a Batgirl
ganhou força para se manter firme nos gibis, estrelando novas aventuras até os
dias atuais.
Praticamente
imortalizada como Batgirl, o papel pelo qual é mais lembrada, a atriz Yvonne
Craig faleceu há poucos dias, aos 78 anos, em sua casa em Pacific Palisades,
Califórnia, vítima de um câncer de mamas que infelizmente se espalhou para
outras partes do corpo. O anúncio foi feito no site oficial da atriz no último
dia 17, e segundo sua família, ela já lutava contra o câncer há cerca de dois
anos, fato que era do conhecimento de poucos pelo estilo reservado de vida de
Yvonne. A atriz estava afastada do meio artístico nos últimos anos, fazendo
apenas alguns trabalhos esporádicos, como a dublagem da vovó na série infantil
Olivia. Muitos fãs lamentaram a morte de Craig, pelas lembranças que têm de sua
atuação como a cruzada embuçada na série do Batman dos anos 1960.
Nascida em 1937, na cidade de Taylorville, Illinois,
Yvonne começou a estudar dança aos 14 anos, e ao fim da década de 1950, começou
a trabalhar como atriz em alguns filmes e séries de TV, entre elas Perry Mason,
Xeque-Mate, Os Detetives, Viagem ao Fundo do Mar, Laramie, Dr. Kildare, O
Agente da UNCLE, Big Valley, Meu Marciano Favorito, James West, O Rei dos
Ladrões, Jornada nas Estrelas, Terra de Gigantes, O Homem de Seis Milhões de
Dólares, Justiça em Dobro, A Ilha da Fantasia, etc. No cinema, atuou ao lado de
Elvis Presley nas produções "Loiras, Morenas e Ruivas", e "Com
Caipira não se Brinca".
Por
ser bailarina, a atriz tinha boa desenvoltura para as cenas de luta, onde
enfrentava os criminosos com chutes e algumas acrobacias, uma vez que por ser
uma mulher, não pegaria bem a personagem sair na porrada com os bandidos, como
Batman e Robin faziam, ao som (ou melhor, aparição) das onomatopéias que
enchiam a tela nos momentos de luta. Fora isso, sua personagem estava longe de
ser a mocinha indefesa que era o padrão das personagens femininas na época.
Barbara Gordon, a identidade secreta da personagem, era bibliotecária, e sabia
muito bem usar a cabeça para investigar os crimes que eram perpetrados pelos
vilões, tendo plena condição de agir de forma independente da Dupla Dinâmica,
que nunca soube sua real identidade. E, se os heróis tinham o Batmóvel para se
locomover, a heroína não ficava atrás, percorrendo a cidade com sua batmoto,
com toda a destreza possível de se pensar de uma garota conduzindo uma moto
naqueles tempos. E vale lembrar que a atriz ainda fazia as cenas de ação e de
pilotagem da moto sem dublês. Por interpretar uma heroína que nada ficava a
dever aos heróis do seriado, Craig inspirou muitas garotas, mostrando que elas
também podiam ser fortes e decididas, e que podiam lutar pelos seus sonhos
tanto quanto os homens. "As mulheres me diziam que eu era um modelo a ser
seguido", declarou a atriz, em entrevista feita há alguns anos ao canal de
notícias americano CNN, mostrando como seu personagem caiu no gosto do público
feminino.
Yvonne
Craig foi casada duas vezes. Seu primeiro casamento foi ainda nos anos 1960,
com o cantor Jimmy Boyd, que durou apenas dois anos; em 1988, casou com Kenneth
Aldrich, um promotor público que já conhecia há anos, e com quem ainda vivia
até sua morte. Como Batgirl, Yvonne deu vida à primeira super-heroína numa
produção de TV, que conheceria alguns anos depois a Mulher-Maravilha, estrelada
por Lynda Carter, outro personagem da DC Comics, e será eternamente lembrada
pelo seu papel como a cruzada embuçada de Gotham City, graças às inúmeras
reprises do seriado, que mesmo tendo sido cancelado em 1968, continuou sendo
exibido mundo afora de forma praticamente ininterrupta até hoje, e que no ano
passado finalmente ganhou lançamento em vídeo em Blu-Ray e DVD nos Estados
Unidos (e apenas em DVD no Brasil, infelizmente).
Nessa época os artistas de seriados para tv tinham um charme e um carisma especial; encantavam o público com extrema cumplicidade em suas atuações. Realmente havia a interação a qual o expectador se imaginava, se colocava na forma de se expressar de seu ídolo. Embora com muitas barreiras da censura, havia muita criatividade para burla-la, assim o ator se desdobra para passar o momento e interpretava envolvendo o público como seu cúmplice. Yvonne era dessa geração, a qual fez trabalhos memoráveis e que farão parte da memória de uns sobreviventes e conquistará outros novos que por certo gostarão de viajar no tempo das aventuras fantásticas e porque não, pueris de tempos mais simples e despretensiosos.
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